FERRUGEM,
O AMIGO
CAPÍTULO
QUATRO
Clara pediu férias do seu trabalho
para cuidar da filha, que estava em recuperação após a tentativa de suicídio.
Valentina se encontrava em um estado lastimável, precisava da mãe perto dela o
tempo todo. A situação era grave e Clara temia que a menina cometesse outra
loucura. Levantava-se várias vezes durante a noite, para ir ver se a filha
estava bem.
O pai tentava, todas as noites,
conversar com Valentina, porém ela apenas respondia com monossílabos evasivos.
Foi, então, levada ao psicólogo, que não conseguiu grande coisa também; ela
ouvia e não dava retorno. Demonstrava um desânimo total perante à vida,
situação preocupante em uma adolescente. Parecia estar sofrendo de uma dor
profunda. Sendo, posteriormente, encaminhada ao psiquiatra para ser acompanhada
e medicada.
Os dias foram passando e Valentina voltou
a comer desesperadamente, retomando a sua rotina; parecia estar em seu estado
normal. Na escola arrumou um amigo, que tinha o apelido de “Ferrugem”, era um
menino desengonçado de cabelos vermelhos. No entanto, era ele que conseguia
tirar sorrisos da menina. Seu relacionamento com a família era péssimo, falava
somente o necessário.
Clara e Rui não gostavam de ver a filha
andando com um menino desleixado, mas o Ferrugem era o único que conseguia
conversar com Valentina. Ele deveria saber todos os motivos de sua rebeldia e da
tentativa de suicídio. Precisavam conversar com o menino.
Certo dia, a menina estava na casa da
avó e Ferrugem apareceu para chama-la, então, Clara o convidou para entrar e
conversar um pouco. Precisava entender o que se passava com sua menina. A
conversa foi difícil e truncada, mas esclarecedora.
-
Qual o seu nome? Perguntou Clara, que não queria chama-lo pelo apelido, que lhe
parecia desrespeitoso.
– Claudionor, respondeu o Ferrugem.
– Você gosta de Valentina?
– Sim, é minha amiga. Então, me ajuda a
entender a minha filha por favor, implorou a mulher desesperada.
O
menino abaixou a cabeça, era tímido e queria fugir dali.
- Não sei nada da vida dela, gaguejou o
Claudionor.
- Valentina lhe contou o motivo que a
fez tentar acabar com a própria vida? Me responda para eu poder ajuda-la; é
muito importante eu saber o que a aflige.
O
menino olhou para a mãe da amiga e sentiu que ela estava muito preocupada e
resolveu falar.
– Valentina quer morrer porque é gorda e feia.
Os irmãos dela são bonitos e o pai e a mãe gostam somente deles.
– Ela lhe disse isso?
– Sim, e que vai tentar outra vez.
Clara ficou pálida diante do menino,
que dentro de sua simplicidade demonstrava sua preocupação com a amiga.
– Não quero que ela morra, eu gosto
dela. E, duas lágrimas correram pelo rosto de Claudionor.
A mulher, comovida, tratou de pegar
um copo de suco para dar ao menino. Naquele momento, toda a aversão que sentia
por ele, transformou-se em carinho e agradecimento por perceber que ali estava
um amigo verdadeiro de Valentina.
Um
texto de Eva Ibrahim. Continua na próxima semana.