MÃE DE
ANJO
CAPÍTULO
DOIS
Daniela
permanecia no leito da enfermaria de ginecologia. Apesar de estar tomando
medicação para aliviar as dores, as cólicas vinham com força, uma atrás da
outra. Fazia duas horas que chegaram ao hospital e a moça estava triste e
chorosa o tempo todo. Enquanto isso, Mateus tentava aliviar a situação dizendo,
que a amava muito.
O
dia amanheceu e encontrou o casal no hospital, onde Daniela estava perdendo seu
filho, que ainda não sabia o sexo. Foram horas de verdadeiro caos, ela sofria
dores em cólicas, que iam e vinham deixando-a desesperada. E num certo momento,
a dor ficou muito mais forte, insuportável mesmo. A paciente arregalou os olhos e gritou chamando a
atenção de todos. A enfermeira entrou no quarto, queria saber o que houve?
A
moça gritou novamente e alguma coisa se desprendeu de dentro dela. O feto saiu
em meio a sangue e líquido amniótico, então, as dores se acalmaram; a gestante respirou
fundo. Estava muito triste, mas livre daquelas cólicas insuportáveis.
Permanecia
uma sensação de vazio, como se tivesse ficado oca por dentro e tinha uma ferida aberta na alma. Minutos se passaram
e parecia que estava tudo bem, a paciente estava sendo cuidada pela enfermeira, enquanto o médico se aproximava; ela já conseguia respirar aliviada.
Porém, depois de algum tempo, apareceu outra
cólica enorme, que a moça se contorceu toda. Mateus ficou perplexo e disse:
-
Não pode ser, vai começar isso novamente?
Daniela gritou, em seguida ela sentiu que
outra coisa saiu de dentro dela, a placenta se desprendeu naturalmente, após uma cólica. Era uma gestante inicial e ainda
não entendia bem a situação em que estava, por isso ficou surpresa.
Trouxeram
a maca e ela foi levada para a sala cirúrgica. Depois de ser examinada
constataram que o aborto tinha sido completo, mas ainda deveria ficar em
observação, até a manhã seguinte.
Foi
um dia muito triste para o casal, que fazia planos para o casamento e contavam
com o bebê, que viria completar a vida deles.
Daniela voltou para o quarto, então ela perguntou ao
médico qual era o sexo do bebê e ele respondeu:
- O feto é muito pequeno e não é possível
saber o sexo, pense que era apenas um anjo. Anjos não tem sexo.
Lágrimas correram dos olhos de
Daniela e Mateus a abraçou dizendo:
- Você é mãe de anjo e, eu sou
pai dele também.
A noite foi relativamente
calma. A moça teve algumas dores, que foram sanadas com medicamentos. O dia amanheceu e o médico passou dando alta
para a paciente, com recomendações de repouso absoluto por alguns dias. Os dois
voltaram para a casa do Rui, estavam desolados e as férias arruinadas.
Os dias, que deveriam ser de
muito riso e alegria, tornaram-se feios e cinzentos. Mateus confirmava seu
desejo de casamento com a noiva, que dizia não ser mais necessário, poderiam
esperar mais um tempo. Ela estava de luto, era mãe de anjo, não tinha sexo e
nem nome, apenas um anjo.
O rapaz se desdobrava para
melhorar as condições psicológicas de sua noiva, que estava sentindo-se muito
infeliz. Não entendia porque perdera o bebê, que já fazia parte de sua vida.
Quando a semana terminou, o casal voltou para casa, deveriam voltar a rotina
diária. Daniela tinha uma dor latejante em seu coração, era amor de mãe frustrado.
- Eu preciso de muita oração, disse chorosa ao
entrar no carro.
– Juntos venceremos essa etapa de nossas
vidas, afirmou o rapaz, seguindo em frente.