NAS
SOMBRAS
CAPÍTULO
TRÊS
Cirilo Artur ficou assustado, não poderia nem
pensar, que sua amada pudesse ficar doente; sentiu-se enjoado com aquela
possibilidade.
- Iremos ao médico, com certeza; afirmou para o
dentista.
E, no mesmo dia procurou um hospital, onde sua esposa foi atendida no Pronto Socorro e liberada em seguida:
estava, aparentemente, recuperada. O médico pediu diversos exames e marcou o retorno
da paciente para o consultório médico do convênio de Cirilo Artur.
Olívia fez todos os exames e ficou constatado que ela estava com anemia. Necessitava de medicamentos, além de um
reforço alimentar. O marido esforçava-se, para que ela tivesse a melhor
alimentação para curar sua anemia; ficara temeroso pela saúde da mulher.
Ele fazia tudo o que as pessoas de
suas relações, diziam ser adequadas para curar anemia. Comprara uma panela de
ferro para Olívia cozinhar e introduziu fígado bovino na alimentação diária do
casal. Quando sua mulher protestava ele dizia:
-Se não fizer bem, também não fará
mal.
Depois de alguns dias, Olívia
parecia bem, estava corada, disposta e com uma boa aparência. Parecia que a paz
voltara ao lar de Cirilo Artur. No entanto, depois de um mês, apareceram alguns
caroços nas axilas da moça. Além disso, apareceu também, um caroço na base do
pescoço, que cresceu e inflamou.
A moça passou dias com muita dor e só
conseguia dormir sob o efeito de analgésicos e anti-inflamatórios receitados
pelo médico. Mas, a medicação não desinflamou o abcesso e, ela precisou ser
submetida a uma incisão cirúrgica no local, com a colocação de um dreno e a
introdução de antibióticos.
Durante dias, Olívia ia fazer
curativos no pronto atendimento da clínica e sempre havia drenado muita
secreção purulenta; a infecção não estava controlada. O médico, temeroso,
percebeu que a situação estava muito complicada e resolveu encaminhá-la para um
hospital grande e com mais recursos.
A moça ficou internada para ser
submetida a outra bateria de exames; seu caso parecia ser pior do que se
poderia imaginar. Um mês inteiro tomando antibióticos e não melhorou. Diante desta situação,
Cirilo Artur pediu para o médico a transferência de sua esposa para um hospital
de referência da região, ele estava desesperado com a doença, que acometera sua esposa.
Olívia havia emagrecido cinco
quilos em um mês, estava pálida, sempre enjoada e com o estômago doendo:
- Uma situação preocupante, porém,
vamos aguardar os exames, dissera o médico que a recebeu no complexo
universitário.
Novos exames e tomografia,
ressonância magnética e uma biópsia do local do caroço supurado. Cirilo Artur
perdera o sossego, vivia do trabalho ao hospital e vice e versa, estava exausto. Olívia estava cada dia mais enfraquecida; parecia que estava sumindo aos
poucos.
Mais uma semana de espera pelo
resultado da biópsia, que era urgente, dissera o médico. E quando veio, o
diagnóstico foi fechado:
- Uma facada no peito teria doido
menos, disse Cirilo Artur para sua mãe no telefone. Depois calou-se, estava
emocionado.
- Fala meu filho, não me deixa
nesta aflição. Pediu a mãe apreensiva.
- O médico chegou com um papel na
mão e disse para mim e Olívia, que as notícias não eram boas. Em seguida, olhando
para Olívia e com um jeito sério, compenetrado, falou:
- Sinto muito, mas você está com
câncer nos gânglios linfáticos. É um câncer agressivo, que se chama “Linfoma
Não-Rodgkin”. Faremos tudo que a ciência disponibiliza e usaremos todos os recursos que temos para combater esse mal. Inclusive a quimioterapia, radioterapia e tudo
o que for necessário; juntos venceremos essa etapa difícil, mas perfeitamente
possível. Vou marcar a quimioterapia e depois voltaremos a conversar.
- Então, ele saiu do quarto nos
deixando paralisados. Olívia agarrou-se a mim e chorou até adormecer. Eu fiquei
na mesma posição, parecia que o quarto estava cheio de sombras escuras. Sua voz
embargou e ele conteve um soluço.
- É isso mãe, minha mulher está com câncer.
Engoliu
o choro e desligou, deixando mais uma pessoa nervosa e com o coração na mão.
Um
texto de Eva Ibrahim