VITÓRIA
CRISTINA
CAPÍTULO
SETE
Daniela se recuperou da anestesia e
no dia seguinte, depois do café da manhã, ela foi conhecer a pequena Vitória.
Mateus a levou na cadeira de rodas, pois estava enfraquecida e temia um desmaio
repentino. A moça estava ansiosa, ainda não tinha visto sua filha, pois estava
anestesiada no momento do nascimento. Tem vagas lembranças da sala de parto,
parece que viveu um sonho.
Foi levada até a incubadora, era
a mãe e tinha o direito de conhecer a filha. A jovem ficou embevecida olhando para
a pequena Vitória, queria muito que ela se recuperasse rapidamente. Era o amor
de sua vida, mas não poderia pegá-la no colo; ficou triste, seus braços estavam
vazios.
Mateus
amparou a esposa, para que ela pudesse tocar a filha. Era uma bonequinha, linda
e perfeita, mas teria que ficar na incubadora até ganhar peso. A mãe não se
conformava com isso, precisava ficar junto da pequena criança. Voltou para o
quarto da enfermaria, estava triste e chorosa; não conseguiu se alimentar,
embora tentasse.
O
pai da menina também estava preocupado, sabia que sua mulher não ficaria bem,
se voltasse para casa sozinha. A enfermeira percebeu que havia alguma coisa
errada naquela situação, a moça poderia entrar em depressão.
Então,
a profissional experiente levantou a hipótese de Daniela participar do novo
projeto, que fora implantado no hospital; o projeto Canguru. Explicou para
Mateus, em que consistia o novo relacionamento entre mãe e filho, mantendo
contato pele a pele.
Ele ficou entusiasmado, iria conversar com o
pediatra e verificar se haveria possibilidade de sua esposa participar. Não
diria nada a Daniela, antes de ter certeza, para que não se decepcionasse, caso
não desse certo a participação da menina, no novo projeto. O médico sorriu e
disse:
– Sim, já pensamos na possibilidade de sua
filha participar do Canguru. Ela ficará mais uns dias em observação e se
estiver bem, poderemos iniciar o acolhimento pele a pele com a mãe. Antes de
sua mulher ter alta vamos fazer uma tentativa.
Mateus
agradeceu e foi contar a novidade para sua esposa, que surpresa se agarrou ao
marido e chorou muito. Lavou sua alma, precisava se preparar para ajudar a
pequena Vitória. A psicóloga foi conversar com o casal, para explicar a
importância do contato pele a pele de mãe e filha e o benefício dessa relação.
Disse também, que o pai pode participar do projeto, acolhendo a filha em seu
peito.
Na manhã seguinte, a puérpera
acordou animada e foi visitar a filha na UTI. A enfermeira perguntou se ela
queria carregar a menina.
Com lágrimas nos olhos ela
disse que sim. Então, uma cadeira foi colocada ao lado da incubadora e a pequena
Vitória foi acolhida em seu peito, dentro da camisola. A criança precisa de estímulo
para aprender a mamar. Ela estava com o oxigênio e a sonda orogástrica
para alimentação, mas poderia receber o calor do corpo da mãe, mesmo assim.
Ficaram em contato pele a
pele por trinta minutos e depois a menina voltou para a incubadora. Á tarde,
fariam outra experiência, assim ocorreria a aproximação de Daniela e Vitória. A
recém-nascida permanecia quietinha, em contato com a pele de sua mãe. Mateus
fez essa observação.
A puérpera não queria deixar
o hospital, precisava ficar junto da filha. No entanto, no terceiro dia ela
voltou para casa. O médico disse que haveria um período de adaptação para a mãe
e o pai. Os dois eram importantes para a recuperação da filha e explicou como
os trabalhos se iniciam:
- No começo, o casal poderá
visitar a filha uma vez por dia e ficar uma hora com ela, no contato pele a
pele. Tanto o pai como a mãe iniciam o contato com a filha de forma precoce, de
modo crescente, pelo tempo que se sentirem confortáveis. Concluiu o pediatra,
se afastando do local.
Logo, a enfermeira se propôs a
dar novos esclarecimentos ao casal:
- Depois da adaptação, será trocada
a sonda atual por outra, será inserida a sonda nasogástrica, liberando a boca
do bebê. Então, começará o processo de amamentação pele a pele, complementado
pela sonda.
- Quando a criança começa a sugar
na mãe é hora de aumentar o tempo de permanência do bebê canguru, no contato
pele a pele, isto é, obter o calor da mãe o maior tempo possível. Esta passa a
permanecer noite e dia no alojamento da neonatologia.
- A complementação passa a ser
ofertada no copinho, com leite materno. Um dos pilares do método Canguru é o
aleitamento materno exclusivo.
- A presença da mãe em contato com
seu filho, estimula a produção de leite materno, favorece o vínculo entre os
dois, reduz o estresse da separação, concluiu a enfermeira.
Com todas as informações
necessárias, a moça concordou em ir para sua casa descansar; precisava
recuperar as forças para ajudar sua filha.
Duas semanas se passaram e Daniela
estava encantada com a pequena Vitória, que ganhava alguns gramas diários.
Agora, a mãe permanecia no alojamento destinado às mães Cangurus. Com ela estavam
outras mulheres, inclusive uma, com dois bebês de baixo peso; eram gêmeos.
As mães Cangurus são pessoas
dedicadas e persistentes, com o firme propósito de levar os filhos para suas
casas, o mais rapidamente possível. É uma luta diária para manter os pequenos
saudáveis e bem alimentados, o que nem sempre ocorre.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa