MOSTRAR VISUALIZAÇÕES DE PÁGINAS

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

"OBRIGADO PELAS CONVERSAS, PELA ATENÇÃO, PELOS CONSELHOS "INFALÍVEIS", PELO ELOGIO QUE SÓ VEM DE QUEM AMA E, PRINCIPALMENTE, POR TE IMPORTARES COMIGO". AUGUSTO BRANCO

OLHAI POR MIM

AS CADEIRAS CHEIAS

CAPÍTULO UM
O taxi corria pela rodovia, levava pessoas ansiosas para o encontro marcado no centro assistencial “CASA DO CARINHO”. Alceu estava acompanhado da mãe, da esposa e do irmão André. O irmão era o primogênito da família e fora o único compatível, entre todos os pesquisados, familiares e banco nacional de medula, para o transplante que salvaria a vida de Alceu.

Ele estava com linfoma em estado adiantado. Durante algumas noites o paciente delirava, estava febril e com uma fraqueza extrema. Então, sonhava que estava sendo atendido na referida casa de assistência espiritual.

 A família, em sua maioria, era católica e não conhecia a instituição. Ficaram espantados com os relatos dos sonhos de Alceu. Eles nunca ouviram falar da tal casa e nem Alceu sabia do que se tratava. Era um sonho repetitivo, que ocorria em várias noites da semana, mesmo depois de sair da crise febril.

 Ele via em seu sonho uma casa grande, pintada de branco com portas e janelas azuis, rodeada de árvores frondosas, que pareciam ser flamboyants, pois estavam carregadas de flores vermelhas. Na entrada havia um letreiro em letras grandes: “CASA DO CARINHO”.

Um homem alto, claro, de olhos azuis o esperava na porta e o recebia com um sorriso. Depois, ambos entravam em um salão amplo, cheio de pessoas atentas a uma palestra. Mas, Alceu acordava sempre na hora em que iria ouvir, o que estavam falando.

O irmão prometeu pesquisar onde ficava essa casa e, se realmente existia esse lugar, depois iria acompanha-lo até lá.

- Iremos onde quer que esteja essa casa, reiterou André, compadecido da situação do irmão.

Depois de meses internado, Alceu recebeu alta hospitalar.  Assim, a família contratou um taxi para leva-los até a instituição de assistência espiritual, que ficava a duzentos e cinquenta quilômetros de distância do hospital onde Alceu se encontrava.

Ele precisava conhecer o local e ver aquele homem de olhos azuis. Parecia ideia fixa, só pensava naquilo. O paciente, bastante debilitado, estava com uma traqueostomia, pois estivera em coma por muitos dias e ainda inspirava cuidados especiais, mas parecia feliz.

Seguiram até o veículo, estavam todos contentes, pois o irmão doente estava melhor e seria atendido pelas entidades do local. Havia uma expectativa de que Alceu seria definitivamente curado por espíritos de luz. Aqueles sonhos deveriam significar alguma coisa, que eles não entendiam; disso eles tinham certeza.

Saíram bem cedo, ainda estava escuro quando pegaram a rodovia. A palestra ocorreria as nove horas e o motorista conhecia bem a região, por isso todos estavam tranquilos.

No entanto, quando chegaram à Casa do Carinho, a palestra já havia terminado. Houve uma intercorrência, um pneu do automóvel furou e eles se atrasaram. O paciente ficou algum tempo olhando tudo por ali, já conhecia o lugar.

Todos ficaram desapontados, mas André conseguiu que o mentor do local os atendesse, porém, deveriam esperar para entrar; já havia pessoas sendo atendidas pelo mentor. Alceu, então, fez um comentário para sua esposa:

- Mesmo que tivéssemos chegado a tempo, não teria lugar para sentarmos, as cadeiras estão cheias. Será que todas estas pessoas estão aguardando outra palestra?

              Elisa, sua esposa, arregalou os olhos e respondeu:

           - Ainda tem pessoas sentadas, mas tem muitas cadeiras vazias, você não consegue ver?

              – Não mulher, as cadeiras estão todas ocupadas.

               Rosa, a mãe do rapaz, ouvindo isso ficou assustada e perguntou desconfiada:

           - Quem são as pessoas que estão sentadas nas cadeiras? Alceu respondeu calmamente:

           - Mãe, são pessoas comuns, iguais as outras, homens e mulheres vestidos de branco. Estão concentradas em oração e parecem serenas.

           As duas mulheres se entreolharam e sentiram um arrepio correr pelo corpo. Não queriam contrariar Alceu, mas as cadeiras estavam vazias.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

MEU MUNDO REINVENTADO.

UM BLOG PARA POSTAR CONTOS CURTOS E EM CAPÍTULOS.