CAPÍTULO
NOVE
Alana estava melhorando aos poucos e
já conseguia dizer algumas frases, sem precisar parar para tossir. Treinou
durante uma semana para sua apresentação. Era o primeiro vídeo que ela fazia
para o youtube e sua expectativa era muito grande.
A
convalescente ainda ficava muito tempo dentro do seu quarto, a fraqueza
estabelecida durante o tempo de sua internação, custava a ser vencida. Mesmo
tendo uma alimentação balanceada e farta, não tinha apetite. Os alimentos não
tinham gosto de nada, parecia que eram pastas insossas.
Passava grande parte do tempo
deitada, sentia-se muito cansada aos menores esforços realizados. O médico
disse que poderia demorar bastante, para a paciente se recuperar; seu caso fora
muito grave.
O técnico em informática a ensinou
a mexer com o sistema da internet e, ela passou dias construindo um projeto. Em
outros dias, Alana esteve aprendendo como criar, editar e postar vídeos no
youtube. Queria esclarecer as pessoas sobre o Coronavírus, do ponto de vista de
uma paciente.
O primeiro vídeo seria sobre os três
dias anteriores a sua intubação, pois durante os dez dias em que ela esteve
sedada, não se lembrava de nada. Era um intervalo sem lembranças em sua vida,
poderia ter morrido, que não saberia ou sentiria qualquer coisa. Aqueles dias
faziam parte do grande mistério, que envolve a eternidade.
As gravações foram feitas aos
poucos, por isso o vídeo teria que ser editado. A nova youtuber parou, muitas
vezes, para descansar, era um esforço desgastante. Respirava fundo e depois de
tomar fôlego, continuava. Foram horas de gravação, para completar o roteiro.
Saulo contratou um webmaster para assessorar sua esposa, ele queria ajuda-la em
sua recuperação; a amava e queria fazê-la voltar a se ocupar de coisas
úteis.
Alana abriu a apresentação de
dentro do seu quarto e foi logo dizendo, que o propósito daquele vídeo era o de
ajudar as pessoas. Queria esclarecer fatos sobre a tão terrível doença. Assim,
seu relato começou:
- A última vez que saí da minha casa,
foi para fazer compras no mercado, acompanhada da minha secretária do lar. Não
tivemos nenhuma intercorrência relevante, que pudesse explicar o fato de eu ter
pegado o Covid 19.
- Depois dos acontecimentos, nós, eu
e a Vanda, nos lembramos que, dias antes, estivemos na manicure. Lá havia uma
cliente que estava com gripe, segundo informações dela própria. Conversamos
durante a espera do atendimento, possivelmente tratava-se de Coronavirus, mas
nunca saberemos. Não sei o nome dela e muito menos o endereço, era uma freguesa
ocasional do salão de beleza, esclareceu a dona do estabelecimento.
- Também não importa de onde veio o
vírus, mesmo porque o médico disse que poderia ter vindo de qualquer lugar, até
de uma correspondência do correio, ou no próprio mercado, uma vez que ele está
no ar e é altamente transmissível.
- À noite, que precedeu a minha ida
ao hospital, foi a mais terrível possível. Dores no corpo, febre, diarreia, dor
de cabeça e falta de ar foram os motivos da minha internação. Nos dias seguintes, apesar de tomar uma porção
de remédios na veia, eu só piorava.
- A falta de ar era insuportável e o esforço para aspirar o oxigênio era
enorme, parecia sufocar. No terceiro dia, eu pensei que iria morrer, estava
ofegante e com muita febre; não conseguia deitar, tamanha era a dor nas costas,
ficava sentada na cama.
- Nesse dia, eu ouvi o médico dizer
para a enfermeira, que tinha vagado um respirador e que ela deveria me preparar
para o mesmo. Não poderiam esperar mais, ou iriam me perder.
– Eu estava tão mal, que não
entendi o que eles disseram. Qualquer coisa para que eu pudesse respirar, seria
bem-vinda.
Então, seus olhos se encheram de
lágrimas, a emoção tomou conta de sua voz. Ela respirou fundo para terminar o
vídeo e agradeceu a todos que assistiam.
E no final, disse que continuaria o
relato no próximo vídeo, a emoção a fez parar por ali.