VOCÊ, É MEU AMOR
CAPÍTULO SETE
Seu marido acordou e sorriu, estava
melhor e cheio de amor para dar. Celina e Fernando, pela primeira vez após o
casamento estavam sós e centrados na realidade. Era a manhã de quinta-feira e
ainda não haviam se amado nem uma vez, entretanto havia chegado a hora; estavam
sedentos de amor.
Se amaram na cama, no banho, no sofá
e depois saíram para fazer compras para o almoço; aquele dia seria inteiramente
deles, precisavam recuperar o tempo perdido. Passaram grande parte do dia
curtindo a casa nova e vendo televisão, parecia que a doença que acometera
Fernando, os havia abandonado.
Depois do café da tarde, o rapaz se
dizia sonolento e foi para a cama; iria tirar uma soneca. Celina havia
percebido que seu marido estava estranho, se esquecendo de algumas coisas
importantes; parecia distante. Porém, afastou
aquela sombra, queria pensar em coisas boas. E, quando terminou de arrumar a casa
foi se aconchegar ao marido, estava contente. Ficou juntinho de Fernando e
também cochilou.
Subitamente ela acordou; Fernando
espumava pela boca, fazia movimentos repetitivos e involuntários; ele estava
convulsionando. Deu um salto e pegou o telefone para chamar a ambulância do
Hospital, depois ligou para sua mãe desesperada; precisava de ajuda. Seus pais
e a ambulância chegaram juntos; Fernando e Celina foram levados na ambulância,
enquanto os pais dela seguiam o veículo; a filha precisava deles.
O rapaz foi atendido prontamente e com
uma injeção na veia se acalmou, caindo em um sono profundo. O médico que o
atendeu estava muito preocupado e reservadamente chamou a esposa, que foi
atende-lo acompanhada dos pais.
O médico começou a
falar que o paciente ficaria internado, pois, deveria ser submetido a uma
porção de exames para fechar o diagnóstico e ajustar as medicações. Celina
começou a chorar abraçada à sua mãe; estava desconsolada.
Em seguida ele
passou a explicar sua conduta. Pausadamente, o médico dizia para a família que:
- Fernando estava
apenas iniciando um longo tratamento. Precisavam descartar doenças neurológicas
agudas e excluir causas potencialmente fatais, como síncope cardíaca.
Posteriormente, será encaminhado ao ambulatório onde a abordagem é direcionada
a confirmação do diagnóstico e o seguimento tem um tratamento individualizado.
O paciente será submetido a um exame
neurológico completo e assistido por um especialista; ele é muito jovem e
deverá receber toda a atenção possível. A presença de déficits neurológicos
focais pode demonstrar a lesão responsável pelas crises. Queixas de falta de
memória são comuns em pacientes epiléticos e podem estar relacionadas a
descontrole das crises, efeitos das medicações, alterações psiquiátricas
associadas e alteração estrutural. Os exames adequados podem evidenciar as
hipóteses diagnósticas e assim teremos a certeza do tratamento a ser conduzido
pelo ambulatório de neurologia, concluiu o médico de plantão.
Celina ouvia tudo aquilo entre soluços
sufocados no peito de sua mãe. Tivera apenas um dia de felicidade e estava
novamente mergulhada naquele mar de incertezas. O médico saiu, ela se aproximou
do marido e baixinho sussurrou em seu ouvido:
-
Você é meu amor. Enquanto isso, duas lágrimas rolavam pelo seu rosto, já
vermelho de tanto chorar. Fernando não se mexeu, entretanto, para ela bastava
sua presença para amenizar a dor que trazia dentro do peito.
Um
texto de Eva Ibrahim.
Continua
na próxima semana.