AS
MARCAS DA VIDA
EMERGÊNCIA
A BORDO
CAPÍTULO
UM
Chovia
torrencialmente e o táxi ficara parado no trânsito de São Paulo, quando
conseguiu chegar ao aeroporto de Guarulhos e estacionou, o passageiro saiu
voando e seguiu rapidamente rumo ao seu interior.
Ele
sabia que estava atrasado para embarcar no avião, seu nome fora chamado no
microfone, por diversas vezes. Quando Otávio Moreira chegou ao portão de
embarque, estava esbaforido, com o coração acelerado. Parou por um momento,
precisava de um pouco de ar; o esforço fora grande. Iria visitar sua noiva e
sua mãe, que moravam em Fortaleza.
Fazia
seis meses que ele estava trabalhando em São Paulo, era engenheiro civil e
conseguira emprego em uma grande empresa construtora de estradas. Um sonho, que
acalentara durante todo o seu curso na faculdade. Com apenas trinta anos,
sentia-se abençoado por Deus, era jovem e estava bem empregado.
Durante todo esse tempo, ele e Liana, sua
noiva, mantiveram contato por Skype, mas, ultimamente ele estava criando
obstáculos para falar com ela, parecia estar fugindo. A distância o estava
afastando da moça, que dizia amá-lo muito. Havia muitas coisas
importantes, que ele queria fazer antes de se casar; vivia pensando nisso.
Ainda gostava da noiva, mas queria adiar aquela conversa de casamento e não
sabia como entrar nesse assunto.
Nesse
meio tempo, a moça pegou o Coronavirus e estava fragilizada. A mãe dela pediu a
ele, que fosse visita-la, para dar um pouco de ânimo à Liana, que estava deprimida,
emagrecida e carente.
Ele aproveitou um feriado
prolongado para concretizar a visita, assim poderia matar as saudades da mãe e
da noiva. Entrou no avião e foi procurar seu assento, que já tinha um lugar
ocupado, era uma moça bonita. Aquele voo duraria cerca de três horas e meia,
então ele pensou que seria ótimo estar, todo aquele tempo, ao lado de alguém
tão interessante.
A
conversa fluía fácil e o rapaz percebia que poderiam ser amigos e marcar
encontros em São Paulo. Era uma saída para diminuir sua solidão. Então ele
perguntou:
-
Você tem namorado?
Júlia
abaixou a cabeça e disse num tom choroso:
-
Meu namorado morreu faz um mês, foi um acidente de moto.
-
Perdoe-me, eu não poderia imaginar, vamos mudar de assunto. Otávio disse e se
aquietou no banco, não queria magoar a moça. O tempo passou rápido e chegou o
lanche, então voltaram a conversar e ele omitiu o fato de ser noivo.
Depois
percebeu que fizera aquilo sem a intenção de mentir, dissera que estava
solteiro. Aquela afirmação saíra normalmente de sua boca, parecia um fato
acontecido. Uma coisa era certa, precisava resolver aquela situação com sua
noiva e tinha que ser o mais rápido possível. Queria ficar livre para decidir
outros caminhos em sua vida.
Otávio
olhava para Júlia e sentia-se atraído pelos seus olhos verdes intensos. Liana
teria que entender que as coisas haviam mudado. Iria pedir um tempo para
pensar, não poderia enganá-la. Sentia-se preso e não queria se casar naquele
momento. O avião chegava ao seu destino e pouco antes da aterrissagem, o piloto
entrou em contato com os passageiros, pedindo a atenção dos mesmos. Com voz
solene e em tom grave, o comandante disse:
-
Temos um problema nos trens de pouso, estão emperrados e teremos que fazer um
pouso forçado. Os comissários de bordo vão instruir todos os passageiros para
se protegerem do impacto com o solo. Mantenham a calma e sigam as instruções. E
que Deus nos proteja.
Júlia
ficou aterrorizada e Otávio tentou acalmá-la. A moça chorosa se encostou no
rapaz e começou a chorar. Os comissários de bordo começaram as instruções de
praxe:
-
Mantenham os bancos eretos, mantenham os cintos de segurança ajustados,
coloquem as bolsas no chão, retirem os sapatos, mantenham a cabeça baixa, as
mãos sobre a cabeça e rezem muito.
Otávio
auxiliou a moça a se preparar para o impacto e ambos começaram a rezar.
-
Estamos juntos, não a deixarei sozinha, fique tranquila. Afirmou o rapaz
enquanto todos invocavam a Deus.
Um
texto de Eva Ibrahim Sousa