A LUA
SE ESCONDEU
CAPÍTULO
SEIS
Maria Alcina ficou com pena de sua
mãe, pois, aquela era mais uma prova do imenso amor que Doralice tinha pelos filhos.
Com lágrimas nos olhos a menina abraçou a mãe, que soluçou em seus braços,
então, a filha prometeu tomar mais cuidado para não lhe dar preocupações.
Com a passagem do ano novo e o início
de uma nova década, parecia que algo novo despontava para o mundo. Era como se
fosse a primavera após o inverno severo. Raios de Sol brilhavam no horizonte da
década de setenta. Promessas de mudanças políticas, culturais, sociais, éticas
e morais despontavam, pipocando para todos os lados com acenos de bons
augúrios. No entanto, no interior, nada disso era bem-vindo, temiam pela perda
da moral e bons costumes. Os acontecimentos eram assustadores.
Depois de uma década de
opressão e muito medo, as novidades apareciam para mudar tudo. Surgiram as
discotecas, os hippies, as calças pantalonas, os cabelos black power, as
mini-saias e com a popularização da pílula anticoncepcional, a revolução
feminina tomou força. As mulheres saíram as ruas queimando os soutiens e assustando
as famílias mais tradicionais.
Com
tantas mudanças acontecendo, os pais de moças entraram em desespero. Seria melhor casar as
donzelas, antes que se perdessem pelo caminho. Os rapazes ficaram mais ariscos
e as mulheres perderam a credibilidade, sendo pressionadas a dar a tão famosa prova
de amor para os namorados. Muitas se deram mal e acabaram em uma situação ruim.
Algumas ficaram grávidas e outras foram abandonadas depois de ceder à prova de
amor.
No entanto, o caso mais marcante
ocorrido na pequena cidade foi a devolução de uma recém-casada para seu pai.
Cecília
morava perto da casa de Maria Alcina, eram amigas desde criança. Davi era
apaixonado por Cecília, que aceitava sua companhia por falta de opção. Era
inconsequente, alegre e brincalhona; seu desejo era apenas se divertir.
Havia
uma marcha para o progresso, até então estagnado; muitas atitudes foram tomadas
para que as mudanças fossem implantadas naquela região. A pequena cidade foi contemplada
com um projeto de preservação do meio ambiente, dos rios e matas ciliares com
novos plantios de mata nativa e apoio à agricultura. Precisavam, então, de um
suporte técnico e o fornecimento de mudas de um viveiro próprio. Para tanto,
seria necessário a construção de uma casa da lavoura para acolher um engenheiro
agrônomo, seus assessores e todos os implementos necessários.
Para a realização da obra chegou
uma construtora da capital, com uma porção de rapazes novos, que ficavam
alojados no anexo da construção. Entre eles estava Nélio, um rapaz alto, bonito
e de olhos verdes, que se encantou com Cecília. Ela tratou de se afastar de Davi
e começou a sair com Nélio as escondidas.
Ele era mais esperto do que os rapazes daquela
pequena comunidade e conhecia a pílula anticoncepcional. Com sua capacidade de
sedução envolveu a menina, que se deixou encantar. Então, Nélio fez uso de toda
sua lábia para convencer Cecília, a fazer uso da novidade. E, foi pelas mãos de
Nélio que ela se tornou mulher.
Entre
mil juras de amor resolveram guardar segredo, pois, ele dizia que iriam se
casar brevemente e ninguém precisaria saber do ocorrido.
Os
encontros furtivos duraram alguns meses e nada do rapaz querer assumir o namoro
oficialmente. Até que, em uma noite de
lua cheia, Cecília flagrou o seu amor com outra moça conhecida. Andou chorosa
durante dias, se lamentando que havia sido traída pela vida. Acreditava que
amava aquele rapaz e nunca mais se apaixonaria por ninguém.
Cecília, abandonada e traída, não
poderia ficar sozinha, precisava dar o troco para aquele manipulador. Fez isso
voltando para o Davi, que ainda a amava.
A construção terminou e Nélio foi
embora, deixando uma moça ferida para trás, que logo concordou em se casar com o
antigo namorado. Davi nada desconfiava e se casara acreditando na virgindade de
sua noiva, porém, na noite de núpcias a situação ficou insustentável. Cecília
não era a moça pura que ele esperava.
A recém-casada não teve como negar e
chorou o resto da noite pedindo clemência. No entanto, Davi pegou as malas da
moça e a arrastou até a casa de seus pais, devolvendo-a em plena madrugada.
– Faço isso para não cometer uma
loucura e me tornar um assassino, disse o marido ferido ao pai estupefato. Este,
coberto de vergonha, jogou a filha no quarto, trancou a porta tirando a chave;
depois guardou no bolso.
Lá no céu uma nuvem encobriu a lua, ou quem
sabe, foi ela que se escondeu com vergonha do ocorrido.
Um
texto de Eva Ibrahim Sousa