SONHOS DE MENINA
CAPÍTULO TRÊS
Raquel acordou cedo, estava eufórica. E, quando saiu para comprar pães,
a pedido de sua mãe, deu um jeito de passar em frente à praça de touros. Lá
havia somente o pessoal da limpeza varrendo e recolhendo o lixo, que restara da
festa de inauguração. A menina esperou que eles se afastassem e, entrou
sorrateiramente até as arquibancadas.
Sentou-se ali e ficou olhando a
arena, onde na noite anterior houvera a primeira apresentação das touradas.
Raquel, com os pães colocados no assento ao lado, esqueceu-se de todas as
outras coisas, estava embevecida com a magia do lugar. Solitária em frente a
arena, seu pensamento voava em busca de doces recordações. Não se cansava de pensar no
toureiro, que na noite anterior se apresentara com uma dança louca e destemida,
nunca vista por ela antes.
Ali estava o príncipe encantado
tão sonhado, e vinha com todos os encantos desejados. Tinha classe, magia e
coragem; tudo o que ela queria. Entretanto, ele não notara que Raquel existia; era
uns dez anos mais velho que ela e tinha olhos somente para mulheres vistosas e
não meninas adolescentes. A rosa atirada fora um ato mecânico, que ele estava
acostumado a oferecer ao final de cada apresentação.
Quando chegou à sua casa, a mãe
estava a sua espera e irada pela demora. Raquel entrou e foi para seu quarto,
precisava ficar só e colocar as ideias em ordem. Estava alheia ao mundo real,
criara um mundo particular, onde estava ela e o Manolo, nada mais.
No entanto, o que a deixava
chateada é que teria de esperar uma semana inteira, até o próximo sábado para rever
o seu príncipe. Raquel queria ler sobre as touradas famosas na Espanha e no
México, iria pesquisar na internet. Precisava entender a beleza dos movimentos
que os toureiros fazem ao enfeitiçar o touro com a capa vermelha. E, depois sonhar
com Manolo jogando a rosa para ela no final do espetáculo; era o que embalava
sua imaginação.
Na terça feira choveu muito; temporal
com raios, trovões e muita água, deixando o local das touradas alagado. Em
decorrência disso, o comentário geral era de que seria adiado o espetáculo do
próximo sábado. Raquel chorou, não queria que a tourada fosse adiada, precisava
ver o seu príncipe. Durante três dias o tempo permaneceu nublado e com chuvas
ocasionais, porém, no sábado o Sol apareceu firme e forte.
Para
a felicidade da menina foram iniciados os preparativos para os trabalhos daquele
sábado. Ela se enfeitou para a festa com um vestido azul, que ganhara de sua
avó. Estava muito feliz, iria rever o seu ídolo, o toureiro Manolo.
A menina ficou posicionada em frente
à praça de touros, queria ver o objeto do seu amor quando chegasse; estava
nervosa. Manolo, finalmente apareceu, estava acompanhado por diversas pessoas
e, entre elas, uma loira vistosa agarrada em seu braço. Passaram por Raquel e
nem sequer a viram. Ela queria chorar, esperava que ele a cumprimentasse, mas
apenas a ignorou ou nem a viu.
Esta foi a sua primeira decepção,
mas lá no fundo ela arrumava desculpas para ele, queria continuar a sonhar com
tudo aquilo.
Um
texto de Eva Ibrahim
Continua
na próxima semana.