CORAÇÃO PARTIDO
CAPÍTULO
SEIS
Clara
sentia, em seu íntimo, que seu casamento estava chegando ao fim. Todas as
traições são precedidas de sinais, mas ninguém quer acreditar até conseguir a
prova, isto é, ver com os próprios olhos. Quando ela presenciou o beijo de
Marcos com sua secretária, seu mundo caiu; a verdade estava à vista. Depois da conversa
com o marido ela entendeu que estava só e teria que encontrar uma saída. O fato
de Marcos não parar em casa, deixar o celular desligado, dispensar aquele beijo
que dava ao chegar ou sair de casa, lhe parecia estranho, porém, talvez fosse
apenas cansaço ou preocupação com os negócios. Aos poucos foram deixando de
lado o sorriso de cumplicidade que envolvia o casal, os votos de um bom dia, ou
a tradicional pergunta:
-Como foi seu dia? Está tudo bem?
Quando
deixaram de existir era hora de tomar uma atitude, pois, são pequenos detalhes,
que comprovam uma convivência fracassada e prestes a sucumbir. Ela tornara-se
uma mulher ingênua depois de seu casamento, que acreditava ser para sempre. E,
só depois de perceber que estava perdendo o marido para outra mulher, ela
entendeu que as pessoas mudam. Estava cega ou não queria ver; agora era tarde
demais. Seu marido estava demonstrando que já não se importava com ela. Marcos
continuava ali por causa dos filhos e para manter as aparências em uma
sociedade hipócrita, que cobra posturas tradicionais para o bom relacionamento
entre empresas prósperas.
É difícil para ambos, o que quer ir e o que
quer que fique; Clara teria que tomar uma decisão. Não conseguiria prendê-lo
por muito tempo e também tinha amor próprio e não o queria por piedade. Que
ficasse com sua secretária, pelo menos, seria uma pessoa feliz; ela teria que
se virar.
A mulher sentia-se uma pessoa
covarde, pois, deveria pular em cima da moça com unhas e dentes e expulsá-la da
vida deles. Na verdade ela queria gritar, com o dedo em riste, apontado para o
marido e acusá-lo de traição. Porém, não poderia expor seus filhos a escândalos
passionais; não queria que servissem de comentários maldosos na Escola. Clara era
uma pessoa civilizada e por ora se contentaria em ser apenas uma mulher de
papel.
Havia
um vazio dentro de si, estava com sua autoestima muito baixa. O que não saia de
sua cabeça eram as mentiras, que doíam mais que a traição propriamente dita.
Ela não entendia como Marcos pode se desfazer de um amor tão completo e
maravilhoso, que para ela ainda estava presente. Ele simplesmente a descartou
para ficar com uma moça de princípios duvidosos, que destruíra seu lar sem
pensar em sua dor ou no sofrimento das crianças. É dai que vem a mágoa que
ataca o corpo e a alma, nada acalma; a vida perde o sentido.
Sair
para esquecer um pouco de sua dor é pior, pois o casal que anda de mãos dadas
ou aquele que se beija em público, faz avivar seu sentimento de rejeição. Parece
que o amor não pode ser vivido por você, está definitivamente só e triste.
Precisa aprender a viver e caminhar sozinha novamente.
Nos
dias que se seguiram havia um clima pesado entre o casal, que procurava
disfarçar para as crianças não perceberem. Entretanto, João viu o pai saindo do
quarto de hóspedes e contou para a irmã, que questionou a mãe na hora do
jantar. O pai explicou que estava com gripe forte e não queria que a mãe contraísse
a doença, por isso estava dormindo em outro quarto. Momentaneamente o assunto
fora resolvido, João concordou e mudou de assunto.
Dias
se passaram e Marcos continuava saindo e voltando tarde da noite; Clara só sossegava quando ouvia seu marido entrar. Depois chorava até pegar
no sono. Lá no fundo ela ainda tinha a esperança de que ele entrasse em seu
quarto e dissesse que aquilo tudo havia sido apenas um equívoco.
Certo
dia, ela atendeu ao telefone e era um homem do outro lado da linha pedindo para
ela avisar seu marido que o apartamento já estava pronto e que ele poderia se
mudar quando quisesse. A mulher sentou-se e empalideceu. Sara, que a estava
observando, pegou um copo de água e trouxe para ela tomar, querendo saber o que
acontecera.
Entre
lágrimas, Clara contou tudo à sua colaboradora, era a pessoa em quem poderia
confiar. Não queria aborrecer sua família, pois seu pai andava muito doente.
Seu marido iria morar com Selma, isso ficara claro para ela. Suas últimas
esperanças se esvaíram com o telefonema recebido, porém ela não daria o recado,
ele que descobrisse sozinho.
Nesse
dia ela não desceu para jantar, dizendo estar com enxaqueca, não se humilharia
mais. Depois de dois dias, seu marido chegou mais cedo e disse que queria
conversar com ela e os filhos após o jantar. Clara estremeceu, sabia do que se
tratava; ele iria sair de casa para morar com aquela vagabunda, que o tirara
dela.
Um
texto de Eva Ibrahim.
Continua
na próxima semana.