TEMPOS DIFÍCEIS
CAPÍTULO
DEZESSEIS
A cada dia que Celina acordava em sua
antiga cama, lhe dava a certeza de que estava irremediavelmente só. Ela
conseguia dormir, somente após tomar calmantes. Então, mergulhava num sono
profundo onde não havia lugar para seus fantasmas; vivia dopada. Muitas vezes
pensou em ir juntar-se ao marido, porém, tinha medo da ira de Deus. Não queria
causar mais sofrimento aos seus pais e temia o inferno. Motivos mais que
suficientes para continuar viva.
Um mês, dois, três e ela deveria
retornar ao trabalho. O psicólogo dissera que já era tempo de cicatrizar a
ferida e ela precisava de ocupação. A moça concordou, voltaria à escola e
tentaria agir normalmente, "afinal a vida continua", todos diziam isso; parecia
um mantra que alguém inventou para ela.
Celina tinha pensamentos
contraditórios, pois ao mesmo tempo que queria esquecer todo o sofrimento por
que passara, queria relembrar os momentos felizes e eles acabavam se
misturando. No entanto, ela não poderia simplesmente apagar tudo e recomeçar
como se nada tivesse acontecido. Aquela era a sua história de amor, referência
de sua juventude; teria que aprender a conviver com a realidade. Tornara-se uma
mulher solitária, que procurava uma saída para se conformar com a situação.
As crises de choro diminuíram,
porque ela não tinha muito tempo para tristezas; as aulas tomavam grande parte
de seus dias. O difícil era aguentar os finais de semana e feriados, quando ela
ficava em casa pensando em seu amor. Sua família tentava arrasta-la para
passeios e viagens, porém, ela se negava; dizia que estava de luto.
No
sexto mês da morte de Fernando a sogra procurou por ela para irem à missa
juntas. A mãe sentia muita saudade do filho e encomendara a missa para aliviar
um pouco sua dor. A moça concordou, ele ficaria feliz se as visse juntas.
Sentadas na segunda fila dos bancos
da Igreja, podiam ver toda a cerimônia de perto. O órgão começou a tocar e o
pároco deu início ao sermão sobre os mortos. Finalizando a pregação, referiu-se
a um caso recente em que uma jovem havia morrido de câncer. Em seguida, externando suas condolências à família, apontou para o marido que estava
na primeira fila. Era a missa de sétimo dia da morte de Amanda, em seguida ele
elencou todos os mortos que tinham a missa como intenção.
E, quando falou o nome de Fernando,
o rapaz olhou para trás e cruzou o olhar com Celina. Com os olhos marejados de
lágrimas deu um sorriso de cumplicidade; como se dissesse que ela não fora a
única a sofrer uma perda tão grande.
Ela o conhecia, mas não sabia da
doença de sua esposa e nem que ela havia morrido. A moça estava surpresa, pelo
que ela sabia eles tinham filhos.
- Reinaldo deveria estar sofrendo muito, coitado! Suspirou a moça olhando para sua sogra.
- Reinaldo deveria estar sofrendo muito, coitado! Suspirou a moça olhando para sua sogra.
Um
texto de Eva Ibrahim.
Continua
na próxima semana