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quarta-feira, 12 de junho de 2019

"NOSSA SENHORA" "(...) SEMPRE QUE O MEU PRANTO ROLAR, PONHA SOBRE MIM SUAS MÃOS. AUMENTA MINHA FÉ E ACALMA O MEU CORAÇÃO. GRANDE É A PROCISSÃO A PEDIR, A MISERICÓRDIA, O PERDÃO. A CURA DO CORPO E PRA ALMA, A SALVAÇÃO. POBRES PECADORES, OH! MÃE, TÃO NECESSITADOS DE VÓS" (...). ERASMO CARLOS E ROBERTO CARLOS

DE JOELHOS NA ARENA

CAPÍTULO NOVE
A noite chegou e Angel acompanhada dos pais de Marcelo foi assistir as eliminatórias, para as finais de montarias de cavalos e touros. Jiló, o cavalo de Marcelo, era amargoso e xucro, corcoveava e rodopiava ao mesmo tempo, quando alguém tentava montá-lo. Várias vezes, Marcelo foi lançado para fora de seu dorso pelo animal enfurecido, que chacoalhava até o cavaleiro cair. Muito treino e teimosia estavam relacionados com Jiló e Marcelo.

    - Esse animal nunca será um cavalo manso e obediente, não adianta você insistir, diziam seus companheiros.

 Quando Romeu, o pai do rapaz, comprou o cavalo para dar ao filho, pensou que seria utilizado para transporte, no pequeno sítio de sua propriedade. Porém, o animal era rebelde e não gostava de amarras ou montarias. Jiló era altivo e mal-humorado e foi o causador do acidente, que quase aniquilou seu dono. O coice desferido na cabeça de Marcelo, poderia tê-lo matado. Entretanto, sua vida foi preservada, mas o marcou para sempre, com uma enorme cicatriz na testa.

O pai, enfurecido, queria vender o cavalo causador de muitas aflições, mas Marcelo implorou por uma última chance.

              O rapaz não guardava mágoas de Jiló, dizia que fora imprudente.

              - Ele faz o que sabe, quando não gosta de alguma coisa, se defende dando coices. Eu deveria ter tomado cuidado ao me abaixar atrás dele. Vou leva-lo para o rodeio, lá ele poderá pular e corcovear à vontade. Irei montá-lo e fazer o meu melhor. Concluiu o rapaz, para desespero de sua mãe.

              Havia muita gente na arena para assistir as eliminatórias. Todos, nas arquibancadas e camarotes estavam com os olhos pregados nos cavalos e cavaleiros. Um dos competidores teve uma queda de mal jeito e precisou ser levado ao hospital de ambulância. Foi uma correria e Angel ficou mais nervosa ainda, queria tirar o namorado dali, mas a festa estava apenas começando.

              Uma festa grandiosa, que envolve centenas de pessoas, para que sua programação seja efetiva e agrade a maioria dos presentes. Os peões se destacam pelas roupas características e muitos já são famosos, pelos desempenhos ao longo dos anos. Desfilam com suas caminhonetes, que valem cerca de duzentos e cinquenta mil reais, cada uma. Em cada evento, são distribuídos cerca de um milhão de reais aos vencedores de todas as etapas.

              A família, sentada na arquibancada, não aguentava a ansiedade, enquanto Marcelo aguardava sua vez de participar das eliminatórias. Finalmente, o narrador anunciou a prova seguinte, dizendo:

              - Esta será uma prova nos moldes brasileiros; a modalidade Cutiano, que existe oficialmente no Brasil, desde 1956. É uma prova conhecida por usar apenas uma mão, para o cavaleiro se segurar sobre o cavalo. O objetivo é demonstrar a habilidade do peão, em manter o equilíbrio somente com uma mão. É utilizado um arreio em forma de um V invertido. O competidor deve permanecer no lombo do animal por pelo menos oito segundos e ter estilo para saltar, quando descer do cavalo, que estará aos pulos.

              - Está de volta o peão Marcelo Magalhães, que sofreu um acidente com seu cavalo Jiló e, ambos estão participando, depois de uma longa ausência. Boa sorte e sejam bem-vindos! Concluiu o narrador.

              O coração de Angel parecia querer sair pela boca, de tão acelerado que estava.  A porta foi aberta, o cavalo saiu pulando feito doido e Marcelo grudado em seu dorso, corcoveava com o braço esquerdo erguido. Depois de dez segundos, Jiló atirou o homem ao chão; ele caiu em pé. Sua saída fora muito boa, seus pontos já tinham sido computados. Em seguida, o peão se ajoelhou no chão da arena, sabia que conseguira se classificar, e devia agradecer a sua santa de devoção.

              – Obrigado Nossa Senhora de Aparecida, imploro por sua proteção, estamos apenas começando, rezou baixinho, estava emocionado. Seu coração batia acelerado e procurou por Angel com os olhos cheios de lágrimas.

            A moça estava em pé, aplaudindo a performance de seu amor. Em seguida, Marcelo acenou para todos, estava muito feliz. Foi aplaudido pelo feito realizado e depois voltou ao salão de espera. O peão foi juntar-se aos outros concorrentes, para aguardar a classificação oficial.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

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