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sexta-feira, 31 de julho de 2015

"ABRAÇAR É DIZER COM AS MÃOS O QUE A BOCA NÃO CONSEGUE, PORQUE NEM SEMPRE EXISTE PALAVRA PRA DIZER TUDO".MÁRIO QUINTANA -- ABRA O SEU CORAÇÃO PARA UMA NOVA VIDA. EVA IBRAHIM

EU PRECISO DE COLO

CAPÍTULO VINTE
Os dias se arrastavam e Amanda não dava sinais de melhora. Algumas vezes chamava os filhos e os acariciava dizendo palavras de amor; entretanto, logo seus olhos enchiam-se de lágrimas e a avó os tirava dali. As crianças eram pequenas para compreender o drama que a família estava passando.

Larissa tinha somente cinco anos, no entanto, sabia que sua mãe estava doente e procurava ficar por perto para atende-la em suas necessidades. Levava água para a mãe e a ajudava a tomar os remédios, mas o pequeno Vitor se agarrara a avó.

- A minha mãe está sempre dormindo - dizia correndo pelo jardim.

Reinaldo precisava cuidar da sua Drogaria para suprir as necessidades da família. Com a doença da esposa as despesas aumentaram muito. Amanda passava mal após as quimioterapias e precisava ser internada no Hospital. A paciente vomitava muito e sentia dores horríveis. Os médicos estavam pessimistas, o caso era complicado e não havia progressos; estavam perdendo a paciente para o câncer. Ela recebia tratamento paliativo para amenizar suas dores e controlar o vômito; nada mais podia ser feito.

O rapaz continuava relatando os fatos com amargura, falava entre linhas para segurar as lágrimas e engolir o choro. A história da doença de Amanda doía como se fosse uma faca cravada em seu peito, disse para Celina enquanto deitava sua cabeça no colo da moça. Ficou ali por um bom tempo e baixinho sussurrou:

 - Eu quero colo, estou carente e só você pode me ajudar.

A moça, emocionada, lhe deu um breve beijo, não sabia o que dizer para uma situação tão definitiva. Ela também precisava de colo, porém, ambos necessitavam de calma; aquilo tudo tinha necessidade de passar para que suas ideias clareassem; estavam sob forte emoção e não era hora de decisões.

          O luto deve ser vivido em toda sua amargura; são dias escuros cheios de lembranças de um passado que não volta mais. No entanto, às vezes é preciso desabafar ou a depressão se instala e a vida perde o sentido. O melhor caminho é chorar com quem conhece a mesma dor, a mesma solidão e a falta de futuro.   
                
          A dor sofrida deixa a pessoa arredia; não quer falar sobre o assunto, pois, é como se tocasse na ferida aberta. No entanto, quando encontra alguém para partilhar a mesma dor, aquieta o coração percebendo que o sofrimento não é exclusividade de ninguém e aceita uma nova tentativa. É o começo de aceitação de uma dor profunda, que deve e precisa ser deixada de lado.

         Juntar duas pessoas que trazem consigo histórias pesadas de dores intensas é uma maneira de amenizar a dor e afastar a tristeza gerando aceitação e conforto. Assim, podemos afirmar que é a conquista da serenidade pelos caminhos mais difíceis.

Reinaldo não tinha tempo para dar assistência aos filhos, vivia entre a Drogaria e o Hospital; os filhos ficavam aos cuidados das avós, ora uma ora outra. Amanda estava sofrendo e ele nada podia fazer para amenizar a situação; ela pressentia que iria morrer e pedia que ele cuidasse bem das crianças. Durante um mês inteiro, Reinaldo passou as noites sentado em uma poltrona ao lado da cama de sua esposa, que definhava a olhos vistos.

Foi em uma manhã de sábado que Amanda pediu para ele chamar o Padre, ela queria receber a extrema unção; estava perdendo a luta e entregando sua vida a Deus. Depois da bênção os dois choraram abraçados e naquela madrugada a última chama de vida se apagou para Amanda.

Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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