DE
JOELHOS NA ARENA
CAPÍTULO
NOVE
A
noite chegou e Angel acompanhada dos pais de Marcelo foi assistir as eliminatórias,
para as finais de montarias de cavalos e touros. Jiló, o cavalo de Marcelo, era
amargoso e xucro, corcoveava e rodopiava ao mesmo tempo, quando alguém tentava
montá-lo. Várias vezes, Marcelo foi lançado para fora de seu dorso pelo animal
enfurecido, que chacoalhava até o cavaleiro cair. Muito treino e teimosia
estavam relacionados com Jiló e Marcelo.
- Esse animal nunca será um cavalo manso e
obediente, não adianta você insistir, diziam seus companheiros.
Quando Romeu, o pai do rapaz, comprou o cavalo
para dar ao filho, pensou que seria utilizado para transporte, no pequeno sítio
de sua propriedade. Porém, o animal era rebelde e não gostava de amarras ou
montarias. Jiló era altivo e mal-humorado e foi o causador do acidente, que
quase aniquilou seu dono. O coice desferido na cabeça de Marcelo, poderia tê-lo
matado. Entretanto, sua vida foi preservada, mas o marcou para sempre, com uma enorme
cicatriz na testa.
O
pai, enfurecido, queria vender o cavalo causador de muitas aflições, mas
Marcelo implorou por uma última chance.
O rapaz não guardava mágoas de
Jiló, dizia que fora imprudente.
- Ele faz o que sabe, quando não
gosta de alguma coisa, se defende dando coices. Eu deveria ter tomado cuidado
ao me abaixar atrás dele. Vou leva-lo para o rodeio, lá ele poderá pular e
corcovear à vontade. Irei montá-lo e fazer o meu melhor. Concluiu o rapaz, para
desespero de sua mãe.
Havia muita gente na arena para
assistir as eliminatórias. Todos, nas arquibancadas e camarotes estavam com os olhos
pregados nos cavalos e cavaleiros. Um dos competidores teve uma queda de mal
jeito e precisou ser levado ao hospital de ambulância. Foi uma correria e Angel
ficou mais nervosa ainda, queria tirar o namorado dali, mas a festa estava
apenas começando.
Uma festa grandiosa, que envolve
centenas de pessoas, para que sua programação seja efetiva e agrade a maioria
dos presentes. Os peões se destacam pelas roupas características e muitos já
são famosos, pelos desempenhos ao longo dos anos. Desfilam com suas caminhonetes,
que valem cerca de duzentos e cinquenta mil reais, cada uma. Em cada evento, são
distribuídos cerca de um milhão de reais aos vencedores de todas as etapas.
A família, sentada na arquibancada,
não aguentava a ansiedade, enquanto Marcelo aguardava sua vez de participar das
eliminatórias. Finalmente, o narrador anunciou a prova seguinte, dizendo:
- Esta será uma prova nos moldes brasileiros;
a modalidade Cutiano, que existe oficialmente no Brasil, desde 1956. É uma
prova conhecida por usar apenas uma mão, para o cavaleiro se segurar sobre o cavalo. O objetivo é demonstrar a habilidade
do peão, em manter o equilíbrio somente com uma mão. É utilizado um arreio em
forma de um V invertido. O competidor deve permanecer no lombo do animal por
pelo menos oito segundos e ter estilo para saltar, quando descer do cavalo, que estará aos
pulos.
- Está de volta o peão Marcelo Magalhães, que
sofreu um acidente com seu cavalo Jiló e, ambos estão participando, depois de
uma longa ausência. Boa sorte e sejam bem-vindos! Concluiu o narrador.
O coração de Angel parecia querer
sair pela boca, de tão acelerado que estava.
A porta foi aberta, o cavalo saiu pulando feito doido e Marcelo grudado
em seu dorso, corcoveava com o braço esquerdo erguido. Depois de dez segundos,
Jiló atirou o homem ao chão; ele caiu em pé. Sua saída fora muito boa, seus pontos
já tinham sido computados. Em seguida, o peão se ajoelhou no chão da arena,
sabia que conseguira se classificar, e devia agradecer a sua santa de devoção.
– Obrigado Nossa Senhora de
Aparecida, imploro por sua proteção, estamos apenas começando, rezou baixinho,
estava emocionado. Seu coração batia acelerado e procurou por Angel com os
olhos cheios de lágrimas.
A moça estava em pé, aplaudindo a performance de seu amor. Em seguida,
Marcelo acenou para todos, estava muito feliz. Foi aplaudido pelo feito
realizado e depois voltou ao salão de espera. O peão foi juntar-se aos outros
concorrentes, para aguardar a classificação oficial.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa