MOSTRAR VISUALIZAÇÕES DE PÁGINAS

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

"NÃO APRENDI DIZER ADEUS" -LEONARDO- "(...) NÃO APRENDI DIZER ADEUS, MAS TENHO QUE ACEITAR, QUE AMORES VEM E VÃO. SÃO AVES DE VERÃO. SE TENS QUE ME DEIXAR, QUE SEJA ENTÃO, FELIZ. (...)" COMPOSITOR: JOEL MARQUES

ATRÁS DAS GRADES

CAPÍTULO DEZ
             Dois policiais, um homem e uma mulher, escoltaram a moça até a cela. Liana parou na porta e com um leve toque no braço, foi coagida a entrar na cela. Titubeou diversas vezes, mas quando o policial disse que sua situação poderia piorar muito, se resistisse, ela entrou. Em seguida, foi empurrada para um beliche de cimento e a cela foi trancada.

            Naquele pequeno espaço estavam duas prisioneiras aguardando averiguações. As duas mulheres, que assistiam à chegada da nova recolhida, olhavam para a moça com muita curiosidade. Enquanto isso, Liana se encolhia de medo, não sabia como agir e começou a chorar. Sentia-se abandonada em um lugar hostil.

             A mulher, de meia idade e cabelos oxigenados, tinha cara de mau e aproximou-se com ar de poucos amigos. Encarou a novata e foi logo dizendo:

          - Pode parar com esse chororô, não vamos suportar baixo astral aqui. 

      Parou em frente ao beliche, impondo respeito. A outra moça, de cabelos encaracolados e pele morena, chegou mais perto de Liana e completou a fala da primeira:

                – Trata de ficar boazinha ou iremos te dar uma lição. Abre o bico e conta o fez para se juntar a nós?

              A nova encarcerada calou-se imediatamente, percebeu que corria perigo ali. As duas mulheres ficaram paradas, esperando ela contar o motivo, pelo qual estava presa. Liana tremia de medo e gaguejando falou:

              - Eu atirei ácido no rosto do meu noivo, que me traiu.

             As duas mulheres começaram a rir alto.

            – Então, a franguinha é corajosa, ela é das nossas! Frisou a mais velha e a outra concordou com a cabeça.

            Em seguida, a loira deu alguns tapas nas costas de Liana, aquele era seu jeito amistoso de aprovação. Depois, as duas inquisidoras, voltaram para seus lugares. Pareciam satisfeitas, por terem uma companheira ferrada com a justiça. As duas estavam no cárcere, por terem sido presas por tráfico de drogas.

           Liana se encolheu no canto da cama beliche, o colchão era fino e duro, engoliu o choro e gemeu baixinho, até adormecer. Acordou assustada, com a mulher oxigenada batendo em seu ombro.

            – Acorda! O café já chegou.

          A moça, sentou-se na cama e viu na mesinha de madeira uma caneca, que continha café com leite e um pão com margarina ao lado. O dia havia amanhecido e ela tinha muitas dúvidas em seu coração.

             - Como estará o Otávio? Será que minha tia vai conseguir o dinheiro para eu sair daqui? Serei presa? Meus pais não vão me perdoar.  
              
            Esses pensamentos bailavam em sua cabeça. Havia uma nuvem pairando no ar. Sua realidade era muito triste.

             Precisava fazer sua higiene, mas não tinha nada de seu naquele local. O banheiro era precário, feio e sujo, então ela fez xixi, jogou uma água no rosto e tratou de sair dali.

             Olhou para a caneca e sentiu-se mal, nunca imaginou estar numa situação tão precária em sua vida. As duas mulheres estavam esperando ela tomar o café com leite. No entanto, Liana pegou o pão, deu uma mordida e devolveu o restante à bandeja.

           - Menina! Trata de se alimentar, não sabe a que horas poderá comer novamente. 
Alertou, a loira mais falante, que se colocava como líder ali.

            Liana começou a chorar, não tinha apetite.

           Recolheram as bandejas de café, mas o pão ficou em cima da mesinha. Foi um pedido de suas companheiras de cela, estavam com pena dela.

           Enquanto isso, Neiva já havia ligado para a família, expondo a situação e pedindo o dinheiro para a fiança.

             A mãe ficou chocada com a notícia e o pai da moça resolveu viajar para São Paulo e se inteirar da situação, pessoalmente.

             O dia se arrastava lentamente e o almoço chegou; era uma quentinha. A marmita cheia de arroz com feijão, farofa e linguiça, comida suficiente para um homem trabalhador da construção civil.

            No entanto, ela queria uma coisa leve com verduras, legumes e sobremesa. Porém,  resolveu comer um pouco, a fome a estava maltratando. Comeu pouco e encostou a marmita longe, perto da parede.

            O dia se arrastava, o fim da tarde chegou e a moça estava desesperada, esperando notícias de sua tia. Não aguentaria mais uma noite naquele local. Liana parecia um bicho acuado, encolhida no canto do beliche.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

MEU MUNDO REINVENTADO.

UM BLOG PARA POSTAR CONTOS CURTOS E EM CAPÍTULOS.