SEM PERDÃO
CAPÍTULO DEZ
Olívia tinha que aceitar o marido, não
por escolha, mas por obrigação; esperava ele dormir para deitar-se. Fazia
aquilo como se fosse um ritual, silenciosamente se enfiava na cama e permanecia
imóvel; depois se levantava antes dele. Na maioria das vezes dava certo,
entretanto, algumas vezes ela tinha que ceder; Antônio forçava a situação. João
Paulo perguntou à Olívia se ela e Antônio mantiveram relação sexual e a mulher
negou; tornara-se mentirosa também.
Aquele era um caminho sem volta; Olívia
caminhava para a decadência moral. Seus valores se reduziram a quase nada,
tinha um caso com um detento da Penitenciária, que fora preso por tráfico de
drogas. Se alguém descobrisse seria apontada na rua, pois, Antônio a expulsaria
de casa. Pensava nos filhos e sentia-se envergonhada, entretanto, o amor que
tinha dentro do peito falava mais alto e lhe dava coragem para enfrentar o
mundo.
O
marido saiu para acertar novas viagens e ela correu à casa de D. Estela, queria
se despedir de João Paulo. Trancaram-se no quarto onde aconteceu mais uma
entrega de amor. Uma relação tão forte que o casal não queria mais sair dali;
era um ninho perfeito, apenas os pássaros estavam errados.
Olívia
voltou a si quando ouviu o ronco do caminhão de Antônio, parando do outro lado
da rua. Então, ela disse um “até breve” ao seu amor e esgueirando-se pelo muro
foi para casa. O marido estava no banheiro e ela aproveitou para lavar seu
rosto no tanque; queria tirar o sabor dos beijos de João Paulo ou acabaria
contando ao marido a sua traição.
O
marido nem percebeu que a mulher estava nervosa; ele disse alguma coisa e saiu
sem esperar a resposta. Olívia respirou fundo, sua consciência estava pesada;
era muita culpa por tanta felicidade obtida de maneira pecaminosa. Estava muito
envolvida, jamais conseguiria voltar a ser aquela mulher simples e ingênua de
algum tempo atrás.
A ansiedade não deixara a mulher dormir;
queria, ao menos, ouvir quando João Paulo saísse para retornar ao presídio. E,
quando ouviu o portão fechar ela chorou baixinho; seu amor partira sem data
para voltar. Os dias perderam a luz, nada mais tinha sentido. Olívia tornara-se
uma flor murcha, não queria conversa com ninguém; estava deprimida.
Antônio, em suas idas e vindas
não dava muita importância à frieza da mulher. Ele pensava que a menopausa
estava mexendo com o humor de sua esposa, afinal, ela era uma mulher de quarenta
e cinco anos, que não tinha mais o viço das jovens de vinte.
O mês de janeiro passou e quando
fevereiro chegou Olívia estava com problemas estomacais; vivia vomitando pelos
cantos. Suas regras de menstruação não apareceram, entretanto, o médico disse
que era normal a menstruação diminuir quando a mulher está no climatério.
O tempo corria e durante uma
visita à Penitenciária, João Paulo reparou que Olívia estava diferente, isto é,
mais magra, pálida e com um olhar diferente. Com ar de preocupação pediu que
ela procurasse o médico; poderia estar doente mesmo e não apenas fingindo. Ela
concordou, iria ao médico, pois não se sentia nada bem, vivia vomitando.
A mulher foi submetida a vários
exames e depois recebeu o diagnóstico, que quase a enfartou; estava grávida.
Ela foi levada ao céu e depois ao inferno, o filho era de João Paulo, que era
mulato escuro, teria que contar a verdade ao marido.
Quando
a criança nascesse, todos saberiam de sua traição. A data provável de quando
engravidara, não deixava nenhuma dúvida, pois não tivera relação sexual com
Antônio, portanto, tinha certeza de que o pai era João Paulo. Antônio era
branco, descendente de italianos e não aceitaria um filho mulato, sem duvidar
da honestidade da mulher.
Olívia
teria que pensar muito e tomar uma decisão; queria muito aquele filho, fruto de
muito amor.
Um
texto de Eva Ibrahim.