A
ENCRUZILHADA
CAPÍTULO
NOVE
Alceu olhava para sua esposa e via
nela um porto seguro, então, a abraçava com os olhos. Estava carente, num
momento frágil de sua vida. Havia muitas questões para serem decifradas, ele
não era igual as pessoas de suas relações. Sentia uma presença ao seu lado, mas
não tinha certeza se era seu anjo ou alguma entidade perdida.
Elisa estava desconfiada de sua
lealdade, pois, ele gritara com uma mulher, enquanto dormia. Alceu tentou
segurar as mãos de sua esposa, porém, ela as retirou de seu alcance e
levantando-se disse:
- Quero uma boa explicação, ou a
partir de hoje você irá dormir no quartinho dos fundos. Não quero traidor ao
meu lado!
Ela estava realmente muito brava e ele sabia
que não seria fácil convencê-la; sentia que ela cumpriria o prometido. No
entanto, sabia também, como comovê-la e começou a chorar. Elisa voltou e
sentou-se ao seu lado, era uma mãezona. Assim, entre um soluço e outro, ele
começou a contar tudo que havia acontecido e terminou dizendo:
- Nunca mais eu vou fazer entregas
sozinho, ou vou com André ou com um funcionário do supermercado. Eu fiquei
muito impressionado com aquela visão, não quero mais passar por isso.
Elisa abraçou o marido, que parecia
uma criança assustada. Ela sabia como era difícil a luta interna, que o marido
travava, desde os dezessete anos, com coisas desconhecidas. Deitou-se bem
juntinho ao marido e ficou alisando seus cabelos até ele adormecer, estava condoída
pela situação. Enquanto isso, Alceu se acalmava e voltava a dormir. Elisa,
apreensiva, fez uma oração, precisavam de paz, tinham filhos para criar.
Assim, mais alguns anos se passaram e
quando ele completara quarenta e cinco anos, aconteceu um fato muito estranho. Era
final de tarde da quinta-feira santa e o freguês, que estava a cavalo, pediu ao
Alceu para levar suas compras até o sítio. Argumentou dizendo, que no dia
seguinte nada ficaria aberto e ele precisava dos mantimentos.
Alceu era prestativo, mas desta vez
titubeou, porque o sítio ficava a doze quilômetros do supermercado. Aquela era
uma região de muitos pequenos agricultores, sitiados ao redor da cidade. Uma
clientela fiel e difícil de se negar alguma coisa. Sendo assim, diante da
insistência do freguês, concordou, mas levou com ele um funcionário da empresa.
Já era tarde e ele não conhecia o
caminho, foi se orientando pelo rabisco que o freguês fizera numa folha de
papel. Estava escuro quando chegaram à casa do cliente, descarregaram e saíram
rapidamente, não queriam chegar tarde em casa.
Pegaram a estradinha de volta e chegaram
à uma encruzilhada, que não tinham reparado estar ali antes. Ficaram
espantados, mas não havia outra estrada para ser seguida.
- Estamos perto, com certeza.
Dizia Alceu, tentando convencer a si próprio. Não é possível! Cadê a estrada
por onde passamos?
Alceu estava ficando nervoso e
repetia que estavam perto, o tempo todo, para o companheiro. No entanto, nunca
chegavam, parecia que andavam em círculos. Luís, seu companheiro, estava
preocupado, sua esposa não gostaria que ele chegasse tarde em casa, eram
recém-casados.
Nessa época não havia celular,
somente o relógio e o rádio do caminhão. Depois de uma hora de idas e vindas o
caminhão morreu, o motor simplesmente apagou. Alceu tentou fazer o motor pegar
novamente, mas não obteve sucesso.
Quando olhou o relógio, já marcava
vinte e três horas e trinta minutos. Os dois homens sentaram-se no banco e
tentaram cochilar, nada poderiam fazer senão esperar, que alguém passasse por
ali ou esperar o dia amanhecer.
Quando
eles iam pegar no sono, ouviram o barulho de cavalos, mas, quando saíram para
pedir ajuda, não havia nada lá fora. Voltaram e ficaram encolhidos no banco do
caminhão, estavam ficando com medo.
Já
passava da meia noite e era sexta-feira santa, deveriam estar em casa e não no
meio do mato. Os dois homens se entreolharam e começaram a rezar o “Pai Nosso”,
estavam em uma encruzilhada.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa
Nenhum comentário:
Postar um comentário