DE MÃOS
DADAS...
CAPÍTULO SETE
Com os olhos arregalados ela
tratou de pegar a toalha e correu para ver a mão que sangrava. Alcir estava
pálido, suando frio e com os olhos cheios de lágrimas, então, ele murmurou:
- Eu queria cortar o peixe para adiantar o
almoço de amanhã, desculpe-me, não queria assustá-la.
Ela pegou sua mão e abriu a
toalha para ver o tamanho do ferimento. O corte era no polegar e tinha uns três
centímetros de comprimento; pequeno, porém, profundo. E, como a mão estava
pendurada, sangrava muito. Sila tratou de embrulhar a mão de Alcir novamente e
pediu para ele comprimir, que iriam para o Pronto Socorro.
Enquanto ela ligava para seu
pai vir ajuda-los, Alcir sentou-se na cadeira da cozinha, estava satisfeito,
ela não iria à escola naquele dia. Alguns minutos se passaram e Sila entrou na
cozinha de calças jeans e uma blusinha preta. O marido gostou do que viu, a
escola tinha ido para o ralo... Segurando a mão na altura do coração, gemeu
alto para comovê-la ainda mais. Lá no fundo ele se achava o máximo, conseguira
seu intento, sucesso total.
O sogro chegou para leva-los
ao PS, era caso de urgência, até a sogra estava com ele, lamentando o ocorrido.
Depois de duas horas de espera e três pontos no polegar, Alcir foi liberado e
os quatro retornaram à casa do casal. A sogra se prontificou para preparar uma
sopa ou um chá, “pobre genro”, queria ajudar sua filha e sofreu um acidente.
Alcir olhou as horas, vinte
e uma, tarde demais para ir à escola, sorriu baixinho, precisava de amor e
carinho. Sila demonstrava preocupação com sua mão e parecia uma gueixa de tão
prestativa que estava; ela o atendia ao menor gemido. Depois, condoída com a
ocorrência, ela fez cafuné em sua cabeça até ele pegar no sono e quando Alcir
acordou, ela já havia saído para trabalhar. Entretanto, Sila deixara o café
preparado sobre a mesa com um bilhete. Pedindo
para ele comer e descansar, que ela voltaria na hora do almoço para vê-lo; o
marido estava de atestado médico.
Alcir comeu e depois voltou
para a cama, ligou a televisão e ficou cismando ali deitado, como um lobo
aguardando a sua presa. Pouco antes de sua amada chegar ele tomou banho e ficou
na espreita debaixo das cobertas. Não era um pequeno corte no dedo que o impediria
de amar e ser amado; estava pronto para puxar Sila para seus braços; era um
homem sedento de amor.
Estava alegre, era jovem, tinha
a mulher que amava, portanto fora abençoado por Deus, pensava feliz. A
faculdade era somente uma pedra em seu caminho, que ele daria um jeito, sem
magoar sua mulher.
A chegada de Sila aconteceu
exatamente como ele planejou, sobrou carinho e amor ao pobre acidentado! Depois
almoçaram e ela saiu para trabalhar, porém, antes de sair para o trabalho, ela
disse que iria à escola de ônibus, como sempre. Alcir tentou argumentar, mas
ela não queria ouvir e continuou caminhando.
Ele deu um soco na parede e sentiu a dor no
corte do dedo. Gemeu alto esbravejando, teria que aceitar ou ela se zangaria de
verdade.
A tarde corria lenta, Alcir saiu para dar uma volta e foi à casa de sua mãe desabafar; não queria que sua mulher continuasse a estudar. Sua mãe, mais uma vez, tentou acalmar o filho dizendo que, se insistisse nisso perderia Sila. Ela estava para se formar e não sairia da escola, ele sabia disso; deveria se conformar. Ele saiu cantando pneu, estava muito estressado...
A tarde corria lenta, Alcir saiu para dar uma volta e foi à casa de sua mãe desabafar; não queria que sua mulher continuasse a estudar. Sua mãe, mais uma vez, tentou acalmar o filho dizendo que, se insistisse nisso perderia Sila. Ela estava para se formar e não sairia da escola, ele sabia disso; deveria se conformar. Ele saiu cantando pneu, estava muito estressado...
Depois do jantar ficou
esperando sua mulher para leva-la até o ponto do ônibus, estava visivelmente
contrariado, não queria conversar. Ela o beijou e correu para dentro do
veículo, estava feliz por rever os amigos. O ônibus saiu e Alcir foi seguindo o
coletivo, mantinha certa distância para que ninguém o visse. Ele foi até a
cidade vizinha, onde ficava a faculdade de Sila.
Ficou um longo tempo em
frente à escola, depois voltou para sua cidade, teria que segurar a onda até ela
voltar. Parou em um bar e ficou conversando com velhos conhecidos. Quando olhou
no relógio viu que estava na hora de esperar sua mulher, estava ansioso e meio
bêbado, havia tomado bebida alcoólica. O ônibus encostou e Sila desceu
sorridente, Alcir ficou irritado.
- Estava feliz com o quê?
Teria visto o passarinho verde? Perguntou o rapaz irado.
Um texto de Eva
Ibrahim.
Continua na próxima semana.