ENTRE QUATRO PAREDES
CAPÍTULO OITO
A primeira noite em sua casa foi
tranquila, assim Alana definiu sua volta para casa. Ela dormiu praticamente
sentada, recostada em travesseiros, mas estava em casa e isso fazia toda a
diferença. Saulo ficou no quarto das crianças, que ficava ao lado do quarto do
casal; ele deveria permanecer longe de sua esposa.
O médico pediu esse afastamento, para
que ela pudesse se recuperar mais rapidamente. Estava muito fragilizada e não
deveria ter contato com pessoas, que estiveram na rua. Em seguida frisou:
- Se tiver uma recaída, será
gravíssimo e até fatal.
Vanda, de máscara e luvas, limpava
o quarto enquanto a paciente tomava banho e, depois de ajuda-la, saia e só
voltava para deixar a comida em uma banqueta, que ficava do lado de fora da
porta. A comunicação com o mundo exterior se dava por ali, abria a porta,
recolhia e depois devolvia; reclusão total.
O marido deu a sua mulher uma
bengala, que deveria bater na parede, toda vez que precisasse de alguma coisa,
durante a noite. E, ela também poderia fazer uma chamada no celular. Saulo dormia
encostado na parede, qualquer barulho ele pulava da cama.
Alana tinha televisão, rádio, livros
e notebook para se distrair, mas não sentia vontade de mexer com essas coisas,
precisava dormir, sentia-se fraca. Os primeiros dias foram de repouso e
recuperação alimentar, ela dormia a maior parte do tempo, fazendo uso de
oxigênio.
Depois de uma semana, ela já estava
mais forte e passou a ver TV, abrir os e-mails e folear revistas. Tudo limpo e
higienizado por Vanda, que dormia na casa desde que a patroa chegara. Estava à
disposição da paciente, não saia na rua para nada. Saulo se encarregava de
abastecer a casa e manter as contas em dia.
No sábado, o marido apareceu com uma
novidade, uma cartinha escrita pela filha mais velha e com beijos de batom das
duas meninas. Poucas palavras, que continham uma mensagem de amor:
-“Mamãe, fique boa logo, estamos
com saudades. Nós a amamos. Beijos”
Alana chorou, estava magoada com a
vida, suas filhas estavam sofrendo e ela não poderia fazer nada. O marido ouviu
os soluços e falou com ela no whatsApp por um longo tempo, depois ela
adormeceu, a emoção fora grande.
No dia seguinte, a convalescente percebeu
que alguma coisa havia mudado dentro dela. Estava mais sentimental, chorona e
carente. O isolamento a estava deprimindo e ela precisava fazer alguma coisa,
para se livrar daqueles sentimentos depressivos. Precisava lutar para sair bem
daquela provação e cuidar das suas filhas.
Alana era uma moça formada em
pedagogia, mas não exercia sua profissão. O casal estava com a situação
financeira controlada e ela se dedicava aos cuidados da família. Era ativa
frequentadora do clube de campo, onde levava as meninas para as diversas
atividades, que havia no local. Tinha compromissos todos os dias, sua vida era cheia
de amigos, festas e divertimentos.
No entanto, pegou o famigerado
vírus, que a jogou numa cama e impôs uma solidão forçada. A mulher sabia que
tinha inteligência suficiente para mudar aquela situação, precisava reagir.
Então, passou um dia inteiro pensando no que fazer para preencher o seu tempo
ocioso.
Quando viu uma reportagem sobre
pacientes internados por Covid 19, na qual a família não tinha nenhuma
informação efetiva do que se passava com eles, surgiu uma ideia. Iria fazer
vídeos para contar como foi pegar o Coronavírus. Contaria detalhes de tudo que
passou e também de sua recuperação. Pensava em ajudar pessoas e esclarecer
fatos.
Mandou uma mensagem para Saulo
comprar um tripé e uma câmera profissional, para ela gravar seus vídeos. Iria
aprender como mexer nos aparelhos e como montar um canal no youtuber. Estava
empolgada, era assim que ela era, guerreira até o fim.
O marido queria ajudá-la a superar o
trauma da doença e se dispôs a facilitar o seu desejo. Conhecia uma pessoa que
poderia criar um canal para sua esposa e orientá-la para se iniciar como
youtuber.
Na semana seguinte, o técnico com
todos os apetrechos necessários foi levado à casa de Alana. Ela estava muito
feliz e o acompanhou na instalação da câmera para os testes. Começava uma nova
fase em sua vida.
Um
texto de Eva Ibrahim Sousa