SOLIDÃO
CAPÍTULO QUINZE
Quando Celina chegou ao portão de
saída do cemitério, amparada por sua mãe, olhou para trás e viu uma calmaria
inquietadora; nem uma folha de árvore se mexia. O tempo parecia haver parado
ali, naquele silêncio assustador. A moça andou rapidamente até o automóvel de
seus pais e se jogou no assento traseiro, pois, Cesar segurava a porta aberta
para ela e a mãe entrarem. Em seguida, chorando pediu para sair logo dali;
queria sumir e apagar aquele dia de sua vida.
O trajeto até a casa de seus pais
demorou uns trinta minutos, todos em silêncio, onde só se ouvia os soluços de
Celina. A família permanecia calada, pois nada poderia minimizar a situação
vivida pela viúva. A mãe aconchegava a filha apoiada em seu peito e o pai e
irmão mantinham respeito pelo momento trágico.
Os dias se arrastavam naquela casa
e a moça ficava a maior parte do tempo dentro de seu antigo quarto. Estava
emagrecida, pálida e muito triste; fora afastada de suas funções na escola por
tempo indeterminado. Precisava se recuperar para assumir sua classe de educação
infantil. As crianças precisavam da antiga alegria de Celina e não de sua
depressão.
O traço mais comum do luto, não é
somente a depressão, mas, episódios de dor lancinante, carregados de ansiedade.
A saudade de Fernando era quase insuportável para Celina, que compareceu à
missa de sétimo dia com sentimentos de pânico, boca seca, revolta e mão
trêmula; sempre apoiada pela mãe e familiares.
No décimo dia, ela, a mãe e a sogra
foram à casa onde a moça morava com o marido, pois, precisavam resolver o que
fariam com as coisas que havia ali. A dor que começou desde o momento da
dolorosa notícia, atingiu seu ápice no momento do retorno a casa do casal. As
fotos do casal sorrindo em sua lua de mel na praia, despertaram em Celina uma
crise de dor sufocante. A sogra se pôs a chorar e a mãe da viúva tentava
mediar tanta dor.
Foi uma grande tortura mexer nas
coisas de Fernando; as três mulheres saíram arrasadas. O luto estava muito
recente e deveriam chorar seu morto até aquela angustia se esvair. Os
sentimentos de dor vinham a qualquer hora do dia ou da noite. Começava com a
respiração permeada por suspiros profundos, inquietações, dificuldades de
concentração e pensamentos relativos a perda, causando grande sofrimento.
Em seguida, vinha o sentimento de
revolta contra Deus; depois o isolamento forçado e a recusa em receber os
amigos e parentes. Celina queria viver a solidão que lhe fora imposta do seu jeito.
Então, passou a sair de casa disfarçada com roupas grandes, cabelos soltos e
óculos escuros; dizia à sua mãe que precisava caminhar para não enlouquecer.
Andava furtivamente a procura de
alguma coisa nos lugares onde estivera com o marido; queria um sinal, uma
lembrança dos momentos felizes que viveram juntos. Os dias passavam e ela nada
encontrava e num certo dia ela pensou em ir à um centro espírita, na esperança
de entrar em contato com Fernando. Entretanto, sua mãe a demoveu da ideia,
incentivando-a a procurar o Padre e se aconselhar com ele.
A viúva estava vivendo as dores do luto
recente, dissera o pároco para a mãe da moça; deveriam vigiar e ter paciência,
algum dia tudo aquilo passaria. Celina precisava daquele tempo de luto, para
poder sobreviver a tragédia que fora seu casamento.
Antes
da missa de um mês da morte de seu marido, a viúva quis ir ao cemitério e
quando pôs suas mãos sobre o mármore frio, que cobria o túmulo, ela sentiu que
ele não estava lá e saiu chorando. Naquele momento ela compreendeu que ele não
seria encontrado em nenhum lugar, apenas viveria em suas lembranças.
Um
texto de Eva Ibrahim.
Continua
na próxima semana.