SENTIMENTOS
CAPÍTULO
DOZE
Os dias que se seguiram foram
mesclados de ironias e desaforos, direcionados a Benjamim por seus irmãos. Eles
estavam revoltados, a Magrela ficara amarrada no teto do rancho e a
possibilidade de tirá-la de lá era muito remota. O pai a confiscara e além
disso, não havia dinheiro para trocar os pneus.
Benjamim sentia-se acuado, sabia que
fora imprudente, mas nunca pensara que iria provocar tantos problemas. A mãe o
mimava tentando agradá-lo, para minimizar suas dores físicas e emocionais. O
pai se mantinha fora das discussões, mas era duro em suas decisões e, os filhos
sabiam disso.
Como o prometido à curandeira, Dirceu
e Teresa levaram o filho ao médico, que depois de uma inspeção nas mãos do
menino disse:
- As queimaduras das palmas das mãos são as
que mais inspiram cuidados, pois, algumas bolhas estouraram e ficou evidente a
profundidade das queimaduras. Precisam ficar sempre limpas e umidificadas para
crescer a carne nas feridas. Parou por um instante, coçou a cabeça e depois
continuou:
- As mãos devem ser observadas para
identificar pontos de infecção. Se o menino tiver febre devem retornar
imediatamente. Por hora, basta tomar analgésicos e usar a pomada que está na
receita.
Os três saíram dali
preocupados, as palmas das mãos de Benjamim estavam em carne viva e doíam
muito. Foi o contato com a borracha quente dos pneus, que corroeram suas mãos.
Assim que o ano novo passasse,
Dirceu iria com o filho até o hospital, onde ele estivera internado. Cumprindo
assim, o retorno agendado referente a fratura do fêmur.
Teresa estava triste, ela temia que
o filho ficasse internado novamente; lágrimas caiam de seus olhos ao pensar
nisso. Trazia no peito sentimentos contraditórios. A mãe queria que o menino
permanecesse com eles no sítio. No entanto, sabia que no hospital seria melhor
para ele. Com a assistência adequada, o filho teria o tratamento necessário e consequentemente
a cura mais rápida. E Benjamim não teria os irmãos para chateá-lo.
Dirceu também tinha seus medos,
mas queria que todos pensassem que era durão, então, chorava escondido.
Benjamim sempre fora seu ponto fraco, por ser traquinas, por ser o que sempre
estava machucado e o mais impetuoso dos seus três filhos.
Depois do ano novo, Teresa arrumou
as coisas do filho e no meio das roupas colocou uma medalhinha de Nossa Senhora.
A mãe acreditava que assim, seu menino seria protegido pela virgem e ela ficaria
mais conformada em ficar longe dele.
Sentados na sala de espera, entre
outros pacientes, viram quando o doutor Olavo Catena chegou para assumir seu
posto, depois das festas de final de ano.
Quando o médico cruzou seu olhar
com o menino, ele sorriu e fez um aceno com as mãos. Estava evidente a simpatia
que nutria pelo garoto. Fixou seu olhar nos curativos das mãos de Benjamim e,
espantado, não se conteve:
- O que foi isso filho? Vamos
conversar. Abriu a porta esperando o Benjamim e seus pais entrarem.
E, dentro do consultório abraçou o
menino, cumprimentou seus pais e indicou as cadeiras para que se sentassem. Em
seguida, sentou-se também e com seriedade perguntou o que havia acontecido.
Depois de ouvir a história da bicicleta, ele quis ver os ferimentos e
assustado balançou a cabeça, estava desapontado. E voltando para sua mesa
disse:
- Benjamim, você precisa ficar
internado para curar suas mãos e prosseguir no tratamento da fratura. Essa
aventura vai lhe custar mais algum tempo no hospital.
Teresa começou a chorar, estava com
um nó na garganta. Entre soluços e lágrimas, explodiram sentimentos de emoção a muito
contidos e a mulher precisou ser levada para fora pelo marido.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa