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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

"DA OBSERVAÇÃO" "NÃO TE IRRITES, POR MAIS QUE TE FIZEREM. ESTUDA A FRIO, O CORAÇÃO ALHEIO. FARÁS, ASSIM, DO MAL QUE ELES TE QUEREM, TEU MAIS AMÁVEL E SUTIL RECREIO." MÁRIO QUINTANA


           DORES E ARDORES 

             CAPÍTULO TRÊS

      As férias de Tereza, tão sonhadas, chegaram em meio a uma frente fria intensa. Setembro amanheceu gelado e chuvoso, com cara de final de inverno, que só aconteceria na terceira década do mês.

       O tempo fechado pedia aconchego e era tudo o que ela queria, curtir suas férias em casa. Levantar-se cedo, fazer café e degusta-lo em frente à televisão, assistindo o jornal da manhã. Este era um desejo que ela acalentava nos dias de sufoco no trabalho. Estar em casa sem compromisso para sair, já era motivo de satisfação para Tereza. 

      Ela tinha em mente cuidar de sua  casa limpando, organizando e descartando coisas desnecessárias. 
Esses afazeres cotidianos faziam parte de desejos antigos e  fonte de prazer para a mulher trabalhadora, que se queixava de não ter tempo para cuidar de seu lar.

        As vezes, quando fazia um esforço a mais, ela sentia -se cansada com uma sensação ruim dentro do peito. Um ardor sufocante, que pressionava a área cardíaca, deixando o braço esquerdo enfraquecido, a ponto de não poder segurar uma sacolinha com um lanche dentro. 

        Quando isso acontecia, ela precisava parar, sentar-se e esperar melhorar, o que ocorria em alguns minutos. 
Vivendo esse sufoco, a mulher procurou na internet respostas para o que estava sentindo. 

       No YouTube ela encontrou muitos vídeos descrevendo todas aquelas sensações, pressões e ardores dentro do seu peito. Os médicos cardiologistas diziam que era um quadro de Angina estável. Essa condição requer  acompanhamento médico especializado, pois ocorre em um pré infarto. 

       Tereza, então, procurou um cardiologista, que fez um eletrocardiograma e disse, que o resultado do exame estava dentro de padrões normais. 
 Assim, o médico receitou um calmante dizendo que poderia ser cansaço e nervosismo. Em seguida, com um sorriso, orientou observação e retorno se necessário. 

      A mulher voltou ao trabalho, estava relativamente bem, vez ou outra sentia aqueles ardores pressionando seu peito. Tinha a intenção de voltar ao  cardiologista, entretanto, na correria do dia a dia tentava marcar consulta no serviço de apoio de sua empresa e nada conseguia.
       Entre muitas correrias, o tempo foi passando e a vida seguindo seu curso.

      Por ser idosa do grupo de risco para o Covid dezenove, ficava  em alguns plantões no ambulatório, onde o trabalho não exigia grandes esforços físicos. 

      No entanto, nos finais de semana e feriados continuava atuando na porta de entrada, sofrendo com deveres, que não eram compatíveis com sua idade e situação de saúde. 

      Ela tentou argumentar, que por ser idosa não poderia ficar em área exposta ao Covid, inclusive fez um pedido, por escrito, de transferência de setor. Não obteve resposta, nem positiva, nem negativa. Ao questionar diziam que precisava ter laudo médico, para ter alguma mudança em seu trabalho.

      Não houve, em nenhum momento, a sensibilidade de perceber a situação ali estalecida, por algum integrante da equipe de saúde.

      Havia sofrimento em toda aquela situação e ao invés de tomarem alguma providência, resolveram dar o restante das férias da funcionária. 

      Dessa maneira parecia que o problema estaria resolvido. Só que não, a história estava apenas começando. 

Um texto de Eva Ibrahim Sousa 

 
MEU MUNDO REINVENTADO.

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