MOSTRAR VISUALIZAÇÕES DE PÁGINAS

sexta-feira, 9 de junho de 2017

"É CLARO QUE A CULPA É SUA, POIS FOI O SEU ABRAÇO, QUE TIROU A GRAÇA DE TODOS OS OUTROS" AUTOR DESCONHECIDO

RECOLHENDO OS CACOS
CAPÍTULO TRÊS
Dentro daqueles braços ele sentia-se seguro e desabou a chorar; precisava do colo da amiga. Uma amizade recente, mas nascida da solidariedade e muito importante para ambos. A moça estava ali para lhe dar o que ele mais precisava naquele momento, carinho e silêncio. Jardel tinha um nó na garganta e não conseguia falar nada; estava tomado pela emoção.

Dirigiu seu automóvel entre lágrimas e vez ou outra um soluço era sentido; o único som humano que havia ali. Nenhuma palavra foi dita durante o trajeto; era desnecessário. Quando chegaram a sua casa, que estava fechada, ele pediu que Larissa entrasse com ele. Ela concordou, não poderia deixa-lo sozinho naquele momento.

O rapaz, desfigurado pela dor que trazia na alma, jogou-se no sofá; estava exausto. Ela olhou ao redor e sentiu pena de tudo aquilo. Uma casa nova, bem arrumada, cheia de poeira e com jeito de abandono. Um lar destruído pela doença; perdera a função, era apenas uma casa.

Enquanto ela foi até a cozinha e olhou a geladeira para ver se havia algum alimento para servir ao amigo, Jardel adormeceu, as emoções foram muitas. Não havia quase nada para comer naquele local e ela se preocupou em comprar alguma coisa para ele comer quando acordasse. Saiu sem fazer barulho e voltou rapidamente, pois, havia uma padaria na esquina da casa de Jardel.

O telefone tocou e ela ficou sem saber se iria atender ou não; finalmente resolveu atender. Era a mãe do rapaz, queria saber como estava e convidá-lo para jantar. Ela se apresentou como uma amiga e disse que ele adormecera. Iria fazer alguma coisa para ele comer quando acordasse e depois voltaria ao Hospital ver o filho, que estava internado se recuperando da cirurgia. A mãe agradeceu e disse que ele já havia falado do caso do filho dela durante o velório e contando do apoio recebido.

                Larissa comprou pães, frios e fez café; preparou a mesa para quando Jardel acordasse. Deixou um bilhete dizendo que estaria no Hospital caso precisasse dela. Ajeitou um cobertor sobre ele, apagou as luzes, saiu e jogou as chaves por debaixo da porta.

                  O cansaço era grande e Jardel dormiu sem se movimentar. Acordou quando o Sol bateu em seu rosto pela fresta da vidraça. De um pulo, sentou-se no sofá, então, a realidade surgiu nua, trazendo todo aquele sofrimento de volta. Estava tudo acabado, sua esposa se fora e agora ele tinha uma filha para criar e muitos cacos para recolher. 
   
          Sentiu-se sujo, ainda estava com as roupas do dia anterior e lembrou-se do cemitério e de sua caminhada até o túmulo, onde o corpo de Lídia ficara enterrado. Pensou na filha, que estava com a avó e desejou que estivesse bem; outra hora iria ver a menina. Agora precisava tomar um banho, comer alguma coisa, seu estômago estava vazio e dolorido. Em seguida levantou-se, olhou e viu o bilhete, a mesa posta e sorriu, alguém pensara nele.

Lembrou-se de Larissa e do abraço que recebera, depois iria até o Hospital para saber do menino. A moça lhe inspirava carinho, havia um sentimento bom crescendo em relação a ela. No entanto, precisava recolher os cacos de sua vida antes de qualquer outra coisa.

 Um texto de Eva Ibrahim
MEU MUNDO REINVENTADO.

UM BLOG PARA POSTAR CONTOS CURTOS E EM CAPÍTULOS.