EU PRECISO DE COLO
CAPÍTULO VINTE
Os
dias se arrastavam e Amanda não dava sinais de melhora. Algumas vezes chamava
os filhos e os acariciava dizendo palavras de amor; entretanto, logo seus olhos
enchiam-se de lágrimas e a avó os tirava dali. As crianças eram pequenas para
compreender o drama que a família estava passando.
Larissa
tinha somente cinco anos, no entanto, sabia que sua mãe estava doente e
procurava ficar por perto para atende-la em suas necessidades. Levava água para
a mãe e a ajudava a tomar os remédios, mas o pequeno Vitor se agarrara a avó.
-
A minha mãe está sempre dormindo - dizia correndo pelo jardim.
Reinaldo
precisava cuidar da sua Drogaria para suprir as necessidades da família. Com a
doença da esposa as despesas aumentaram muito. Amanda passava mal após as
quimioterapias e precisava ser internada no Hospital. A paciente vomitava muito
e sentia dores horríveis. Os médicos estavam pessimistas, o caso era complicado
e não havia progressos; estavam perdendo a paciente para o câncer. Ela recebia
tratamento paliativo para amenizar suas dores e controlar o vômito; nada mais
podia ser feito.
O
rapaz continuava relatando os fatos com amargura, falava entre linhas para
segurar as lágrimas e engolir o choro. A história da doença de Amanda doía como
se fosse uma faca cravada em seu peito, disse para Celina enquanto deitava sua
cabeça no colo da moça. Ficou ali por um bom tempo e baixinho sussurrou:
- Eu quero colo, estou carente e só você pode
me ajudar.
A
moça, emocionada, lhe deu um breve beijo, não sabia o que dizer para uma situação
tão definitiva. Ela também precisava de colo, porém, ambos necessitavam de
calma; aquilo tudo tinha necessidade de passar para que suas ideias clareassem;
estavam sob forte emoção e não era hora de decisões.
O luto deve ser
vivido em toda sua amargura; são dias escuros cheios de lembranças de um
passado que não volta mais. No entanto, às vezes é preciso desabafar ou a
depressão se instala e a vida perde o sentido. O melhor caminho é chorar com
quem conhece a mesma dor, a mesma solidão e a falta de futuro.
A dor sofrida deixa a
pessoa arredia; não quer falar sobre o assunto, pois, é como se tocasse na
ferida aberta. No entanto, quando encontra alguém para partilhar a mesma dor,
aquieta o coração percebendo que o sofrimento não é exclusividade de ninguém e
aceita uma nova tentativa. É o começo de aceitação de uma dor profunda, que
deve e precisa ser deixada de lado.
Juntar duas pessoas
que trazem consigo histórias pesadas de dores intensas é uma maneira de
amenizar a dor e afastar a tristeza gerando aceitação e conforto. Assim, podemos afirmar que é a conquista da
serenidade pelos caminhos mais difíceis.
Reinaldo
não tinha tempo para dar assistência aos filhos, vivia entre a Drogaria e o
Hospital; os filhos ficavam aos cuidados das avós, ora uma ora outra. Amanda
estava sofrendo e ele nada podia fazer para amenizar a situação; ela pressentia
que iria morrer e pedia que ele cuidasse bem das crianças. Durante um mês
inteiro, Reinaldo passou as noites sentado em uma poltrona ao lado da cama de
sua esposa, que definhava a olhos vistos.
Foi
em uma manhã de sábado que Amanda pediu para ele chamar o Padre, ela queria
receber a extrema unção; estava perdendo a luta e entregando sua vida a Deus.
Depois da bênção os dois choraram abraçados e naquela madrugada a última chama
de vida se apagou para Amanda.
Um
texto de Eva Ibrahim.
Continua
na próxima semana.