CÂNCER DE MAMA
CAPÍTULO
DEZENOVE
Reinaldo continuava contando, visivelmente
emocionado, o drama de Amanda. Dos exames para a biópsia foi rápido; o médico
tinha pressa em fechar um diagnóstico, pois temia o pior. Depois de alguns dias
de angustia veio o veredicto final: Câncer de Mama invasivo. Duas lágrimas
rolaram de seu rosto. Ele as enxugou com o dorso da mão; em seguida tomou um
gole de suco ou não conseguiria prosseguir. O diagnóstico soava como uma sentença
de morte, soluçou o rapaz, o que depois se confirmou.
Celina
cobriu as mãos de Reinaldo com as mãos dela em sinal de solidariedade. Na verdade,
queria abraça-lo e afagar seus cabelos, conhecia todo aquele sofrimento, então
disse:
- Chega dessas lembranças dolorosas, vamos
caminhar e falar de outros assuntos; outro dia você continua.
O rapaz concordou, estava muito
abalado, precisava de ar puro. Ainda estava fragilizado, os acontecimentos da
passagem de Amanda eram recentes; havia um buraco em seu coração. Pagou a conta
e saiu segurando a mão de Celina, que se deixou conduzir para um parque onde
havia muita gente e crianças se divertindo.
Ficaram um tempo parados contemplando
a vida e a alegria que havia lá fora. Carrinhos de pipoca, roda gigante, balões
e muitas crianças sorrindo em meio ao vai e vem das pessoas; precisavam
contemplar a vida para ter esperanças.
Em
um certo momento ele a puxou para si e aconchegou seu rosto em seu peito, alisando seus cabelos. Ela se deixou ficar; aquele parecia ser um lugar seguro
e aconchegante, de onde ela não gostaria de sair, nunca mais. A noite estava
linda e ambos caminhavam como se fossem íntimos; estavam unidos pela dor da
perda. Andaram a esmo, tomaram sorvete e riram de algumas coisas, depois foram
para casa, estavam aliviados. Entretanto, não se tocaram como namorados; ainda,
era muito cedo, traziam no peito corações partidos.
Depois
de três dias, Celina não se conteve e telefonou para Reinaldo, que ficou de
encontrá-la na saída da escola, gostava de sua companhia. Sentados no banco da
praça, o rapaz prosseguia em sua história com Amanda. Agarrada aos filhos sua
esposa chorou e depois pediu para o marido distraí-los; não queria assustá-los.
Amanda
sabia que a sua situação era delicada, entretanto, seguiria todas as orientações
médicas; queria ver os filhos crescerem. Começou, então, uma grande luta contra
o câncer. Primeiro veio a radioterapia para diminuir o nódulo e depois a
cirurgia radical com a retirada dos linfonodos. A moça perdeu uma mama e
iniciou a quimioterapia. Cada sessão do medicamento era seguida de vômitos e
dias de intensa fraqueza, que a fazia recusar comida. Os seus cabelos começaram
a cair e seu corpo foi perdendo massa muscular.
Em
três meses, Amanda parecia apenas uma sombra da moça bonita com quem Reinaldo
se casara. Fecharam a casa e foram para a casa da mãe dela. Rute, a mãe de
Amanda, cuidava das crianças para a filha poder descansar, pois ela passava a
maior parte do tempo deitada; não tinha ânimo para nada.
A
cicatriz cirúrgica apresentava vários pontos de necrose e infecção. A outra mama
ficou entumecida, onde abriram várias feridas, que só aumentavam, apesar dos
curativos e cuidados dos profissionais de saúde. No sexto mês, o médico foi taxativo:
- Estavam perdendo a luta para o câncer, que
era dos mais agressivos. A paciente estava piorando a olhos vistos e não
respondia ao tratamento.
Amanda
parecia uma flor murcha aninhada na cama, mal podia falar; se entregara à
doença. Reinaldo estava desesperado e procurava atender a todos os seus
desejos, pois via nos olhos da esposa que havia poucas esperanças de
restabelecimento.
Duas
lágrimas teimaram em rolar pelo seu rosto e Celina, delicadamente, as aparou com a
mão. O rapaz, comovido, segurou a mão da moça e a beijou em agradecimento.
Um
texto de Eva Ibrahim.
Continua
na próxima semana.