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quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

"PORQUE, ONDE ESTIVER O VOSSO TESOURO, ALÍ ESTARÁ TAMBÉM O VOSSO CORAÇÃO". LUCAS 12:34

BICHO DO MATO

CAPÍTULO SETE
             Os dias passavam rápido, era tempo de colheita de café na região e todos se empenhavam trabalhando na vizinhança, para arrecadar algum dinheiro extra. Era a oportunidade de fazer alguma melhoria em suas casas ou comprar alguma coisa necessária para o bem da família: roupas, calçados, material escolar e outros.

             Havia pouco dinheiro circulando e em sua maioria, os pequenos agricultores faziam trocas de mantimentos no armazém da região ou entre eles mesmos. Ali, todos faziam de tudo, apanhavam laranjas, café, algodão e na safra cortavam canas para a usina de açúcar.

 Fazia um mês que Benjamim estava internado na cidade grande e Teresa já não aguentava mais de saudades do filho. Ela vivia chorando pelos cantos, mas não queria aborrecer o marido, que trabalhava até tarde. Assim, ela evitava falar em problemas, principalmente no acidente do filho, que deixava o pai mais nervoso. Ele também tinha saudades do menino, mas era durão e disfarçava bem.

 Dirceu chegava em casa muito cansado, sempre acompanhado de Rui, seu filho mais velho. Entrava sisudo, mal olhava para a mulher, tomava banho, jantava e caia na cama, praticamente morto de canseira. A mulher não tocava no assunto, curtia sozinha seus medos e incertezas. Teresa sabia que Dirceu iria esbravejar e ela não queria irritar o marido, gerando mais problemas em sua vida.

 Quando fez quarenta dias e o seu marido chegou mais cedo em casa, ela se encheu de coragem e falou das saudades que sentia do filho. Dirceu estava de bom humor e disse que também precisava ver o menino, mas, antes de marcar viagem, iria até a vila para telefonar e ter notícias de Benjamim. No dia seguinte, o casal saiu bem cedo em direção à vila de Toledo. Precisavam obter notícias do filho.

 – O menino está bem, mas não temos previsão de alta para ele, foi o que afirmou o enfermeiro, que atendeu o pai ansioso.

            - Está bem, por favor avisa o Benjamim, que estamos mandando uma carta pelo correio, obrigada. Respondeu Dirceu.

          Teresa havia escrito uma carta para o filho e pediu para o marido passar no correio e enviar a missiva de carinho para o Benjamim. Ele precisava saber que não fora abandonado no hospital.

            Voltaram para casa com o coração aliviado, precisavam visitar o filho novamente. Seguiram sentados na carroça, no entanto, permaneceram calados, cada um vivenciando os próprios sentimentos. Eram boas pessoas vivendo um drama inesperado.

            Mais dez dias se passaram e a colheita de café acabou. Deu muito trabalho, mas rendeu um dinheiro extra para Dirceu. O homem só tinha um pensamento, telefonar para a rodoviária para assuntar sobre a partida do ônibus. Desta vez iriam os quatro, pai, mãe e os dois irmãos, queriam fazer uma surpresa para Benjamim.

            Saíram na sexta-feira de madrugada e seguiram com a carroça do vizinho até a rodoviária. E, dali para a cidade grande. Rui e Marília não se cansavam de admirar tudo o que viam em sua volta
. 
           – São dois caipiras do mato, dizia o pai em tom de brincadeira. A viagem foi alegre, iriam rever o companheiro de traquinagens.

            Chegando à cidade foram se instalar na pensão e logo após o almoço seguiram para o hospital. Quando adentraram ao quarto, o menino estava sentado na poltrona com a perna esticada sobre uma banqueta. A mãe foi logo abraçando o filho, que parecia muito diferente. Um menino asseado, cabelos cortados, cheirando a perfume e com maneiras elaboradas.

Os irmãos ficaram inibidos diante da aparência de Benjamim, que estava muito diferente do mano, que eles conheciam. Na verdade, todos ficaram sem reação, ali estava um menino fino, parecia filhinho de papai. Vestia pijama azul com detalhes de cetim, sorridente, polido e penteado. E, ao lado da poltrona um par de chinelos novos, aguardando o dono. A família ficou parada observando o paciente.

Benjamim em nada se parecia com aquele menino que andava montado no lombo do Corisco. Descalço, correndo pelos campos sem camisa e com os cabelos desgrenhados.

 – O Benjamim mais parece um “bicho do mato”, dizia seu pai carinhosamente, quando ele chegava suado no lombo do animal.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

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