FLORES
PARA ALICE
O ENCONTRO
CAPÍTULO
UM
Alice estava eufórica, finalmente
chegara o dia do seu casamento. Era uma balzaquiana inveterada, afirmava que
nunca iria se casar. Tivera um péssimo exemplo dentro de casa; seus pais brigavam
todos os dias e ela ia deitar-se chorando, na maioria das noites. Tinha
vergonha dos vizinhos, colegas e amigos, pois a gritaria era um dos principais
falatórios das fofoqueiras da rua.
Cresceu
assistindo à derrocada do casamento dos pais. Apesar disso tornou-se uma moça
bonita e namoradeira, mas quando o namorado falava em casamento ela o
dispensava; não queria compromisso. Sua mãe, agora viúva, já desistira de
vigiar a moça; era livre para decidir sobre sua vida. Quando ninguém mais
esperava, ela começou a namorar um rapaz formado em medicina veterinária.
Ela
o conheceu quando seu cão adoeceu; era um cachorro da raça pastor alemão. Ele
tinha apenas oito meses, mas era gordo e viçoso. Quando a moça viu seu amigo
desmaiado e espumando pela boca, ficou desesperada. Chegou a clínica veterinária com Platão no
colo.
Alice mal conseguia andar com o cachorro no
colo, pois, além de pesado era comprido e balançava suas patas que batiam no
joelho da moça. Renato, o novo veterinário, avistou a cena pela vidraça e saiu
para ajudar a moça com o animal.
Platão
estava comatoso e babando e, a moça, com os olhos cheios de lágrimas, dizia que
não sabia o que havia acontecido para ele ficar daquele jeito. Renato pegou o
cachorro no colo e o levou para dentro dizendo que ele poderia estar
envenenado, se ela sabia de algum bicho que ele poderia ter comido ou algum
inseticida que poderia ter sido ingerido.
A moça ficou pálida e disse que
viram um sapo na grama do jardim na noite anterior. Seu irmão tentara
apanhá-lo, mas ele sumiu na escuridão. Sim, ele poderia ter atacado o batráquio
e até comido, ela não saberia precisar. Renato pegou uma veia da perna de
Platão, em seguida colocou soro com remédios e depois foi amparar a cabeça dele,
que começou a vomitar.
Ficou sério e disse para Alice,
que era muito bom que vomitasse bastante, assim se livrava de ter que passar
uma sonda e sofrer uma lavagem estomacal. Injetou algumas medicações na
borracha do soro e depois sentou-se ao lado da moça, que agradeceu a sua
atenção.
O cão vomitou muito, uma baba
amarela. Renato disse que era quase certo que Platão comera o sapo. Depois de
duas horas e com a visível melhora do cão ele dispensou a moça, dizendo que
voltasse pela manhã para ver se poderia dar alta ao animal.
Platão
ficara internado na clínica para ser hidratado e se recuperar do agravo
sofrido. Alice ficara impressionada com o atendimento dado ao seu cão.
-
Renato fora maravilhoso, dissera para sua mãe.
E,
com a recuperação do animal ela não tinha mais nada que fazer na clínica. No
entanto, o veterinário não saia da cabeça da moça, andava ansiosa para vê-lo.
Depois de alguns dias, ela o encontrou na padaria e ele sorriu para ela. Ela se
aproximou e após algumas perguntas sobre o cachorro, ele a convidou para sair no
sábado.
–
Poderiam jantar e depois dançar, disse o rapaz persuasivo.
Alice concordou sorrindo, era o que mais
desejava.
Um texto de Eva Ibrahim