“DE CORPO E ALMA.”
COM QUE ROUPA EU VOU?
CAPÍTULO UM
Muitas roupas jogadas sobre a cama
denunciavam que, ali havia uma pessoa indecisa ou que já aumentara seu número
de manequim. Letícia fizera quinze anos na semana anterior e estava obesa, era
um fato incontestável.
As amigas, as primas e até a avó
disseram que a menina, havia ganhado muito peso nos últimos meses. Naquele dia
ela se trancara no quarto e passara um bom tempo chorando; sua irmã mais velha
era magra e bonita e ela mais parecia um botijão de gás. Até seu pai, Agenor, comentara
com Dora, sua esposa, que a filha estava engordando muito. Depois ele sugeriu
que a levasse ao médico, para ter orientação de um regime para a filha.
A
mãe andava cismada com aquela gordura, que lhe parecia familiar; Dora tinha
seis filhos e o mais novo estava com dez meses de idade. A mulher não tinha
tempo para acompanhar as filhas, haja vista, o trabalho que ela tinha para
manter a casa.
Entretanto,
por duas vezes chamara Letícia para perguntar de suas regras e a menina
disfarçava dizendo que lavava sua roupa íntima, pois, sua mãe tinha muito
serviço. Dora não insistia, porque sua filha sempre saia acompanhada da irmã
mais velha e ela não tinha namorado, portanto, estava pensando mal da filha,
que certamente estava inocente. Leticia era uma boa menina, procurava ajudar
sua mãe e quando estava em casa olhava o bebê; gostava dele.
As
roupas da menina não serviam mais, seu abdômen era redondo e nada ficava bem
naquele corpo. Ultimamente ela andava com as camisetas de seu pai e estava
sempre comendo, tinha muita fome e sono também; dormia cedo e levantava
faminta. Letícia trabalhava como balconista de uma padaria e todos diziam que
ela se enchia de doces, por isso estava daquele tamanho.
As colegas do serviço também cochichavam
quando ela passava.
-Letícia estava ficando feia e seu corpo
cada dia mais redondo, não conseguiria arrumar namorado nunca; perdera a
vaidade. Afirmavam ironicamente.
A família de Agenor iria ao aniversário
dos filhos gêmeos da irmã de Dora e, todos prontos chamavam por Letícia, que
não conseguia encontrar uma roupa que servisse em seu corpanzil. Desesperada, a
menina pegou uma bermuda de sua mãe e uma camiseta do pai para ir com sua
família à festa. Sua roupa de passeio não entrava mais em seu corpo; forçara
tanto que o zíper quebrou.
Todos ficaram boquiabertos ao ver Letícia
vestida como uma capa de botijão de gás; os irmãos menores riram dela.
Ela retornou a casa e foi chorar no
quarto. Sua mãe entrou e a convenceu a acompanha-los à festa.
- Estar fora do peso não queria dizer que não
era bonita ou sensual. As pessoas obesas são simpáticas, alegres e bonitas, nada
as impede de serem felizes, enfatizou Dora.
Na festa, os amigos e parentes cochichavam
quando ela passava, então, a menina ficou o tempo todo sentada num canto.
Voltaram para casa com a filha muda, não dizia nenhuma palavra; estava
arrasada.
Dora chamou a filha mais velha para saber
se Letícia tinha algum namorado e a filha negou. Nunca vira nada, afirmou a
moça. A mãe carregava uma desconfiança em seu coração; alguma coisa estava
errada e ela temia o pior.
Letícia jogou-se na cama e deitada sentiu
alguma coisa mexer ali dentro de seu ventre. Foi a primeira vez que ela sentiu
aquilo; levantou-se e ficou em frente ao espelho e, espantada concluiu que
estava barriguda.
-
Será que estava grávida? Só naquele momento ela sentiu que seu segredo estava
por um fio. Há algum tempo deixara de ser a menina inocente, que todos
imaginavam. Conhecera o amor em sua plenitude. Ninguém poderia saber, teria que
falar com Clésio.
Um texto de Eva Ibrahim,
Continua na próxima semana.