COM LÁGRIMAS NOS OLHOS
CAPÍTULO QUATRO
Os dois irmãos chegaram à pizzaria e Marília deixou Celso conversando
com os funcionários do estabelecimento. Ele assumiria o comando de tudo até a
situação se resolver, por isso ele precisava conhecer o local e os
funcionários. Por sorte, Celso estava de férias e poderia ajuda-la neste
momento difícil.
Depois
das apresentações, Marília entrou em sua casa, que ficava ao lado da pizzaria.
Uma casa pequena, mas aconchegante e muito bem arrumada. Foi construída com esforço
e carinho pelo casal; um lugar onde foram felizes.
Era noite de
sexta-feira e havia bastante movimento no local, as mesas estavam cheias de gente
comendo e bebendo. A música era mantida com som alto e todos pareciam felizes.
No entanto, o coração de Marília estava sangrando, ela sentia um nó na
garganta. O que ela mais desejava naquele momento, era que seu marido estivesse
atrás daquele balcão, alegre e brincalhão como sempre.
A
mulher precisava de um banho para se livrar daquela sensação de sujeira, que a
estava entristecendo ainda mais. Entrou em embaixo do chuveiro e ficou imóvel, precisava de um momento de paz, que a vida lhe roubara nos últimos dias.
A
água tépida caia em sua cabeça, rolando pelo rosto e levando suas lágrimas para
o ralo. Ela trazia no peito uma tristeza e uma mágoa sem fim, que chegava a
doer fisicamente.
Estava revoltada com aquela situação, que para ela fora injusta com
Fernando, não se conformava em ver o marido naquela cama de hospital. Marília
nunca foi religiosa, mas era cristã e acreditava que Deus estava sempre
presente cuidando e protegendo seus filhos. Fernando era um homem bom, alegre e
brincalhão, não merecia aquilo, pensava Marília.
- Por que ele foi abatido dessa forma? Preciso entender os desígnios
desse Deus, que acreditamos ser nosso pai. Lamentou a mulher chorosa.
O
acidente aconteceu em um momento de esperanças; parecia que iriam superar a
crise econômica. A situação esteve tão ruim, que o casal pensou em fechar as
portas do estabelecimento. Mas, estavam conseguindo contornar a crise, era só
uma questão de tempo. As lágrimas teimavam em se misturar com a água do
chuveiro e ela aproveitava para lavar sua alma também.
Então,
percebeu que ela e Fernando eram muito felizes e não sabiam, nunca brigavam,
apenas se amavam. Tinham Lorenzo, que era um bom menino. Agora seu amor estava
na UTI, não tinha noção de nada e ela estava morrendo por dentro.
Marília
foi se deitar, precisava dormir e recuperar as forças, para poder voltar ao
hospital. Tinha um compromisso com a vida de Fernando, teria que ajudá-lo a se
recuperar até ficar bom novamente. Ainda bem que seu irmão estava lá para
ajudar e tomar conta de tudo, era um problema a menos para ela se preocupar.
Estava
tão cansada que adormeceu logo e, acordou assustada durante a madrugada. Então,
olhou para o lugar vazio na cama e a triste realidade voltou a atormentá-la.
Marília começou a rezar pedindo pela recuperação de Fernando e assim, ela viu o
dia nascer.
Quando
saiu do quarto, viu Celso jogado no sofá com a roupa que estava na noite
anterior. Sentiu pena dele, ela se esquecera de arrumar um lugar para ele
dormir, no quarto de Lorenzo. Fez café e colocou a mesa para quando os dois
homens acordassem. Seu filho estava no período de férias de fim de ano e
poderia ajudar na pizzaria.
Pegou o telefone e ligou para Eloisa,
queria notícias do seu marido.
–
Por favor Eloisa, preciso ter notícias de Fernando.
- Fui vê-lo, assim que cheguei, está estável, mantém o quadro. Marília,
não venha fora do horário de visitas, eles não a deixarão entrar. Foi o recado
que sua amiga lhe deu.
A visita seria somente as dezesseis horas e ela
teria o dia todo para resolver suas coisas e esperar. Saiu para fazer compras e
depois fez almoço, mas não tinha fome, então, comeu algumas colheres de arroz e
foi se arrumar para ir visitar seu marido. Mas, antes passaria na Igreja,
queria pedir pela recuperação de seu esposo, de joelhos e na casa de Deus.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa