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quarta-feira, 4 de março de 2020

"MÁSCARA NEGRA" "(...) FOI BOM TE VER OUTRA VEZ, TÁ FAZENDO UM ANO, FOI NO CARNAVAL QUE PASSOU, EU SOU AQUELE PIERROT, QUE TE ABRAÇOU, E TE BEIJOU, MEU AMOR. NA MESMA MÁSCARA NEGRA, QUE ESCONDE TEU ROSTO, EU QUERO MATAR A SAUDADE. VOU BEIJAR-TE AGORA, NÃO ME LEVE A MAL, HOJE É CARNAVAL" COMPOSITORES: HILDEBRANDO PEREIRA MATOS/ JOSÉ FLORES DE JESUS. CANTORA: DALVA DE OLIVEIRA..

COM DOR NO CORAÇÃO

CAPÍTULO QUATRO
             O último componente da escola passou e o portão foi fechado. Todos se cumprimentaram, abraços aconteceram e lágrimas rolaram manchando os rostos, com a maquiagem derretida no calor do Rio de Janeiro. Pareciam eufóricos, fizeram uma boa apresentação e conseguiram chegar dentro do tempo permitido. Havia esperança de uma boa classificação e consequentemente, o afastamento do medo do rebaixamento. Enfim, havia felicidade em cada olhar.

                   Raquel, com seu adorno de cabeça nas mãos, olhou para os lados, procurava por Murilo, voltara à realidade. Ele tentava chegar até ela, mas havia uma multidão entre eles. Era um grande obstáculo humano e a moça não sabia para que lado ir, a última vez que vira o seu amor, ele estava acompanhando a bateria. Mas agora, em meio a um mar de gente, temia que ele tivesse ficado atrás do portão fechado.

              Cansada de tanto dançar, a moça sentou-se em um canto. Acomodou seu adorno em uma mureta, tirou as sandálias, que machucavam seus pés e aguardou a multidão se dispersar, com a certeza de que Murilo a encontraria. Depois de uns quarenta minutos, alguém bateu em seu ombro, era ele, que finalmente a encontrara.

             Sentou-se ao seu lado e enlaçou os seus ombros, puxando-a para junto de si. Em seguida, a beijou calorosamente, estavam matando as saudades. Alguém passou e assoviou, fazendo-os voltarem à vida; estavam no mundo dos sonhos. Perceberam que deveriam deixar o local e seguir para a casa de Raquel.

                   Ela morava em uma comunidade, bem no pé do morro. Lá, a rainha da bateria tomou banho para se livrar do suor, conseguido com uma hora de intensos passos de dança enaltecendo sua escola, em frente da bateria. Depois foram dormir abraçados, estavam felizes como se fossem recém-casados em lua de mel.

            Enquanto isso, sua esposa Lívia estava dormindo na casa de sua sogra, com seus três filhos. Nem por isso, Murilo sentia algum remorso pela traição, estava feliz nos braços de sua amante. Ele postergava as preocupações para a quarta-feira de cinzas, ainda teria três dias de folia pela frente.

            O mecânico vivia momentos de puro prazer na casa de sua amada. Á tarde, eles saiam para caminhar na praia, tomavam um banho de mar e voltavam para casa. O casal curtia o seu ninho de amor com intensos carinhos, depois jantavam e seguiam para o Sambódromo. Curtiam as outras escolas de samba até a madrugada, depois retornavam à casa de Raquel.

            Na segunda feira saíram mais cedo, iriam participar dos blocos de rua atrás do trio elétrico. Passearam, riram, brincaram e a noite terminaram tomando banho de mar. Quando chegaram em casa o Sol já estava nascendo.

            Murilo parecia outro homem, mais jovem e com um grande sorriso nos lábios. Sua vida com Lívia parecia ter ficado no passado, apenas sentia falta das crianças, que ele amava muito. Sua esposa era uma mulher insipida, fria e ele não sabia como se casara com ela. Parecia que Lívia não tinha nenhuma qualidade, apenas defeitos.

           – Eu estava cego ou fui vítima de algum despacho, para ter gostado daquela pedra de gelo. Era isso que ele repetia para si mesmo, tentando relevar seus atos falhos.

            – Raquel sim, é uma mulher de verdade, linda, carinhosa e topa qualquer parada. E assim, com essas afirmações, ele se iludia mais e mais.

             Tinha uma mulher fogosa na cama e disposta a compartilhar todos os seus desejos. Aquilo sim que era vida, o mecânico pensava todos os dias, mas a terça-feira estava acabando e, ele teria que voltar para sua família.

            Era um homem responsável, que tinha que trabalhar para pôr comida na mesa de sua casa. Raquel tinha uma pensão do marido morto e vivia sozinha na comunidade, então não se preocupava muito, com nada. E, agora estava apaixonada por Murilo, que retribuía com muito carinho. Estava feliz e não se importava com seu futuro.

O rapaz custou a se despedir, tinha uma dor no coração, mas o dever falava mais alto e ele se foi depois do jantar. Dali para Niterói era uma hora na estrada, que tinha muito trânsito. Chegou e sua família já estava à sua espera, a vida voltava a rotina.

Naquela noite, Lívia o abraçou e se recostou nele, que se virou dizendo estar cansado. Fugiu de seus carinhos, estava satisfeito com sua amante, precisava dormir.

Sua mulher aceitou conformada:

- A pescaria exigia muitas energias, era compreensível seu cansaço, embora ele não tivesse trazido nenhum peixe. Sua mulher concluiu, estava desconfiada.

Murilo se justificou, no dia seguinte, dizendo que pegaram poucos peixes e comeram a maioria.  Os peixes, que restaram, ficaram para os mais velhos do grupo. Ele não poderia exigir nada, apenas fora convidado a participar por Leonel, seu amigo.

 Lívia entendeu e não tocou mais no assunto, mas estranhou o fato, de ele estar limpo e perfumado. Porque nas outras vezes, que seu marido fora pescar, ele voltava sujo e fedendo a peixe. Agora, ela teria que manter seus olhos bem abertos, havia alguma coisa estranha no ar.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa.

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