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sexta-feira, 16 de setembro de 2016

"SER AMIGO É INTERPRETAR OLHARES, ENTENDER SILÊNCIOS, PERDOAR ERROS, GUARDAR SEGREDOS, PREVENIR QUEDAS E SECAR LÁGRIMAS". PAULO FERNANDES.


FERRUGEM, O AMIGO
CAPÍTULO QUATRO
          Clara pediu férias do seu trabalho para cuidar da filha, que estava em recuperação após a tentativa de suicídio. Valentina se encontrava em um estado lastimável, precisava da mãe perto dela o tempo todo. A situação era grave e Clara temia que a menina cometesse outra loucura. Levantava-se várias vezes durante a noite, para ir ver se a filha estava bem.

          O pai tentava, todas as noites, conversar com Valentina, porém ela apenas respondia com monossílabos evasivos. Foi, então, levada ao psicólogo, que não conseguiu grande coisa também; ela ouvia e não dava retorno. Demonstrava um desânimo total perante à vida, situação preocupante em uma adolescente. Parecia estar sofrendo de uma dor profunda. Sendo, posteriormente, encaminhada ao psiquiatra para ser acompanhada e medicada.

         Os dias foram passando e Valentina voltou a comer desesperadamente, retomando a sua rotina; parecia estar em seu estado normal. Na escola arrumou um amigo, que tinha o apelido de “Ferrugem”, era um menino desengonçado de cabelos vermelhos. No entanto, era ele que conseguia tirar sorrisos da menina. Seu relacionamento com a família era péssimo, falava somente o necessário.

        Clara e Rui não gostavam de ver a filha andando com um menino desleixado, mas o Ferrugem era o único que conseguia conversar com Valentina. Ele deveria saber todos os motivos de sua rebeldia e da tentativa de suicídio. Precisavam conversar com o menino.

         Certo dia, a menina estava na casa da avó e Ferrugem apareceu para chama-la, então, Clara o convidou para entrar e conversar um pouco. Precisava entender o que se passava com sua menina. A conversa foi difícil e truncada, mas esclarecedora.

- Qual o seu nome? Perguntou Clara, que não queria chama-lo pelo apelido, que lhe parecia desrespeitoso.
 – Claudionor, respondeu o Ferrugem.
 – Você gosta de Valentina?
 – Sim, é minha amiga. Então, me ajuda a entender a minha filha por favor, implorou a mulher desesperada.
O menino abaixou a cabeça, era tímido e queria fugir dali.
 - Não sei nada da vida dela, gaguejou o Claudionor.
          - Valentina lhe contou o motivo que a fez tentar acabar com a própria vida? Me responda para eu poder ajuda-la; é muito importante eu saber o que a aflige.
         O menino olhou para a mãe da amiga e sentiu que ela estava muito preocupada e resolveu falar.
          – Valentina quer morrer porque é gorda e feia. Os irmãos dela são bonitos e o pai e a mãe gostam somente deles.   
         – Ela lhe disse isso?
          – Sim, e que vai tentar outra vez.
           Clara ficou pálida diante do menino, que dentro de sua simplicidade demonstrava sua preocupação com a amiga.
          – Não quero que ela morra, eu gosto dela. E, duas lágrimas correram pelo rosto de Claudionor.

          A mulher, comovida, tratou de pegar um copo de suco para dar ao menino. Naquele momento, toda a aversão que sentia por ele, transformou-se em carinho e agradecimento por perceber que ali estava um amigo verdadeiro de Valentina.

Um texto de Eva Ibrahim. Continua na próxima semana.
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