MOSTRAR VISUALIZAÇÕES DE PÁGINAS

quarta-feira, 17 de junho de 2020

"VOLTA PRA MIM" "(...) SEMPRE DEPOIS DAS BRIGAS, NÓS NOS AMAMOS MUITO, DIA E NOITE A SÓS, O UNIVERSO ERA POUCO PRA NÓS. O QUE ACONTECEU PRA VOCÊ PARTIR ASSIM. SE TE FIZ ALGO ERRADO, PERDÃO! VOLTA PRA MIM". COMPOSITORES: CLEBERSON HORSTH VIEIRA DE GOUVEIA/ RICARDO GEORGES FEGHALI. BANDA "ROUPA NOVA"

ENTRE QUATRO PAREDES

CAPÍTULO OITO
             A primeira noite em sua casa foi tranquila, assim Alana definiu sua volta para casa. Ela dormiu praticamente sentada, recostada em travesseiros, mas estava em casa e isso fazia toda a diferença. Saulo ficou no quarto das crianças, que ficava ao lado do quarto do casal; ele deveria permanecer longe de sua esposa.

          O médico pediu esse afastamento, para que ela pudesse se recuperar mais rapidamente. Estava muito fragilizada e não deveria ter contato com pessoas, que estiveram na rua. Em seguida frisou:

            - Se tiver uma recaída, será gravíssimo e até fatal.

            Vanda, de máscara e luvas, limpava o quarto enquanto a paciente tomava banho e, depois de ajuda-la, saia e só voltava para deixar a comida em uma banqueta, que ficava do lado de fora da porta. A comunicação com o mundo exterior se dava por ali, abria a porta, recolhia e depois devolvia; reclusão total.

           O marido deu a sua mulher uma bengala, que deveria bater na parede, toda vez que precisasse de alguma coisa, durante a noite. E, ela também poderia fazer uma chamada no celular. Saulo dormia encostado na parede, qualquer barulho ele pulava da cama.

         Alana tinha televisão, rádio, livros e notebook para se distrair, mas não sentia vontade de mexer com essas coisas, precisava dormir, sentia-se fraca. Os primeiros dias foram de repouso e recuperação alimentar, ela dormia a maior parte do tempo, fazendo uso de oxigênio.

           Depois de uma semana, ela já estava mais forte e passou a ver TV, abrir os e-mails e folear revistas. Tudo limpo e higienizado por Vanda, que dormia na casa desde que a patroa chegara. Estava à disposição da paciente, não saia na rua para nada. Saulo se encarregava de abastecer a casa e manter as contas em dia.

          No sábado, o marido apareceu com uma novidade, uma cartinha escrita pela filha mais velha e com beijos de batom das duas meninas. Poucas palavras, que continham uma mensagem de amor:

              -“Mamãe, fique boa logo, estamos com saudades. Nós a amamos. Beijos”

             Alana chorou, estava magoada com a vida, suas filhas estavam sofrendo e ela não poderia fazer nada. O marido ouviu os soluços e falou com ela no whatsApp por um longo tempo, depois ela adormeceu, a emoção fora grande.

           No dia seguinte, a convalescente percebeu que alguma coisa havia mudado dentro dela. Estava mais sentimental, chorona e carente. O isolamento a estava deprimindo e ela precisava fazer alguma coisa, para se livrar daqueles sentimentos depressivos. Precisava lutar para sair bem daquela provação e cuidar das suas filhas.

           Alana era uma moça formada em pedagogia, mas não exercia sua profissão. O casal estava com a situação financeira controlada e ela se dedicava aos cuidados da família. Era ativa frequentadora do clube de campo, onde levava as meninas para as diversas atividades, que havia no local. Tinha compromissos todos os dias, sua vida era cheia de amigos, festas e divertimentos.

           No entanto, pegou o famigerado vírus, que a jogou numa cama e impôs uma solidão forçada. A mulher sabia que tinha inteligência suficiente para mudar aquela situação, precisava reagir. Então, passou um dia inteiro pensando no que fazer para preencher o seu tempo ocioso.

           Quando viu uma reportagem sobre pacientes internados por Covid 19, na qual a família não tinha nenhuma informação efetiva do que se passava com eles, surgiu uma ideia. Iria fazer vídeos para contar como foi pegar o Coronavírus. Contaria detalhes de tudo que passou e também de sua recuperação. Pensava em ajudar pessoas e esclarecer fatos.

               Mandou uma mensagem para Saulo comprar um tripé e uma câmera profissional, para ela gravar seus vídeos. Iria aprender como mexer nos aparelhos e como montar um canal no youtuber. Estava empolgada, era assim que ela era, guerreira até o fim.

           O marido queria ajudá-la a superar o trauma da doença e se dispôs a facilitar o seu desejo. Conhecia uma pessoa que poderia criar um canal para sua esposa e orientá-la para se iniciar como youtuber.

             Na semana seguinte, o técnico com todos os apetrechos necessários foi levado à casa de Alana. Ela estava muito feliz e o acompanhou na instalação da câmera para os testes. Começava uma nova fase em sua vida.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

MEU MUNDO REINVENTADO.

UM BLOG PARA POSTAR CONTOS CURTOS E EM CAPÍTULOS.