O QUE O VENTO NÃO LEVOU
COMO UMA LUZ
CAPÍTULO UM
Marília seguia pensativa pela
avenida arborizada. Ás vezes, parava e olhava os galhos suspensos no ar;
estavam cheios de flores vermelhas. Era primavera e os flamboyants estavam
carregados de folhas e flores, mas no coração da jovem nada daquilo imperava;
ali era inverno escuro e frio.
Seu marido havia saído de casa após
uma briga horrorosa e ela não sabia o que fazer, estava sem rumo e com muito
medo do futuro. Levava na mão a chave de sua casa, que já não significava
privacidade; Leandro também tinha uma igual e isso a deixava nervosa. Temia que
ele entrasse na casa à noite e a atacasse enquanto dormia.
Até um ano atrás, ele fora um bom
marido, tinha defeitos, mas muitas qualidades. No entanto, fizera amizades com
alguns rapazes, que bebiam além da conta. No começo ele criticava os
companheiros, mas aos poucos foi assimilando aquele vício e sua vida entrou em
decadência.
Leandro tornara-se dependente do
álcool e, toda vez que Marília tocava no assunto ele se transformava e avançava
sobre ela. Ele a empurrava, esbofeteava e só parava quando as crianças
começavam a chorar.
Ela não aguentava mais a grosseria do
marido bêbado, que a ofendia na frente das crianças. Leandro perdera o emprego;
pois vivia embriagado. A situação se agravava dia a dia, não havia dinheiro
para pagar as contas e logo não teriam comida em casa. Precisava encontrar uma
solução com urgência; ela queria trabalhar, mas, antes teria que garantir a segurança
das crianças.
Os
dois filhos estavam na escola, Laura com doze e João com dez anos, eram
pequenos para ficarem sozinhos em casa, mas entendiam que o pai bêbado batia em
sua mãe e estavam sofrendo também. João estava tendo problemas na escola, notas
baixas e mal comportamento. Marília recebeu a reclamação com o coração partido.
Aquela situação era reflexo da vida que ele
presenciava em sua casa. Ela sabia que teria que tomar algumas atitudes para
preservar os filhos. Então, resolveu ter uma conversa séria com Leandro. E, ele
reagiu violentamente com palavras de baixo calão e ameaçou a esposa de morte;
dizendo que ela iria pagar por tudo aquilo que dissera. Em seguida pegou uma
maleta com algumas roupas e saiu dizendo para ela arrumar dinheiro na rua, que
ele iria viver com sua mãe.
Marília
ficou chorando de raiva, medo e preocupação com o futuro dela e dos filhos.
Depois pensou em assegurar que o marido não entrasse em casa sem que ela
soubesse e, para isso teria que trocar a fechadura da porta da sala. Queria
resolver a situação sem levar preocupação para sua mãe, que sofria de
hipertensão.
Pegou
a chave e se dirigiu ao chaveiro, que tinha uma loja especializada em
fechaduras, cadeados e trancas. A chave serviria para ele saber o modelo de
fechadura que havia em sua casa. Foi o dono do estabelecimento que atendeu a
moça e, pediu que esperasse enquanto ele iria verificar no estoque.
Marília
estava aflita, andava de um lado ao outro e parando deparou com um ditado
escrito na parede, já meio apagado pelo tempo, que dizia: “ Colhemos
infalivelmente, resultados proporcionais aos nossos esforços”. E, na outra
parede estava escrito; “Plante apenas sementes de otimismo e amor, para colher
alegria e felicidade”. “Estude e trabalhe, dê o máximo de si e serás vitorioso”
Não havia a autoria das frases de incentivo, mas entrou como uma luz no coração
da mulher desesperada. Seguindo um impulso, ela pegou um pedaço de papel que estava sobre o
balcão e copiou tudo aquilo.
Um
texto de Eva Ibrahim. Continua na próxima semana.