OLHAI
POR MIM
AS
CADEIRAS CHEIAS
CAPÍTULO
UM
O
taxi corria pela rodovia, levava pessoas ansiosas para o encontro marcado no
centro assistencial “CASA DO CARINHO”. Alceu estava acompanhado da mãe, da
esposa e do irmão André. O irmão era o primogênito da família e fora o único
compatível, entre todos os pesquisados, familiares e banco nacional de medula,
para o transplante que salvaria a vida de Alceu.
Ele
estava com linfoma em estado adiantado. Durante algumas noites o paciente
delirava, estava febril e com uma fraqueza extrema. Então, sonhava que estava
sendo atendido na referida casa de assistência espiritual.
A família, em sua maioria, era católica e não
conhecia a instituição. Ficaram espantados com os relatos dos sonhos de Alceu.
Eles nunca ouviram falar da tal casa e nem Alceu sabia do que se tratava. Era
um sonho repetitivo, que ocorria em várias noites da semana, mesmo depois de
sair da crise febril.
Ele via em seu sonho uma casa grande, pintada
de branco com portas e janelas azuis, rodeada de árvores frondosas, que
pareciam ser flamboyants, pois estavam carregadas de flores vermelhas. Na
entrada havia um letreiro em letras grandes: “CASA DO CARINHO”.
Um
homem alto, claro, de olhos azuis o esperava na porta e o recebia com um
sorriso. Depois, ambos entravam em um salão amplo, cheio de pessoas atentas a
uma palestra. Mas, Alceu acordava sempre na hora em que iria ouvir, o que
estavam falando.
O
irmão prometeu pesquisar onde ficava essa casa e, se realmente existia esse
lugar, depois iria acompanha-lo até lá.
-
Iremos onde quer que esteja essa casa, reiterou André, compadecido da situação
do irmão.
Depois
de meses internado, Alceu recebeu alta hospitalar. Assim, a família contratou um taxi para leva-los
até a instituição de assistência espiritual, que ficava a duzentos e cinquenta
quilômetros de distância do hospital onde Alceu se encontrava.
Ele
precisava conhecer o local e ver aquele homem de olhos azuis. Parecia ideia
fixa, só pensava naquilo. O paciente, bastante debilitado, estava com uma
traqueostomia, pois estivera em coma por muitos dias e ainda inspirava cuidados
especiais, mas parecia feliz.
Seguiram
até o veículo, estavam todos contentes, pois o irmão doente estava melhor e seria
atendido pelas entidades do local. Havia uma expectativa de que Alceu seria
definitivamente curado por espíritos de luz. Aqueles sonhos deveriam significar
alguma coisa, que eles não entendiam; disso eles tinham certeza.
Saíram
bem cedo, ainda estava escuro quando pegaram a rodovia. A palestra ocorreria as
nove horas e o motorista conhecia bem a região, por isso todos estavam
tranquilos.
No
entanto, quando chegaram à Casa do Carinho, a palestra já havia terminado.
Houve uma intercorrência, um pneu do automóvel furou e eles se atrasaram. O
paciente ficou algum tempo olhando tudo por ali, já conhecia o lugar.
Todos
ficaram desapontados, mas André conseguiu que o mentor do local os atendesse, porém,
deveriam esperar para entrar; já havia pessoas sendo atendidas pelo mentor. Alceu,
então, fez um comentário para sua esposa:
-
Mesmo que tivéssemos chegado a tempo, não teria lugar para sentarmos, as cadeiras
estão cheias. Será que todas estas pessoas estão aguardando outra palestra?
Elisa, sua esposa, arregalou os
olhos e respondeu:
- Ainda tem pessoas sentadas, mas
tem muitas cadeiras vazias, você não consegue ver?
– Não mulher, as cadeiras estão
todas ocupadas.
Rosa, a mãe do rapaz, ouvindo isso ficou
assustada e perguntou desconfiada:
- Quem são as pessoas que estão
sentadas nas cadeiras? Alceu respondeu calmamente:
- Mãe, são pessoas comuns, iguais as
outras, homens e mulheres vestidos de branco. Estão concentradas em
oração e parecem serenas.
As duas mulheres se entreolharam e
sentiram um arrepio correr pelo corpo. Não queriam contrariar Alceu, mas as
cadeiras estavam vazias.
Um
texto de Eva Ibrahim Sousa