NO ACONCHEGO DO SEU AMOR
CAPÍTULO OITO
As mães de prematuros formam um grupo de mulheres unidas pela mesma dor, um amor sofrido, incerto e esperançoso ao mesmo tempo. Mulheres que se propõem a lutar, para conservar a vida de seus filhos fora do ventre. Presos ao lugar mais quente e amoroso do corpo humano, junto ao coração de suas mães, os pequenos têm uma melhor oportunidade de vida saudável.
Esse é o projeto Canguru, que mantém o prematuro aquecido pele a pele, proporcionando maiores chances de sobrevivência, para bebês pequenos e frágeis. É um projeto já implantado e consagrado em muitos hospitais, de vários países do mundo.
Daniela sentia-se solitária naquele local e sempre pensava, que tinha muitas coisas para fazer fora dali. A situação se apresentava muito diferente de tudo, que ela havia imaginado para sua vida. No entanto, a vida de sua filha dependia de sua paciência e dedicação, então, suspirava e seguia em frente.
Ás vezes, Mateus ia busca-la para ir até sua casa, tomar um banho, trocar de roupas e comprar algumas guloseimas, para dividir com suas companheiras de alojamento. Depois retornava ao hospital, estava de licença maternidade e seu único foco era a filha, que estava na UTI neonatal.
A moça não tinha sossego, precisava ficar perto de Vitória, tinha um sentimento de medo, quando estava longe. No íntimo, temia não encontra-la viva quando voltasse ao hospital. Era um pedacinho de gente, frágil e dependente, uma boneca.
A menina passava grande parte do dia, colada ao corpo de sua mãe. Estava aprendendo a mamar e logo tirariam a sonda, para ela ter um aleitamento exclusivo, no peito de sua mãe. Dissera a enfermeira para Daniela.
As poucas distrações que havia no alojamento era a televisão, algumas revistas, livros ou crochês, para quem gostava. As mães Cangurus assistiam as novelas e programas vespertinos de variedades, então interagiam para passar o tempo.
Assim, os dias iam passando e os bebês cangurus se recuperando da condição de prematuros. Eles apresentavam menos problemas de saúde, pois tinham a proteção de anticorpos do leite materno e do aconchego de suas mães. Depois de um mês inteirinho, Vitória já estava pesando um quilo e quinhentos gramas, precisava somente de mais um quilo, para poder sair do hospital.
No entanto, pela manhã Vitória apresentou febre e desconforto respiratório, não quis mamar. A menina estava prostrada, ofegante e pálida, para desespero de sua mãe. Os médicos vieram e levaram a menina para a sala de emergência. Enquanto isso, Daniela chamava Mateus para encontrá-la no hospital, estava desesperada.
Mateus chegou e logo o médico apareceu para conversar com o casal:
- A menina Vitória está com um forte resfriado, com o pulmão cheio de secreção, por isso ela voltou para o respirador. Deverá ficar monitorada dia e noite, para receber a assistência que o caso necessita. Concluiu o médico.
– Por favor doutor, cure a minha filha, não posso ficar sem ela. Choramingou Daniela.
Mateus a abraçou e ambos choraram lágrimas de dor. Dias terríveis estavam por vir; eles precisavam da misericórdia divina.
Durante uma semana, a menina ficou na incubadora recebendo suporte respiratório e antibióticos. A mãe permanecia no alojamento, não poderia voltar para casa sem a filha. A maior parte do tempo, ela passava na igreja rezando, para Deus curar sua menina.
Lentamente Vitória foi se recuperando e finalmente, depois de dez dias, Daniela pode pegá-la no colo novamente. Levou mais um mês para a menina se recuperar de toda aquela enfermidade e somente no terceiro mês, ela voltou a ganhar peso. E, no final do quarto mês, ela apresentava condições de ir para casa.
Quando o casal saiu do hospital com a menina no colo, foram à igreja. E lá, em frente ao altar, apresentaram a criança ao padre dizendo:
- Padre, o seu nome é Vitória Cristina e queremos a sua bênção.
O padre sorriu e abençoou a menina, era mais uma Vitória da fé em Deus.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa