O BOTO
COR DE ROSA
CAPÍTULO
TRÊS
O rapaz retirou-se para a sua cabine
e as duas moças para a cabine ao lado. O barco balançava bastante, chovia
pouco, mas ainda ventava muito e Rodolfo ficou deitado pensando no rapaz
esquisito. Depois adormeceu e se deu conta de que estava assistindo as carícias,
que a índia recebia do rapaz almofadinha.
Como se fosse em uma tela de cinema,
ele viu a moça ser assediada e encantada pelo rapaz. Rodolfo presenciou quando ele
enfiou a mão dentro da blusa da menina e tirou seus seios para fora, depois a
beijou suavemente, enquanto apalpava seu corpo. A indiazinha não resistia,
parecia encantada pelo rapaz.
O almofadinha ficou um longo tempo
acariciando e beijando a pequena mulher, que se mostrava como uma presa fácil.
Ela aparentava ter mais ou menos uns quinze anos de idade.
Em
dado momento, se aproximaram do parapeito do convés e o rapaz a abraçou, depois
pularam para dentro do rio, que brilhava pela luz da lua. Rodolfo ficou atônito
e desesperado, pois iriam morrer afogados. Debruçou sobre o parapeito para ver
se ainda estavam ali e nada pode ver na imensidão das águas durante a noite. Ficou
sem ação, não sabia se entrava ou se denunciava o que presenciara. A essa
altura o convés já estava vazio.
No entanto, quando se virou para
entrar, viu que o casal estava no mesmo lugar. Chegou perto para verificar se não
fora apenas uma visão, então sentiu um cheiro tão forte de peixe, que teve que
voltar e entrar no salão. Respirou fundo, esperou um tempo e voltou para espiar
se ainda estavam lá. Somente a indiazinha permanecia no local, com um jeito abobalhado.
Repentinamente ele acordou, estavam
batendo na porta da cabine. Sentou-se no beliche e percebeu que estivera
sonhando; ainda estava no barco, viajando pelo rio Amazonas. Abriu a porta e lá
estavam as duas moças com as malas nas mãos.
- Vamos Rodolfo! O barco já está atracando no
porto de Parintins. Disse Celina, com um sorriso nos lábios.
- Está um Sol lindo lá fora. Lorena concluiu.
O rapaz levantou-se e foi ao
banheiro, depois pegou a mala e seguiu as duas moças. Demorou para conseguirem
sair do barco, havia muitas pessoas tentando sair ao mesmo tempo; faltava
organização. Finalmente alcançaram o espaço aberto e estavam famintos, pois não
haviam tomado café.
Avistaram uma lanchonete e
rapidamente sentaram-se em uma mesa; precisavam se alimentar. Comeram
avidamente até ficarem satisfeitos. Depois permaneceram sentados, respirando o
ar do porto e se preparando para pegar o táxi, que haviam chamado. Então,
Rodolfo falou:
-Preciso contar meu sonho para
vocês. E começou contando o que presenciara enquanto dormia.
Celina e Lorena ficaram de boca
aberta, ele relatara a história do Boto cor de rosa, antes delas contarem para
ele.
- E, o que acontecerá com a índia depois
que o rapaz desapareceu? Rodolfo perguntou apreensivo.
Celina respondeu:
- Provavelmente, ela ficará grávida e será
mais uma mãe solteira, isto é, seu bebê será mais um filho do Boto cor de rosa.
Isso acontece com as moças que não resistem a simpatia e beleza do rapaz, que
de golfinho se transforma em gente.
Lorena concordou e continuou explicando para
Rodolfo a lenda do Boto cor de rosa.
- O Boto cor de rosa é
considerado um defensor das mulheres, quando ocorre algum naufrágio, ele as
empurra para a margem. Em noites de luar, as margens do rio ou em festas, ele
se transforma em gente e se aproxima das mulheres caboclas ou índias e as seduz,
engravidando-as. Assim, quando os filhos nascem sem pais conhecidos, é atribuída
ao Boto cor de rosa a paternidade dos bebês.
- A lenda é muito forte naquelas bandas e os órgãos sexuais do Boto ou
de sua fêmea são utilizados em feitiçarias, para conquistar o ente amado, seja
homem ou mulher. Existe ainda o amuleto da sorte na arte do amor, que é o olho
do Boto. Dizem que se a pessoa estiver segurando o amuleto feito do olho do
animal, precisa ter cuidado para quem olhar, pois o efeito é fulminante. É possível
atrair qualquer pessoa, que ficará apaixonada pelo possuidor do amuleto.
Neste momento, o táxi encostou no
meio fio e os três foram apanhá-lo para irem até o seu destino, que era a casa
do irmão de Celina. Enquanto o táxi corria pela avenida principal de Parintins,
Lorena completou:
- O intenso cheiro de peixe que você sentiu,
saiu da cabeça do rapaz, que é um golfinho de água doce. Sua transformação não
é completa e fica um orifício no alto de sua cabeça, por onde sai o cheiro
forte de peixe. Por isso ele anda de chapéu, para disfarçar a sua real
identidade.
Um
texto de Eva Ibrahim Sousa
Com
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