UM DIA DE CADA VEZ
CAPÍTULO SEIS
Marília não sabia como conviver com tantas incertezas, seu futuro estava
cheio de dúvidas. Precisava trabalhar para se sustentar e ficar livre da
opressão exercida por Leandro. Ela sabia que enquanto dependesse dele para
alimentar os filhos, estaria presa aos seus desatinos. Suas noites eram
terríveis, o pouco que dormia tinha pesadelos e acordava assustada. Vivia
rezando para afastar tantos pensamentos ruins, que ficavam martelando em sua
cabeça.
Finalmente
saiu o resultado do concurso e ela ficou feliz, fora muito bem classificada,
mas tinha urgência em trabalhar e não sabia quando iriam chamar os novos
concursados. A informação que tinha era, de que somente no início do ano
seguinte a prefeitura iria convocar os novos funcionários.
Estavam
em novembro e ela sentia-se desanimada, pois ainda teria que suportar aquela
situação por alguns meses. Os dias se arrastavam lentamente e ela continuava
com sua vida monótona. Tremia só em imaginar que o marido pudesse chegar e ameaça-la
novamente.
Para esquecer a situação estabelecida, ela se
enfiava nos livros, principalmente a Bíblia, que lhe trazia algum conforto. Pedia misericórdia a Deus e ficava
à espera de algum acontecimento bom em sua vida. O Natal chegou e a comemoração
foi simples ao lado dos dois filhos; Leandro apareceu, mas estava tão bêbado
que pouco falou e quando saiu ela deu graças a Deus.
E,
o ano novo chegou sem nenhuma novidade. Amanheceu um novo dia e Marília não
pretendia fazer nada diferente, estava em compasso de espera. Faria um almoço
para as crianças e ficariam em casa, mas o seu marido apareceu trazendo consigo
um amigo dos bares. Leandro trazia nas mãos uma sacola com bebidas e o amigo
outra sacola com carnes. Entrou dizendo que iriam fazer churrasco para
comemorar o ano novo.
A
mulher tremeu, lembrando-se da última vez em que ele esteve ali com o revolver
nas mãos.
-
O que farei para afastá-lo daqui?
Os
dois homens já estavam bêbados, sujos e fedidos; um nó parecia tomar conta de
sua garganta. Ela tentou protestar, mas o som não saiu de sua boca, ela queria
chorar.
-
Como o homem com quem me casei se tornou neste ser tão abominável? Ela não se
conformava em ver aquela situação diante dos filhos. A decadência do marido era
visível e a companhia lamentável.
As crianças, Laura
e João, tinham medo do pai e foram ver TV no quarto e quando ele as chamava,
elas atendiam e saiam rapidinho. O ano novo estava irremediavelmente estragado;
o jeito era rezar e esperar.
Os dois homens saíram no meio da tarde
e Marília ficou limpando a sujeira que deixaram. Seus olhos estavam vermelhos
de tanto chorar, parecia que nunca mais teria sossego na vida. Não tinha mais
ilusões, viveria um dia de cada vez.
Um texto de Eva Ibrahim. Continua na próxima
semana.