TERCEIRO CAPÍTULO
Clésio chegou para o encontro, estava
feliz e sorridente; aquela menina tinha o poder de deixa-lo tranquilo. Amava
seu cheiro, sua pele fresca e seu sorriso. Sua vida dupla o deixava satisfeito;
ele amava as filhas e precisava da mulher para cuidar da família. Letícia era
um doce capricho, que seria descartado posteriormente, porém, não tinha data e
ele não queria pensar nisso.
Em sua ingenuidade e inexperiência, Letícia
se preparara o dia todo para lhe dar a grande notícia; iria lhe dar um filho.
Passara o dia imaginando que seria um menino, igual ao pai; depois ficara
pensando que nome daria ao filho de seu amor. Em seguida ponderou que, seria
melhor deixar o pai escolher o nome do menino, queria agradá-lo.
O
encontro aconteceu entre abraços e beijos e no auge da paixão ela disse:
-Estou grávida, vamos ter um filho. Clésio
a afastou prontamente e pálido, perguntou?
- Que história é essa? Você está tomando
anticoncepcional ou não está?
A
menina gaguejou e disse que se esquecera de tomar o remédio algumas vezes.
Clésio
a segurou pelos braços e apertando disse:
- Eu sou um homem casado e tenho duas
filhas para criar, você não tinha o direito de deixar isso acontecer. Eu nunca
lhe prometi casamento porque já sou casado.
Letícia
começou a chorar. Entre um soluço e outro ela dizia que não premeditara nada e
só percebera agora que sua barriga estava crescendo e alguma coisa mexendo lá
dentro.
Clésio perdeu a cor, ele queria sumir,
balançava a cabeça; não podia acreditar que tinha um problema desse tamanho
para resolver. Só agora ele percebera que não pensara na gravidade do que
estava fazendo. Coçando a cabeça ele tentava pensar em alguma coisa que o
livrasse daquela responsabilidade.
Um
mundo de possibilidades passava por sua cabeça. Ele poderia ser preso por
corrupção de menores. Sua mulher o abandonaria e não deixaria que ele visse as
filhas ou o pai de Letícia o mataria. Qualquer uma dessas hipóteses já o
arruinaria para sempre.
- O que fazer? Olhava para a menina, que
chorava sentada no banco do passageiro de seu veículo.
– Como fugir daquela responsabilidade?
Teria que pensar, pensar e pensar...
Olhou
para a menina e disse:
-Você tem noção do tamanho da encrenca em que
estamos metidos?
Letícia
não conseguia responder; o que para ela era motivo de felicidade para ele era a
tormenta. A incerteza tomara conta dela; a decepção fora muito grande. Ele a
levou de volta e pediu que não comentasse com ninguém, no dia seguinte falariam
novamente; precisava pensar.
A
menina entrou e foi direto para seu quarto, estava com os olhos vermelhos e não
queria que ninguém a visse. Entretanto, sua mãe percebeu e foi atrás dela
fazendo mil perguntas, das quais ela se esquivou dizendo estar com muita dor de
cabeça. A mãe, preocupada, foi buscar um comprimido e um copo de água para ela
tomar; depois apagou a luz para a filha descansar.
Ela
não conseguia dormir, pois, tivera a maior decepção de sua vida; Clésio era
casado. Ela não podia acreditar que aquele homem que ela amava a enganara. Ficaria
mal falada e seu pai a mataria se tivesse um filho de um homem casado.
Clésio passara a noite toda sentado no vaso do
banheiro com uma súbita diarreia; não conseguia achar uma saída decente para
justificar a gravidez de uma garota de quinze anos. Pensou até em suicídio;
seria uma saída estratégica, porém, ele era muito covarde para tentar contra a
própria vida.
Pensou
em procurar um médico e pagar um aborto; certamente seria a melhor solução.
Letícia sairia ilesa dessa história e ele continuaria sua vida de garanhão.
Clésio tinha dinheiro guardado para uma emergência e resolveu pegá-lo, assim
que o Banco abrisse e levaria para a Letícia. Depois foi se deitar, estava mais
tranquilo. Parecia ter encontrado a solução, a menina teria que concordar.
O
dinheiro queimava em seu bolso, o homem não via a hora de dá-lo à Letícia e
fazer com que ela prometesse procurar um médico. Ele não poderia aparecer;
ninguém poderia saber de sua existência.
Quando
a menina saiu da padaria ele a abordou dizendo que naquele envelope havia
dinheiro suficiente para ela pagar um aborto. Letícia ficou pálida e sem ação,
não conseguia entender o que ele queria dizer com aquilo. Ele pegou sua mão onde
colocou o envelope, fechando-a e depois disse adeus. Ela devia esquecer que o
conhecera, ele não queria problemas. Subiu em sua caminhonete e desapareceu.
Ela
ficou parada no meio da calçada sem saber o que fazer; depois lentamente
seguiu para sua casa, estava desolada.
Um
texto de Eva Ibrahim.
Continua
na próxima semana.