ATÉ O ANO QUE VEM
CAPÍTULO SETE
As
festas de final de ano terminaram, o carnaval passou, as férias escolares estavam
no final e Cesane deveria voltar à escola. No entanto, seu corpo estava pesado
com seis meses de gestação e, a menina resistia a ideia de voltar e
encontrar-se com suas colegas.
No primeiro dia de aula, Cesane amanheceu
cheia de dores e com os sentimentos aflorados, chorando atoa. Alda insistiu
para ela ir à escola, ofereceu-se para lhe fazer companhia, mas ela trancou-se
no quarto.
A mãe pedia que abrisse a porta e ela dizia
choramingando:
- Não insiste mãe, eu não vou à escola neste ano,
não posso acompanhar as outras alunas e prefiro voltar somente no ano que vem,
depois que a bebê nascer. Estou pesada, lerda e com vontade de chorar sem motivo algum,
me deixa ficar quieta no meu canto.
Alda já esperava por isso, a filha esquivava-se
quando ela tocava no assunto. Então, ela disse:
- Está bem,
abre a porta e vamos conversar, para tudo existe uma solução.
Mãe e filha abraçaram-se e as lágrimas caíram dos
olhos das duas, formando uma cascata de amor.
- Não se
fala mais no assunto, fica suspenso até o ano que vem, agora vamos cuidar da
bebezinha que vem chegando, concluiu Alda.
A mãe foi à escola e conversou com a diretora,
deixando tudo acertado para o ano que virá depois deste.
- Quando
Cesane estiver feliz com a filhinha nos braços, ela terá condições de voltar às
aulas. É tempo de reflexão, até mesmo, para uma menina teimosa, ponderou Alda para a
diretora.
Disse e foi saindo sem olhar para trás. Quanta
concessão fizera ultimamente, quantos sonhos abortados e projetos desfeitos por
uma situação inesperada, pensava com um aperto no coração.
Amava a filha e a neta, mas poderia ter sido
diferente e, as lágrimas brotavam de seus olhos sem ela desejar. Pensava com
raiva no causador de tantos problemas. Uma figura de sorriso debochado, que
falava com ironia sobre um fato tão importante. A vinda de uma criança para
Cesane, que era apenas uma adolescente.
Nunca mais souberam de Roger, no entanto, ele
representava uma ameaça na vida da família. Ninguém sabia o quanto ele poderia
desestabilizar a menina. Alda pensava em quantas preocupações e medos
desenvolvera nos últimos tempos, precisava buscar Deus e consolo com o padre
Chico.
Passou na igreja, estava fragilizada e precisava de
forças para enfrentar seu dia a dia. Rezou aos pés da cruz e depois conversou
com o pároco, que mais uma vez lhe transmitiu alento; precisava seguir em
frente com um sorriso no rosto.
Era sua missão de mãe, apoiar e acolher a filha que
estava em uma situação delicada. Cesane era jovem demais para assumir a
maternidade sozinha, seus pais eram seu porto seguro.
Um texto de Eva Ibrahim