ATRÁS
DAS GRADES
CAPÍTULO
DEZ
Dois policiais, um homem e uma mulher,
escoltaram a moça até a cela. Liana parou na porta e com um leve toque no
braço, foi coagida a entrar na cela. Titubeou diversas vezes, mas quando o
policial disse que sua situação poderia piorar muito, se resistisse, ela entrou.
Em seguida, foi empurrada para um beliche de cimento e a cela foi trancada.
Naquele pequeno espaço estavam duas
prisioneiras aguardando averiguações. As duas mulheres, que assistiam à chegada
da nova recolhida, olhavam para a moça com muita curiosidade. Enquanto isso,
Liana se encolhia de medo, não sabia como agir e começou a chorar. Sentia-se
abandonada em um lugar hostil.
A mulher, de meia idade e cabelos oxigenados, tinha
cara de mau e aproximou-se com ar de poucos amigos. Encarou a novata e foi logo
dizendo:
- Pode parar com esse chororô, não
vamos suportar baixo astral aqui.
Parou em frente ao beliche,
impondo respeito. A outra moça, de cabelos encaracolados e pele morena, chegou
mais perto de Liana e completou a fala da primeira:
– Trata de ficar boazinha ou iremos te dar
uma lição. Abre o bico e conta o fez para se juntar a nós?
A nova encarcerada calou-se
imediatamente, percebeu que corria perigo ali. As duas mulheres ficaram
paradas, esperando ela contar o motivo, pelo qual estava presa. Liana tremia de
medo e gaguejando falou:
- Eu atirei ácido no rosto do meu
noivo, que me traiu.
As duas mulheres começaram a rir
alto.
– Então, a franguinha é corajosa,
ela é das nossas! Frisou a mais velha e a outra concordou com a cabeça.
Em seguida, a loira deu alguns tapas
nas costas de Liana, aquele era seu jeito amistoso de aprovação. Depois, as
duas inquisidoras, voltaram para seus lugares. Pareciam satisfeitas, por terem
uma companheira ferrada com a justiça. As duas estavam no cárcere, por terem
sido presas por tráfico de drogas.
Liana se encolheu no canto da cama beliche, o colchão era fino e duro, engoliu
o choro e gemeu baixinho, até adormecer. Acordou assustada, com a mulher
oxigenada batendo em seu ombro.
– Acorda! O café já chegou.
A moça, sentou-se na cama e viu na
mesinha de madeira uma caneca, que continha café com leite e um pão com
margarina ao lado. O dia havia amanhecido e ela tinha muitas dúvidas em seu
coração.
- Como estará o Otávio? Será que
minha tia vai conseguir o dinheiro para eu sair daqui? Serei presa? Meus pais
não vão me perdoar.
Esses pensamentos bailavam em sua cabeça.
Havia uma nuvem pairando no ar. Sua realidade era muito triste.
Precisava fazer sua higiene, mas não tinha
nada de seu naquele local. O banheiro era precário, feio e sujo, então ela fez
xixi, jogou uma água no rosto e tratou de sair dali.
Olhou para a caneca e sentiu-se
mal, nunca imaginou estar numa situação tão precária em sua vida. As duas
mulheres estavam esperando ela tomar o café com leite. No entanto, Liana pegou
o pão, deu uma mordida e devolveu o restante à bandeja.
- Menina! Trata de se alimentar, não
sabe a que horas poderá comer novamente.
Alertou, a loira mais falante, que se
colocava como líder ali.
Liana começou a chorar, não tinha
apetite.
Recolheram as bandejas de café, mas
o pão ficou em cima da mesinha. Foi um pedido de suas companheiras de cela,
estavam com pena dela.
Enquanto isso, Neiva já havia ligado
para a família, expondo a situação e pedindo o dinheiro para a fiança.
A mãe ficou chocada com a notícia
e o pai da moça resolveu viajar para São Paulo e se inteirar da situação,
pessoalmente.
O dia se arrastava lentamente e o
almoço chegou; era uma quentinha. A marmita cheia de arroz com feijão, farofa e
linguiça, comida suficiente para um homem trabalhador da construção civil.
No entanto, ela queria uma coisa
leve com verduras, legumes e sobremesa. Porém, resolveu comer um pouco, a
fome a estava maltratando. Comeu pouco e encostou a marmita longe, perto da
parede.
O dia se arrastava, o fim da tarde
chegou e a moça estava desesperada, esperando notícias de sua tia. Não
aguentaria mais uma noite naquele local. Liana parecia um bicho acuado,
encolhida no canto do beliche.
Um
texto de Eva Ibrahim Sousa