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quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

"A FELICIDADE" (...) "A FELICIDADE DO POBRE PARECE A GRANDE ILUSÃO DO CARNAVAL. A GENTE TRABALHA O ANO INTEIRO, POR UM MOMENTO DE SONHO, PRA FAZER A FANTASIA DE REI OU DE PIRATA OU JARDINEIRA, PRA TUDO SE ACABAR NA QUARTA-FEIRA". (...) VINICIUS DE MORAES

MÃE DE ANJO

CAPÍTULO DOIS
          Daniela permanecia no leito da enfermaria de ginecologia. Apesar de estar tomando medicação para aliviar as dores, as cólicas vinham com força, uma atrás da outra. Fazia duas horas que chegaram ao hospital e a moça estava triste e chorosa o tempo todo. Enquanto isso, Mateus tentava aliviar a situação dizendo, que a amava muito.

O dia amanheceu e encontrou o casal no hospital, onde Daniela estava perdendo seu filho, que ainda não sabia o sexo. Foram horas de verdadeiro caos, ela sofria dores em cólicas, que iam e vinham deixando-a desesperada. E num certo momento, a dor ficou muito mais forte, insuportável mesmo. A paciente arregalou os olhos e gritou chamando a atenção de todos. A enfermeira entrou no quarto, queria saber o que houve?

A moça gritou novamente e alguma coisa se desprendeu de dentro dela. O feto saiu em meio a sangue e líquido amniótico, então, as dores se acalmaram; a gestante respirou fundo. Estava muito triste, mas livre daquelas cólicas insuportáveis.

Permanecia uma sensação de vazio, como se tivesse ficado oca por dentro e tinha  uma ferida aberta na alma. Minutos se passaram e parecia que estava tudo bem, a paciente estava sendo cuidada pela enfermeira, enquanto o médico se aproximava; ela já conseguia respirar aliviada.

 Porém, depois de algum tempo, apareceu outra cólica enorme, que a moça se contorceu toda. Mateus ficou perplexo e disse:

- Não pode ser, vai começar isso novamente?

Daniela gritou, em seguida ela sentiu que outra coisa saiu de dentro dela, a placenta se desprendeu naturalmente, após uma cólica. Era uma gestante inicial e ainda não entendia bem a situação em que estava, por isso ficou surpresa.

Trouxeram a maca e ela foi levada para a sala cirúrgica. Depois de ser examinada constataram que o aborto tinha sido completo, mas ainda deveria ficar em observação, até a manhã seguinte.

Foi um dia muito triste para o casal, que fazia planos para o casamento e contavam com o bebê, que viria completar a vida deles.

                 Daniela voltou para o quarto, então ela perguntou ao médico qual era o sexo do bebê e ele respondeu:

             - O feto é muito pequeno e não é possível saber o sexo, pense que era apenas um anjo. Anjos não tem sexo.

  Lágrimas correram dos olhos de Daniela e Mateus a abraçou dizendo: 
              - Você é mãe de anjo e, eu sou pai dele também.

                 A noite foi relativamente calma. A moça teve algumas dores, que foram sanadas com medicamentos. O dia amanheceu e o médico passou dando alta para a paciente, com recomendações de repouso absoluto por alguns dias. Os dois voltaram para a casa do Rui, estavam desolados e as férias arruinadas.

                 Os dias, que deveriam ser de muito riso e alegria, tornaram-se feios e cinzentos. Mateus confirmava seu desejo de casamento com a noiva, que dizia não ser mais necessário, poderiam esperar mais um tempo. Ela estava de luto, era mãe de anjo, não tinha sexo e nem nome, apenas um anjo.

                 O rapaz se desdobrava para melhorar as condições psicológicas de sua noiva, que estava sentindo-se muito infeliz. Não entendia porque perdera o bebê, que já fazia parte de sua vida. Quando a semana terminou, o casal voltou para casa, deveriam voltar a rotina diária. Daniela tinha uma dor latejante em seu coração, era amor de mãe frustrado.

              - Eu preciso de muita oração, disse chorosa ao entrar no carro.

            – Juntos venceremos essa etapa de nossas vidas,  afirmou o rapaz, seguindo em frente. 

Um texto de Eva Ibrahim Sousa 
MEU MUNDO REINVENTADO.

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