DESABAFO
CAPÍTULO VINTE E UM
Reinaldo continuou contando à Celina
todo o seu sofrimento com a morte de sua esposa. Ele ficou só e com duas
crianças para cuidar. Amava os filhos, porém, naquele momento precisava
refletir para encarar todas as responsabilidades decorrentes da nova situação.
Deixara Larissa e Vitor com a avó materna e retornou para sua casa.
Uma casa semiabandonada, sem vida e
cheia de recordações. As boas lembranças pareciam distantes, enquanto as ruins
estavam por toda parte. Uma fotografia do casal abraçado e feliz estava sobre o
aparador; o rapaz pegou a foto e por um momento fixou seu olhar no sorriso de
Amanda. Então, chorou desesperadamente; sua amada não existia mais. Sentiu-se o
mais desamparado dos homens; não havia futuro para ele, queria embebedar-se.
Abriu
a geladeira e pegou uma garrafa de vinho que estava ali fazia tempo. Em seguida
se jogou no sofá e tomou a bebida gelada, sorvendo com a boca no gargalo. Bebeu
até o último gole e depois caiu no sono ali mesmo. Estava exausto, não queria
pensar em mais nada, somente dormir e esquecer.
Reinaldo
acordou com o Sol batendo em seu rosto e com a cabeça latejando. Estava com
fome, então, levantou-se para procurar comida, cambaleou e segurando nos móveis
abriu a geladeira. Havia pouca coisa ali, pois a família ficara na casa da
sogra, desde o agravo da doença de Amanda. Tomou um pouco de água e foi tomar
banho, comeria na padaria antes de ir trabalhar.
O
banho foi para lavar sua alma, além do corpo, sentia-se sujo depois de tantos
dias passados no Hospital. Precisava respirar e tomar coragem para conversar
com os filhos sobre a partida prematura da mãe. Essa missão era de sua
responsabilidade e não queria traumatiza-los.
Foi
direto para o trabalho e a noite passaria na casa da sogra para ver os filhos. O
dia transcorreu normalmente, apesar de perceber olhares de piedade da maioria
dos funcionários da Drogaria. Entretanto, procurou se concentrar no trabalho
para não pensar em nada relacionado aos últimos acontecimentos.
Conversou
com as crianças depois do jantar, Larissa e Vitor concordaram que a mãe fora
morar com Deus e foram brincar, não entenderam a extensão da informação.
Reinaldo agradeceu a Deus, não aguentaria ver os filhos chorando. Em seguida
foi para sua casa; as crianças ficariam com a avó. Rute gostava de ter os netos
por perto, assim, não tinha tempo de pensar na morte da filha.
Era isso que ele tinha a dizer
sobre tudo que vivera nos últimos meses. Estava vivendo um dia de cada vez até
encontra-la, disse à Celina, que o ouvia atenta. E, a partir daquele dia sentiu
que, ainda havia uma esperança no ar. O rapaz, com os olhos cheios de lágrimas,
abraçou Celina.
- Tenha paciência comigo, isso
tudo vai passar, então, poderemos falar sobre nós.
Ela concordou com a cabeça,
sentia um grande carinho por ele; o seu luto já estava no final, porém,
Reinaldo ainda estava muito machucado.
Um
texto de Eva Ibrahim.
Continua
no próximo capítulo.