O CÃO E O VAGABUNDO.
O
burburinho na Rodoviária era grande, as pessoas apressadas puxavam malas e
carregavam bolsas pesadas; até crianças levavam mochilas nas costas. A correria
era intensa, pois o feriado fez com que o fim de semana ficasse mais longo e
todos queriam viajar. O ônibus que iria para a capital estava atrasado e se
formara um aglomerado de gente inquieta. Muita conversa e reclamações faziam a
fila serpentear para os lados perdendo sua forma original.
Ninguém
viu de onde surgiu um homem visivelmente bêbado, cambaleava e falava coisas sem
sentido. Ele começou a incomodar as pessoas que estavam na fila pedindo dinheiro
e cigarros. As pessoas ansiosas ficavam de costas, outros disfarçavam para
fugir daquela conversa inoportuna. Cada pessoa estava focada em embarcar o mais
rápido possível e fugir daquela aglomeração.
De repente apareceu um cachorro
Rottweiler preto, velho e manso; seus cotovelos estavam gastos e seu corpanzil
parecia flácido, isto é, magro. Ele chegou rápido e foi lamber a mão daquele homem,
que mais parecia um farrapo humano. O bêbado olhou para ele e ordenou com o dedo indicador
em riste, que ficasse sentado ali, naquele lugar. O cão, que deveria pertencer
ao molambo, ergueu as patas para que ele as segurasse, mas, ele ignorou a
atitude do cão e reforçou a ordem dada em tom exacerbado.
Extático, o cachorro permaneceu sentado, somente as orelhas estavam alertas esperando uma
contra ordem para sair dali. O vagabundo andava e olhava para trás para ter
certeza que o cão obedecera a sua ordem. O homem parou para conversar com outro
bêbado e o rottweiler permanecia no mesmo lugar. As pessoas que estavam
alvoroçadas pararam para observar a cena, era incrível como o cachorro obedecia
á ordem de seu dono. Não havia outra explicação para uma atitude tão servil e
aquele bêbado com certeza não tinha comida para alimentar um cachorro daquele
tamanho.
Durante
dez minutos o rottweiler permaneceu sentado no chão sem tirar os olhos do dono,
que agora conversava com outra pessoa. A atenção das pessoas foi concentrada na
situação inédita em que o poder do vagabundo sobre o cachorro era de se
admirar. De repente o homem foi andando e o cachorro erguia as orelhas quase
pedindo socorro, mas, em sua completa fidelidade ele não saiu do lugar. Quando
o bêbado lembrou-se do cão, já estava á cinquenta metros de distância e ai ele
assoviou e o cachorro mais feliz do mundo saiu correndo para lamber a mão do
homem, que cheirava á álcool. Ali estava a prova de que o cão é o maior
amigo do homem, seja ele quem for. O amor incondicional pelo seu dono e a
obediência total.
Os dois, o cão e o vagabundo, deixaram a Rodoviária e
seguiram seu caminho diante dos olhares espantados das pessoas. Um texto de Eva Ibrahim.
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