ESPERANÇA
CAPÍTULO
CINCO
Clara, a partir deste dia, passou a
tratar o menino com simpatia, pois sentia que ali estava o caminho para chegar
ao coração da filha. Ferrugem era tímido, mas com o passar do tempo, parecia
mais alegre e mais solto também; passava as tardes na casa de Valentina.
Faziam a tarefa da escola e depois jogavam xadrez, dama ou baralho; vez ou
outra riam para valer.
A família estava apreensiva; o pai
procurava conversar com a filha, que nem sempre estava receptiva. Ela só se
transformava em contato com aquele menino desajeitado, que conseguia penetrar
em seu coração. Os dois se entendiam e não se largavam, mas não queriam a
companhia de ninguém. Se alguém se aproximava, eles se fechavam e saiam rapidamente.
Com
o passar dos dias, Valentina passou a apresentar uma calma estranha, que muitas
vezes parecia desinteresse por tudo ao seu redor. Não se abria para conversar
com ninguém. Havia uma nuvem pesada pairando no ar e, Clara temia que a filha
tentasse contra a própria vida novamente.
Porém,
quando o amigo chegava seus olhos brilhavam e ela saia daquele marasmo. Não
havia dúvidas de que o menino, fazia com que ela se sentisse menos triste. Os
dias passavam e Valentina apresentava altos e baixos. Ora estava alegre e
brincalhona, ora ficava trancada em seu quarto. A mãe lhe dava os remédios e
esperava ela tomar, pois temia que ela os cuspisse fora.
Era
uma situação preocupante, parecia que a paz nunca mais voltaria àquele lugar.
Havia uma ameaça permanente assustando a todos. Valentina continuava a mesma
menina relaxada e introspectiva; comia muito e agora vivia acompanhada de
Ferrugem. Clara tinha medo de proibir essa amizade e ela se revoltar; não
sabiam mais o que fazer.
Certo
dia, o menino apareceu andando de bicicleta, disse que havia ganhado de presente.
Disse que fora um tio quem lhe dera; estava feliz. No entanto, Valentina ficou
muito triste, estava gorda para pilotar uma bicicleta. Em sua casa havia duas
bicicletas, que eram de seus irmãos, mas ela não conseguia sair do lugar. Passou
a tarde toda chorando e se lamentando.
Então,
Clara propôs à filha procurar um médico para fazer um regime. E, para sua
surpresa ela concordou e ficou feliz com a possibilidade de emagrecer. Clara
lhe prometeu uma bicicleta e roupas novas se ela fizesse a dieta prescrita pelo
médico.
Pela primeira vez depois da tentativa de
suicídio, Clara sentiu que sua filha estava de volta para eles. Seu coração
pulsou forte, ainda restava uma esperança de recuperação para sua filha.
Um
texto de Eva Ibrahim.
Continua
na próxima semana.