BICHO
DO MATO
CAPÍTULO
SETE
Os dias passavam rápido, era tempo
de colheita de café na região e todos se empenhavam trabalhando na vizinhança,
para arrecadar algum dinheiro extra. Era a oportunidade de fazer alguma
melhoria em suas casas ou comprar alguma coisa necessária para o bem da
família: roupas, calçados, material escolar e outros.
Havia pouco dinheiro circulando e
em sua maioria, os pequenos agricultores faziam trocas de mantimentos no
armazém da região ou entre eles mesmos. Ali, todos faziam de tudo, apanhavam
laranjas, café, algodão e na safra cortavam canas para a usina de açúcar.
Fazia um mês que Benjamim estava internado na
cidade grande e Teresa já não aguentava mais de saudades do filho. Ela vivia
chorando pelos cantos, mas não queria aborrecer o marido, que trabalhava até
tarde. Assim, ela evitava falar em problemas, principalmente no acidente do
filho, que deixava o pai mais nervoso. Ele também tinha saudades do menino, mas
era durão e disfarçava bem.
Dirceu chegava em casa muito cansado, sempre
acompanhado de Rui, seu filho mais velho. Entrava sisudo, mal olhava para a
mulher, tomava banho, jantava e caia na cama, praticamente morto de canseira. A
mulher não tocava no assunto, curtia sozinha seus medos e incertezas. Teresa sabia
que Dirceu iria esbravejar e ela não queria irritar o marido, gerando mais
problemas em sua vida.
Quando fez quarenta dias e o seu marido chegou
mais cedo em casa, ela se encheu de coragem e falou das saudades que sentia do
filho. Dirceu estava de bom humor e disse que também precisava ver o menino,
mas, antes de marcar viagem, iria até a vila para telefonar e ter notícias de
Benjamim. No dia seguinte, o casal saiu bem cedo em direção à vila de Toledo.
Precisavam obter notícias do filho.
– O menino está bem, mas não temos previsão de
alta para ele, foi o que afirmou o enfermeiro, que atendeu o pai ansioso.
- Está bem, por favor avisa o
Benjamim, que estamos mandando uma carta pelo correio, obrigada. Respondeu
Dirceu.
Teresa havia escrito uma carta para o
filho e pediu para o marido passar no correio e enviar a missiva de carinho
para o Benjamim. Ele precisava saber que não fora abandonado no hospital.
Voltaram para casa com o coração
aliviado, precisavam visitar o filho novamente. Seguiram sentados na carroça,
no entanto, permaneceram calados, cada um vivenciando os próprios sentimentos.
Eram boas pessoas vivendo um drama inesperado.
Mais dez dias se passaram e a
colheita de café acabou. Deu muito trabalho, mas rendeu um dinheiro extra para
Dirceu. O homem só tinha um pensamento, telefonar para a rodoviária para
assuntar sobre a partida do ônibus. Desta vez iriam os quatro, pai, mãe e os
dois irmãos, queriam fazer uma surpresa para Benjamim.
Saíram na sexta-feira de madrugada e
seguiram com a carroça do vizinho até a rodoviária. E, dali para a cidade
grande. Rui e Marília não se cansavam de admirar tudo o que viam em sua
volta
.
– São dois caipiras do mato, dizia o pai em
tom de brincadeira. A viagem foi alegre, iriam rever o companheiro de
traquinagens.
Chegando à cidade foram se instalar
na pensão e logo após o almoço seguiram para o hospital. Quando adentraram ao
quarto, o menino estava sentado na poltrona com a perna esticada sobre uma
banqueta. A mãe foi logo abraçando o filho, que parecia muito diferente. Um
menino asseado, cabelos cortados, cheirando a perfume e com maneiras
elaboradas.
Os
irmãos ficaram inibidos diante da aparência de Benjamim, que estava muito
diferente do mano, que eles conheciam. Na verdade, todos ficaram sem reação,
ali estava um menino fino, parecia filhinho de papai. Vestia pijama azul com
detalhes de cetim, sorridente, polido e penteado. E, ao lado da poltrona um par
de chinelos novos, aguardando o dono. A família ficou parada observando o
paciente.
Benjamim
em nada se parecia com aquele menino que andava montado no lombo do Corisco.
Descalço, correndo pelos campos sem camisa e com os cabelos desgrenhados.
– O Benjamim mais parece um “bicho do mato”,
dizia seu pai carinhosamente, quando ele chegava suado no lombo do animal.
Um
texto de Eva Ibrahim Sousa