UM RIO
DE LÁGRIMAS
CAPÍTULO
SEIS
Murilo dormiu tão rapidamente que o
seu celular não apagou e Lívia conseguiu mantê-lo aberto. Sentada no sofá da
sala, ela podia ver o marido e ouvir seu ronco. Sentiu pena dele, era um bom
homem e muito trabalhador, mas ela teria que descobrir o que estava
acontecendo. Por que o marido a estava traindo?
-Serei eu a culpada? Onde foi que
errei? Pensou e correu um filme em sua cabeça, no entanto, não se lembrou de
nada significativo, para justificar a atitude dele.
Abriu o Messenger, depois parou
por um instante, hesitou em continuar.
- Será que irei me arrepender de
vasculhar a intimidade de Murilo?
Fez o sinal da cruz e pediu perdão
a Deus, mas teria que continuar, pois lembrou-se da moça, que vira rindo ao
lado do pai de seus filhos, então, perdeu o pudor.
Os dois se tratavam por meu
amor. A maioria das mensagens eram iniciadas por:
-Oi, meu amor, como você está hoje?
E, prosseguiam com elogios e desejos de se
encontrarem logo. A medida que ela avançava nas mensagens, seus olhos se
enchiam de lágrimas e seu coração sangrava. Lívia custava a acreditar, que
estava lendo as mensagens de seu marido, para outra mulher.
Havia promessas de Murilo para Raquel, de
ficarem juntos. A certa altura, ele dizia que iria se divorciar, não amava mais
sua mulher, que era ela. Naquele momento, Lívia levantou-se do sofá e abriu a
porta, parecia sufocar, precisava de ar puro.
Seu casamento estava acabado e ela tinha três
filhos para criar. Sentiu vontade de mata-lo, iria dar uma paulada na cabeça
dele enquanto dormia, assim, tudo aquilo estaria acabado. Pensou melhor, não
gostava de ver sangue e poderia não ter força suficiente para mata-lo.
Sendo assim, seria melhor envenená-lo.
- Mas onde arrumaria o veneno? Não
poderia sair por aí comprando veneno, chamaria a atenção das pessoas. Quem sabe, uma ação mais rápida seria a
solução.
- Um tiro no coração? Seria fácil,
mas ela não tinha arma e não sabia atirar.
Deu um longo suspiro, estava
pronta para morrer, não conseguiria sobreviver com aquela traição. Sentia-se
humilhada, impotente, desvalorizada pelo homem que ela amava.
Entrou e foi ao banheiro lavar seu
rosto, precisava pensar melhor.
- Não seria fácil mata-lo e também, poderia ser
presa.
- E as crianças? Ficariam sem pai e
sem mãe. Não, não, isso não.
Precisava tirar essas ideias da
cabeça, então começou a rezar. Ajoelhada no tapete da sala, implorou a Deus um
pouco de lucidez; ficou ali durante um longo tempo. Depois, cansada, esticou
seu corpo no sofá e adormeceu.
Acordou com o despertador, era
hora de se levantar. Correu e depositou o celular do marido, no lugar que ele
deixara, depois entrou no banheiro. Olhou no espelho e viu que estava com a
cara inchada de tanto chorar. Lavou o rosto com bastante água fria, precisava
disfarçar que tinha conhecimento da traição do marido.
Murilo se levantou para
trabalhar, parecia mais descansado e até se aproximou dela, para dar-lhe um
beijo. Ela o repeliu, dizendo estar resfriada. Ele saiu e ela ficou com o maior
problema de sua vida. Foi até o quarto das crianças e ficou olhando os filhos
adormecidos, eram anjos e não tinham culpa da canalhice do pai.
O Sol brilhava lá fora, quando
Lívia saiu para leva-los à escola, o que contrastava com seus sentimentos, que
eram escuros e pesados. A vizinha passou por ela e acenou com a mão, todos
pareciam alegres e tranquilos, mas ela tinha um nó na garganta. Aquele seria o
dia mais importante de sua vida, teria que tomar uma decisão, que traria muitas
consequências para todos.
Entrou em uma igreja, precisava
desabafar ou ficaria louca. Ajoelhada diante do ofertório e olhando fixamente
para a vela, que estava acesa, rezou e pediu uma luz para Jesus de Nazaré.
Ficou ali durante algum tempo, chorou um rio de lágrimas, estava muito
emocionada.
Quando Lívia se levantou, viu que havia
alguém parado olhando para ela. Era o padre Giovane, um italiano de muita idade
e olhar doce, que a chamou para conversar. Ouviu toda aquela história de mágoas
e traições; deixou que ela desabafasse e então ele disse:
- Minha filha, a traição é como um
punhal na alma de quem foi traído, no entanto, é hora de você ter uma conversa
sincera com seu marido. Depois, conforme a justificação dele, você tomará a
atitude mais conveniente. E, sorrindo ele a abraçou, depois a conduziu até a
porta da saída. Lívia respirou fundo e disse em voz alta:
- Obrigada padre, o senhor tem
razão, não dá para fugir dessa conversa. Depois, seguiu em frente, estava
triste, mas sua alma estava mais leve.
Um
texto de Eva Ibrahim Sousa