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quarta-feira, 25 de novembro de 2020

"ESTÃO VOLTANDO AS FLORES" - EMÍLIO SANTIAGO- " VÊ, ESTÃO VOLTANDO AS FLORES, VÊ, NESSA MANHÃ TÃO LINDA! VÊ, COMO É BONITA A VIDA, VÊ, HÁ ESPERANÇA AINDA. (...)"COMPOSITOR: PAULO SOLEDADE

                            A ÁRVORE DA VIDA

MEU FLAMBOYANT

CAPÍTULO UM

                  O dia amanheceu cinzento, com nuvens pesadas rondando a cidade, era um prenúncio de muita chuva. Aquele clima pesado influenciava no humor da maioria das pessoas, deixando-as deprimidas. Era a semana do Natal e nada deixava Laura motivada para as comemorações.

                 - Se ao menos tivesse um Sol brilhante! Ela pensou desanimada.

               O ano fora difícil para todos, muitos perderam seus entes queridos; ela perdeu uma amiga e vizinha. Nunca imaginou que Olga fosse para outro plano tão cedo. Num piscar de olhos, a moça adoeceu e faleceu, ainda é difícil acreditar. Por tudo isso ela andava desanimada, não queria fazer nada naquele final de ano.

             Era segunda-feira da semana do Natal e ela levantou-se bem cedo, precisava sair para fazer umas compras e depois passar na Igreja. Como de costume, Laura queria pegar o folheto do programa das festas natalinas. Gostava de frequentar a igreja e principalmente a Missa do Galo. Deixava tudo pronto em sua casa e quando voltava da celebração, fazia a ceia com todos da família.

           No entanto, esse foi um ano complicado, a pandemia do Corona vírus pegou a todos de surpresa e continua influenciando a vida da humanidade em geral. A maioria das comemorações públicas estão suspensas e cada família irá comemorar na privacidade de seus lares, com cuidados especiais.

            Saiu da igreja com algumas sacolas das compras nas mãos e o folheto desejado, estava cansada e resolveu sentar-se no banco da praça, queria tomar fôlego.

            – A idade está pesando, já não consigo fazer caminhadas sem sentir cansaço. Pensou com tristeza.

           Era uma senhora com mais de setenta anos e sofria de nostalgia. Passou meses confinada, os filhos e netos a evitavam, pois fazia parte do grupo de risco, ao qual foi imposta uma solidão forçada. No último mês, os governantes abriram o comércio e diminuíram as restrições, então, o tal grupo de risco voltou a ter um pouco de liberdade. Assim, Laura retornou a seus afazeres rotineiros.

             Ali, debaixo da árvore, havia uma sombra gostosa, podia-se ouvir o barulho dos pássaros e o farfalhar das folhas ao sabor da brisa, que roçava seu rosto. A senhora respirou fundo, olhou para cima e viu muitas flores vermelhas em galhos pendentes. Formavam cortinas de ramas, que quase encostavam na terra.

             Olhou para o chão e viu as raízes grossas, que saíram da terra formando bancos ao redor do seu tronco. Era uma árvore idosa também, do seu grupo de risco. Bem na sua frente, havia uma procissão de formigas cortadeiras, carregando pequenos pedaços de folhas de uma roseira do jardim. Não conseguiu avistar o formigueiro, somente a longa procissão.

           – Esse é um trabalho árduo e constante, será que os filhotinhos de formigas estão preparando suas caixas para receber o presente do Papai Noel? A mulher pensou e sorriu largamente.

           Aquele fato a fez lembrar-se de quando era criança, lá nos idos de um mil novecentos e cinquenta e seis. Os belos anos dourados, onde os sonhos eram abundantes.

           O país vivia uma euforia com o início da construção da nova capital no centro oeste brasileiro. Havia muita pressa para a construção de Brasília e as notícias eram alvissareiras, o Brasil dava um grande passo à frente no após guerra. Para as crianças era permitido sonhar em um mundo restrito, sem internet, sem telefone e no qual as notícias boca a boca eram um importante meio de comunicação.

            Laura era pequena e acreditava em Papai Noel, nesse ano ela pediu ao pai uma caixa com maquiagem. Pó de arroz, batom, lápis de olhos, rímel, esmalte, fixadores de cabelos, grampos e presilhas, a lista era grande, igual aos sonhos da menina. Ela vira tudo isso na revista de sua mãe: “Jornal das moças”. Queria praticar maquiagem em suas bonecas de louça, que ganhara de sua avó.

           A menina esperava a noite de Natal ansiosamente e na véspera pegou uma caixa de sapatos, que estava guardada para a ocasião e foi até o outro lado da rua. Lá morava uma grande árvore de Flamboyant, então, a menina apanhou um galho cheio de flores, que se arrastava até o chão e o levou para sua casa.

        Desmanchou cada pétala da flor da árvore, para forrar o fundo de sua caixa, na qual o seu presente deveria ser colocado. As folhas ficaram para seu irmão forrar a caixa dele, pois ali seriam colocados os soldadinhos de chumbo, que ele tanto queria.

             Lembranças de um passado simples e bonito, no qual sua família estava reunida, acalentou seu coração. As nuvens negras se afastaram e a beleza do sentido do Natal tomou conta da sua alma. A mulher levantou-se e sorrindo fez um carinho no tronco da árvore, depois sussurrou baixinho:

              - Meu Flamboyant

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa


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