ANA
BANANA
CAPÍTULO
UM
A menina fora encaminhada à
diretoria; teria que se explicar mais uma vez. Depois do intervalo ela adentrou
à classe com a roupa suja e um arranhão no rosto, foi a reclamação da
professora. Hermínia, a diretora, estava acostumada a receber a Ana em sua sala.
Era uma menina mal arrumada, que brincava com moleques na rua e tinha pouco
interesse nos estudos. Muito magra, alta para sua idade, tinha os cabelos
castanhos sempre despenteados e uma aparência de desleixo.
Quando
a inspetora de alunos entrou na sala, segurando no braço da menina de doze
anos, percebeu que já havia outra aluna sentada na cadeira, ela estava
aguardando a Ana para se explicarem diante da diretora. As duas estavam sujas e
com arranhões, por isso seriam suspensas das aulas por três dias. Hermínia não
conseguiu retirar delas o motivo da desavença, eram reincidentes.
Ficaram
sentadas na diretoria até a sineta tocar para irem para casa. Levavam na mochila
uma carta de suspensão, que deveriam trazer assinada pelo pai ou não entrariam
na sala de aulas. Quando saíram, a diretora ligou para as mães das duas alunas,
contando sobre a briga ocorrida no intervalo e pedindo providências.
Alda,
a mãe de Ana, estava na porta e recebeu a filha com dois safanões, que a
jogaram dentro do banheiro. A menina tomou um banho e saiu enrolada na toalha
indo para seu quarto. E, Alda gritou da cozinha:
-
Depois do jantar, seu pai acerta as contas com você.
A
menina tremeu; o pai batia pesado. Era melhor colocar calças compridas e blusão,
pois, com certeza levaria algumas cintadas. Ela já tinha marcas de outras sovas
no corpo, o pai era violento. No entanto, apesar de saber disso, ela não tomava
jeito; estava sempre metida em encrencas.
Vitório, o pai, era um caminhoneiro ríspido, intolerante, grosseiro e gostava de beber.
Quando chegava do trabalho bêbado, ameaçava a mãe e as vezes batia nela também.
Os meninos se escondiam e sempre sobrava uns tabefes para a filha, que o enfrentava
para defender sua mãe.
A
menina magricela trazia dentro de si uma revolta contra o pai e quanto mais apanhava,
mais molecagens fazia. Não tinha vaidade, na escola ela brincava com os meninos
e participava das bagunças que eles faziam, ela e sua amiga Gisela. Certo dia
as duas se desentenderam e a Gisela passou a chama-la de Ana Banana, até o dia
em que a Ana revidou e passou a chama-la de Gisela Cadela, então a amizade
acabou. Mas, essa história correu boca a boca e ambas passaram a ser conhecidas,
no meio em que viviam, pelo apelido: Ana Banana e Gisela Cadela.
Naquela
noite não foi diferente, o pai chegou bêbado e a filha apanhou para valer. E,
depois de um empurrão ela caiu e raspou o braço no muro de cimento,
causando-lhe mais um ferimento. A menina chorou de raiva até pegar no sono. O castigo
foi duro, ficaria trancada em casa durante os três dias que estaria suspensa da
escola.
O
pai não a queria sentada na mesa do jantar; parecia odiar a filha. Alda sofria
com as agressões do marido e temia pela sorte da menina. Vitório dizia que a
maioria das mulheres não prestavam, por isso ele batia na filha para ela não
pensar em sair da linha.
- Que comesse sozinha, longe dele, dizia o
homem irado.
A
situação naquela casa era insuportável, Alda tinha medo do marido e sentia por
não conseguir defender a filha, no entanto, com os meninos ele não implicava. O
foco principal de Vitório era a filha, que recebia as grosserias do pai
diariamente.
Um
texto de Eva Ibrahim.
Continua
na próxima semana.