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sexta-feira, 11 de setembro de 2015

"ELA ACREDITAVA EM ANJOS. E, PORQUE ACREDITAVA, ELES EXISTIAM..." CLARICE LISPECTOR - DEVEMOS SORRIR SEMPRE, MESMO ESTANDO TRISTE. EVA IBRAHIM

ANA BANANA
CAPÍTULO UM
            A menina fora encaminhada à diretoria; teria que se explicar mais uma vez. Depois do intervalo ela adentrou à classe com a roupa suja e um arranhão no rosto, foi a reclamação da professora. Hermínia, a diretora, estava acostumada a receber a Ana em sua sala. Era uma menina mal arrumada, que brincava com moleques na rua e tinha pouco interesse nos estudos. Muito magra, alta para sua idade, tinha os cabelos castanhos sempre despenteados e uma aparência de desleixo.

Quando a inspetora de alunos entrou na sala, segurando no braço da menina de doze anos, percebeu que já havia outra aluna sentada na cadeira, ela estava aguardando a Ana para se explicarem diante da diretora. As duas estavam sujas e com arranhões, por isso seriam suspensas das aulas por três dias. Hermínia não conseguiu retirar delas o motivo da desavença, eram reincidentes.

Ficaram sentadas na diretoria até a sineta tocar para irem para casa. Levavam na mochila uma carta de suspensão, que deveriam trazer assinada pelo pai ou não entrariam na sala de aulas. Quando saíram, a diretora ligou para as mães das duas alunas, contando sobre a briga ocorrida no intervalo e pedindo providências.

Alda, a mãe de Ana, estava na porta e recebeu a filha com dois safanões, que a jogaram dentro do banheiro. A menina tomou um banho e saiu enrolada na toalha indo para seu quarto. E, Alda gritou da cozinha:

- Depois do jantar, seu pai acerta as contas com você.

A menina tremeu; o pai batia pesado. Era melhor colocar calças compridas e blusão, pois, com certeza levaria algumas cintadas. Ela já tinha marcas de outras sovas no corpo, o pai era violento. No entanto, apesar de saber disso, ela não tomava jeito; estava sempre metida em encrencas.

Vitório, o pai, era um caminhoneiro ríspido, intolerante, grosseiro e gostava de beber. Quando chegava do trabalho bêbado, ameaçava a mãe e as vezes batia nela também. Os meninos se escondiam e sempre sobrava uns tabefes para a filha, que o enfrentava para defender sua mãe.

A menina magricela trazia dentro de si uma revolta contra o pai e quanto mais apanhava, mais molecagens fazia. Não tinha vaidade, na escola ela brincava com os meninos e participava das bagunças que eles faziam, ela e sua amiga Gisela. Certo dia as duas se desentenderam e a Gisela passou a chama-la de Ana Banana, até o dia em que a Ana revidou e passou a chama-la de Gisela Cadela, então a amizade acabou. Mas, essa história correu boca a boca e ambas passaram a ser conhecidas, no meio em que viviam, pelo apelido: Ana Banana e Gisela Cadela.

Naquela noite não foi diferente, o pai chegou bêbado e a filha apanhou para valer. E, depois de um empurrão ela caiu e raspou o braço no muro de cimento, causando-lhe mais um ferimento. A menina chorou de raiva até pegar no sono. O castigo foi duro, ficaria trancada em casa durante os três dias que estaria suspensa da escola.

O pai não a queria sentada na mesa do jantar; parecia odiar a filha. Alda sofria com as agressões do marido e temia pela sorte da menina. Vitório dizia que a maioria das mulheres não prestavam, por isso ele batia na filha para ela não pensar em sair da linha.

 - Que comesse sozinha, longe dele, dizia o homem irado.

A situação naquela casa era insuportável, Alda tinha medo do marido e sentia por não conseguir defender a filha, no entanto, com os meninos ele não implicava. O foco principal de Vitório era a filha, que recebia as grosserias do pai diariamente.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.
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