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sábado, 4 de março de 2017

"NO LIMITE DAS MINHAS FORÇAS ESTÁ TODA A NATUREZA DA DOR, DO MEDO,DA FÚRIA, DA BONDADE, DO ÓDIO E DO AMOR E, NADA EXCEDE MAIS QUE ISTO". HELENILSON PERSI


A CARTA DE ALFORRIA
CAPÍTULO SETE
             As dificuldades só aumentavam, não havia dinheiro para nada; a situação era desesperadora. Marília fez mais dois concursos e passou em todos. No entanto, havia demora na convocação dos classificados, apesar de todas as orações e promessas diárias, nada acontecia; parecia que o mundo estava contra ela.

           Leandro ainda conseguia ganhar algum dinheiro, ajudava seu irmão na loja de autopeças e pagava as contas mais urgentes, tais como: água, luz, gás de cozinha. A comida vinha dos irmãos de Marília, que já não aguentava mais a longa espera para conseguir trabalho. Acordava no meio da noite e conversava com Deus, para pedir misericórdia e não entrar em depressão.

             - A maior angustia de uma pessoa é não saber o que será o seu amanhã, dizia choramingando, a mulher desesperada.

           Mas, o pior ainda estava por vir. Leandro, depois de uma festa regada a álcool, deu carona a uma amiga e os dois filhos dela no seu automóvel. E, quando fez uma curva fechada, perdeu o controle subindo na calçada e batendo com o veículo no muro.

             O carro foi guinchado, as crianças levadas ao Hospital e Leandro autuado em flagrante por dirigir bêbado. Passou a noite na delegacia e, no dia seguinte, seu irmão pagou fiança para ele sair e responder ao processo em liberdade. Para sua sorte, ninguém se feriu gravemente, mas ele ficou a pé, pois não pagava o seguro do veículo já fazia tempo, então, passou a beber ainda mais.

             Os irmãos de Leandro, juntamente com sua mãe, decidiram interna-lo em uma clínica de recuperação. A princípio ele resistiu, mas acabou concordando, pois estava seriamente doente. Ele não se alimentava e a bebida o havia enfraquecido, ele mal conseguia parar em pé.

            Logo em seguida, fora encontrado caído na rua e foi socorrido pela ambulância municipal; estava no último estágio da decadência. E no dia seguinte, foi encaminhado à uma clínica de recuperação pela sua família.

Com o marido internado e incomunicável por pelo menos trinta dias, Marília respirou aliviada. Porque assim, ele não apareceria ali para atormentá-la e ela poderia esperar sua convocação em paz. Acreditava que tudo o que fizera teria um retorno infalível e que Deus olhava por ela.

Passou janeiro e quando chegou fevereiro, Marília teve notícias de que a prefeitura estava convocando os concursados para assumir seus postos. Foram dias de muita angustia, a chegada do carteiro era a coisa mais importante do mundo. Muitas decepções e novas esperanças, até o dia em que o carteiro gritou seu nome no portão; era a sua carta de alforria; a convocação para o trabalho.

Ela adentrou a casa com o seu tesouro nas mãos; as lágrimas corriam pelo seu rosto e ela não conseguia ler o que dizia a missiva. Então, foi lavar o rosto para se acalmar e poder seguir as instruções para se apresentar ao local indicado.

Um texto de Eva Ibrahim
MEU MUNDO REINVENTADO.

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