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sábado, 25 de fevereiro de 2017

"NÃO HÁ NADA QUE POSSA SER EVITADO E, SIM AMENIZADO COM PACIÊNCIA, FÉ E TOLERÂNCIA". AUTOR DESCONHECIDO

UM DIA DE CADA VEZ

CAPÍTULO SEIS

            Marília não sabia como conviver com tantas incertezas, seu futuro estava cheio de dúvidas. Precisava trabalhar para se sustentar e ficar livre da opressão exercida por Leandro. Ela sabia que enquanto dependesse dele para alimentar os filhos, estaria presa aos seus desatinos. Suas noites eram terríveis, o pouco que dormia tinha pesadelos e acordava assustada. Vivia rezando para afastar tantos pensamentos ruins, que ficavam martelando em sua cabeça.

           Finalmente saiu o resultado do concurso e ela ficou feliz, fora muito bem classificada, mas tinha urgência em trabalhar e não sabia quando iriam chamar os novos concursados. A informação que tinha era, de que somente no início do ano seguinte a prefeitura iria convocar os novos funcionários.

           Estavam em novembro e ela sentia-se desanimada, pois ainda teria que suportar aquela situação por alguns meses. Os dias se arrastavam lentamente e ela continuava com sua vida monótona. Tremia só em imaginar que o marido pudesse chegar e ameaça-la novamente.

           Para esquecer a situação estabelecida, ela se enfiava nos livros, principalmente a Bíblia, que lhe trazia algum conforto. Pedia misericórdia a Deus e ficava à espera de algum acontecimento bom em sua vida. O Natal chegou e a comemoração foi simples ao lado dos dois filhos; Leandro apareceu, mas estava tão bêbado que pouco falou e quando saiu ela deu graças a Deus.

               E, o ano novo chegou sem nenhuma novidade. Amanheceu um novo dia e Marília não pretendia fazer nada diferente, estava em compasso de espera. Faria um almoço para as crianças e ficariam em casa, mas o seu marido apareceu trazendo consigo um amigo dos bares. Leandro trazia nas mãos uma sacola com bebidas e o amigo outra sacola com carnes. Entrou dizendo que iriam fazer churrasco para comemorar o ano novo.

               A mulher tremeu, lembrando-se da última vez em que ele esteve ali com o revolver nas mãos.
            - O que farei para afastá-lo daqui?

               Os dois homens já estavam bêbados, sujos e fedidos; um nó parecia tomar conta de sua garganta. Ela tentou protestar, mas o som não saiu de sua boca, ela queria chorar.

             - Como o homem com quem me casei se tornou neste ser tão abominável? Ela não se conformava em ver aquela situação diante dos filhos. A decadência do marido era visível e a companhia lamentável.

           As crianças, Laura e João, tinham medo do pai e foram ver TV no quarto e quando ele as chamava, elas atendiam e saiam rapidinho. O ano novo estava irremediavelmente estragado; o jeito era rezar e esperar.

           Os dois homens saíram no meio da tarde e Marília ficou limpando a sujeira que deixaram. Seus olhos estavam vermelhos de tanto chorar, parecia que nunca mais teria sossego na vida. Não tinha mais ilusões, viveria um dia de cada vez.


Um texto de Eva Ibrahim. Continua na próxima semana.
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