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sexta-feira, 14 de julho de 2017

"CADA PESSOA É AQUILO QUE CRÊ, FALA DO QUE GOSTA, RETÉM O QUE PROCURA, ENSINA O QUE APRENDE, TEM O QUE DÁ E VALE O QUE FAZ..." CHICO XAVIER

AVE DE MAU AGOURO
             O Sol se punha no horizonte, a escuridão aos poucos se instalava no local e mais uma vez, uma coruja grande pousava no galho da mangueira, que ficava ao lado do quarto do casal. Era o terceiro dia seguido que a ave pousava ali e Artur, o marido, pegou a máquina digital e bateu duas fotos da ave, que assustada voou. Luiza disse temer a presença da coruja, pois sempre ouviu dizer que eram aves de péssimo agouro, para os moradores da casa. Artur deu de ombros e sorrindo entrou para mostrar as fotos para as crianças.

           O casal morava na chácara dos pais de Artur, em uma pequena casa ao lado da casa grande. Tinham uma vida tranquila, os dois trabalhavam e a sogra sempre dava uma mão com as crianças, dois meninos. O maior tinha 12 e o menor 02 anos, eram crianças fortes e saudáveis. Eles gostavam de brincar no grande espaço que havia no quintal. Uma chácara cheia de aves, cães, gatos e muitas frutas. Artur era um marido atencioso e bom pai, mas, um tanto nervoso e birrento, dizia Luiza censurando o modo de ser do marido.

            Por diversas vezes voltaram de passeios, que deveriam fazê-los felizes, de cara amarrada um com o outro. Artur discutia e dizia palavrões no trânsito por qualquer motivo e sua esposa sentia medo. Ele era o “machão” que não levava desaforos para casa. Agindo assim, muitas vezes punha em risco a integridade física dele e de sua família. Sua esposa temia sair de casa com ele levando os filhos; as brigas eram constantes.

           Estavam na primavera e o horário de verão deixava as tardes mais longas, demorava a escurecer e, as crianças dormiam mais tarde. Luiza trabalhava em uma padaria e levava o filho menor para a creche, o maior ia para a escola e Artur saia de moto para o trabalho, que ficava em uma concessionaria de automóveis na cidade vizinha. O homem seguia por uma estrada movimentada, com trânsito pesado e palco de muitos acidentes, para chegar ao trabalho.

          Naquele dia corria tudo bem, a mulher com a criança entrou no ônibus e o filho maior saiu andando a pé a caminho da escola. Artur estava atrasado e saiu apressado, teria que acessar a rodovia estadual. Naquele horário da manhã parecia que todos saiam ao mesmo tempo para o trabalho, era o horário de pico.

          O homem seguia concentrado na pista, quando de repente uma perua Kombi encostou-se à motocicleta fechando a sua frente e jogando-o para o acostamento; Artur só não caiu porque não estava correndo. O homem, enfurecido, foi atrás da Perua ofendendo e fazendo gestos obscenos ao motorista. Artur, então, percebeu que havia três homens na condução e não tinham cara de bons amigos, era melhor sair dali ou poderia correr risco; ele ficou com medo.

           O trânsito estava carregado, intenso e logo chegariam ao pedágio, era melhor acelerar. Artur pensou que a situação estava resolvida e respirou fundo; precisava se controlar e lembrou-se de sua família. Passou o pedágio, olhou pelo retrovisor e viu a perua Kombi crescendo atrás de si. Não teve tempo de correr e foi abalroado pelo veículo. Quando Artur caiu, eles fizeram uma manobra para atingir o rapaz e passaram sobre o abdômen dele. Havia ódio nos olhos do motorista da perua; seu propósito era matar Artur.

            A sensação era de morte iminente, diria Artur mais tarde. Por ora, gemia e pedia ajuda a Deus. Ele estava deitado na pista de rolamentos com uma dor lancinante na barriga. A perua saiu disparada em direção à capital e um enorme caminhão brecou quase atingindo a cabeça do rapaz.

            O motorista do caminhão desceu assustado e quando viu o jovem caído na pista se ajoelhou no chão agradecendo á Nossa Senhora Aparecida por ter permitido que o caminhão parasse. A possibilidade de parar de repente era quase nula para o tamanho do veículo. O caminhoneiro ficou ali agradecendo e repetindo que presenciara um milagre.

           Uma moça com vestimenta da concessionária do pedágio sinalizava o local acenando uma bandeira amarela, desviando o trânsito para permitir que o socorro chegasse até ele. Artur sentia dores insuportáveis em sua barriga e percebia que ela crescia muito; ele tinha a sensação que iria estourar, disse depois para sua esposa. Quando sentiu um gosto amargo na boca e o vômito chegou com um líquido amarelo, ele pensou que iria morrer.

            Logo a seguir, apareceu o socorro da concessionária da rodovia que o transferiu à emergência do Hospital.  Com o abdômen distendido foi levado para uma cirurgia de emergência, pois havia muito sangue na cavidade abdominal.

          Deixou o centro cirúrgico e foi levado para a Unidade de Terapia Intensiva, correndo sério risco de morte, pois tivera duas paradas cardíacas na mesa de cirurgia. Luiza chegou ao Hospital esbaforida pela notícia recebida. E, somente ali ficou sabendo o que realmente havia acontecido. Por muito pouco não se transformou em uma viúva; tremeu de medo, tinha dois filhos para criar. Passou à noite esperando o marido voltar da anestesia, velando seu sono induzido.

          Sua vida toda passou como um filme em sua cabeça, seu medo se tornara realidade. Desejava do fundo do coração que ele nunca mais se envolvesse em brigas de trânsito.

           Amanheceu o dia e a mulher foi para casa dar assistência às crianças e retornou ao Hospital após o almoço. O marido já estava acordado, choroso e cheio de dores. O médico disse que Artur era um homem de muita sorte, pois, por cerca de centímetros não ficaria paraplégico. Estava em um momento difícil, mas ficaria bem.

           Luiza estava sentada ao lado de Artur e comentou a aparição da coruja na árvore ao lado do quarto do casal. Estava explicada a estranha aparição, ela queria avisá-los de que haveria uma desgraça na família. Quando Artur melhorou disse à Luiza que tivera uma estranha experiência na sala de cirurgia.

            Por duas vezes ele viu pessoas fazendo massagens em seu tórax, ele estava fora do corpo. Assustado, ele queria sair dali, mas alguém o empurrava de volta para o corpo inerte na mesa de cirurgia. Artur disse que não sentia dores, apenas queria sair daquele local, mas alguém o mandava de volta, empurrando-o para o corpo cheio de sangue; depois não se lembrava de mais nada.

            Não era hora de morrer, foi à conclusão que o casal chegou. A coruja sumiu, no entanto, mais uma vez, ela fez seu papel de ave de mau agouro.

Um texto de Eva Ibrahim
MEU MUNDO REINVENTADO.

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