A CARTA DE ALFORRIA
CAPÍTULO SETE
As
dificuldades só aumentavam, não havia dinheiro para nada; a situação era
desesperadora. Marília fez mais dois concursos e passou em todos. No entanto,
havia demora na convocação dos classificados, apesar de todas as orações e
promessas diárias, nada acontecia; parecia que o mundo estava contra ela.
Leandro ainda conseguia ganhar algum dinheiro, ajudava seu irmão na loja
de autopeças e pagava as contas mais urgentes, tais como: água, luz, gás de
cozinha. A comida vinha dos irmãos de Marília, que já não aguentava mais a
longa espera para conseguir trabalho. Acordava no meio da noite e conversava
com Deus, para pedir misericórdia e não entrar em depressão.
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A maior angustia de uma pessoa é não saber o que será o seu amanhã, dizia
choramingando, a mulher desesperada.
Mas, o pior ainda estava por vir. Leandro,
depois de uma festa regada a álcool, deu carona a uma amiga e os dois filhos dela
no seu automóvel. E, quando fez uma curva fechada, perdeu o controle subindo na
calçada e batendo com o veículo no muro.
O
carro foi guinchado, as crianças levadas ao Hospital e Leandro autuado em
flagrante por dirigir bêbado. Passou a noite na delegacia e, no dia seguinte,
seu irmão pagou fiança para ele sair e responder ao processo em liberdade. Para
sua sorte, ninguém se feriu gravemente, mas ele ficou a pé, pois não pagava o
seguro do veículo já fazia tempo, então, passou a beber ainda mais.
Os
irmãos de Leandro, juntamente com sua mãe, decidiram interna-lo em uma clínica
de recuperação. A princípio ele resistiu, mas acabou concordando, pois estava
seriamente doente. Ele não se alimentava e a bebida o havia enfraquecido, ele
mal conseguia parar em pé.
Logo
em seguida, fora encontrado caído na rua e foi socorrido pela ambulância
municipal; estava no último estágio da decadência. E no dia seguinte, foi
encaminhado à uma clínica de recuperação pela sua família.
Com o marido internado e incomunicável por pelo menos
trinta dias, Marília respirou aliviada. Porque assim, ele não apareceria ali
para atormentá-la e ela poderia esperar sua convocação em paz. Acreditava que
tudo o que fizera teria um retorno infalível e que Deus olhava por ela.
Passou janeiro e quando chegou fevereiro, Marília
teve notícias de que a prefeitura estava convocando os concursados para assumir
seus postos. Foram dias de muita angustia, a chegada do carteiro era a coisa
mais importante do mundo. Muitas decepções e novas esperanças, até o dia em que
o carteiro gritou seu nome no portão; era a sua carta de alforria; a convocação
para o trabalho.
Ela adentrou a casa com o seu tesouro nas mãos; as
lágrimas corriam pelo seu rosto e ela não conseguia ler o que dizia a missiva.
Então, foi lavar o rosto para se acalmar e poder seguir as instruções para se
apresentar ao local indicado.
Um texto de Eva Ibrahim