AMOR
MADURO
CAPÍTULO
SEIS
Benjamim fora casado durante vinte e três anos. Era muito jovem quando
assumiu o compromisso, tinha somente vinte anos e foi forçado a se casar. Um
casamento arranjado por seu pai e um amigo; queriam unir as duas famílias. Atitude
comum naquela região; os pais arranjavam os casamentos dos filhos, sem lhes
consultar.
Ele somente conheceu a noiva na
hora da celebração do casamento. Ela era bonita, mas muito tímida; uma moça
recatada e obediente. Ambos agiram mecanicamente no altar e na noite de
núpcias; fizeram o que esperavam que fizessem. Ninguém falou em amor, apenas
obedeceram aos pais. Seguiram os rituais e costumes de sua religião,
tornando-se marido e mulher de fato.
Zarife era uma mulher quieta,
introspectiva e servil. Tratava seu marido com respeito e estava sempre a
postos para servi-lo. Benjamim estava acostumado a ser obedecido e até gostava
que a esposa fosse assim. Era um homem dedicado ao trabalho, a religião e à
família. Todos diziam que era muito inteligente e tinha um belo futuro no
exército do seu país.
Tiveram a primeira filha e quando
esta tinha um ano encomendaram outro filho; o jovem oficial queria um menino
para seguir seus passos. No entanto, nasceu outra menina e Zarife quase morreu,
perdeu o útero por conta de uma hemorragia difícil de estancar.
Depois
deste fato a sua esposa nunca mais foi a mesma, estava sempre doente e
resignada ao seu destino. Criou as duas meninas e quando elas se casaram,
respirou aliviada; sua missão estava cumprida. Em seguida, entrou em depressão e
foi definhando até que a morte a levou silenciosamente, enquanto dormia.
Essa era a história do casamento de Benjamim,
que pouco conhecia de amor, carinho ou trocas de sentimentos. Fora fiel e
cumpriu com suas obrigações, mas agora, depois de dez anos de viuvez, estava
apaixonado. Um amor maduro que viera na ordem inversa das coisas, porém,
intenso e profundo.
Benjamim
passava os dias pensando em Eloisa, sonhava com ela e seu futuro era projetado
ao lado dela. Se ele não a tivesse, então não queria mais ninguém. E, assim os
dias passavam sem que o general encontrasse uma saída para se casar com Eloisa.
A
moça tentou abandoná-lo, pois não poderia esperar ele se aposentar para ficar
ao seu lado. No entanto, ele insistia, chorava, pedia e ela acabava cedendo aos
seus apelos. Então, ele prometia uma solução para o caso deles. Tentou
encontrar uma saída, mas as leis de seu país eram rígidas e não havia nenhuma
brecha para o amor de uma estrangeira.
Ele
só poderia deixar o país em missão oficial e retornar em seguida, não haveria
tempo para namoros ou passeios turísticos. Certa manhã, ele vislumbrou uma
pequena possibilidade de vir ao Brasil. Participou de uma reunião onde estava
em pauta a segurança dos atletas que viajariam para o Rio de Janeiro; iriam
representar seu país nos jogos olímpicos.
Então,
ele começou a planejar para ver sua amada. Seu coração disparou e demorou para
se acalmar, era uma possibilidade, apesar de tênue.
As Olímpíadas ocorreriam no Brasil e havia
alguns atletas de seu país que participariam dos jogos. O governo estava
preocupado com a segurança desses atletas e, ele poderia fazer parte da
segurança da comitiva à paisana. Benjamim ficou exultante, ele iria se
encontrar com Eloisa.
Um texto de Eva
Ibrahim