SEMPRE NO MEU CORAÇÃO.
Mara estava quieta em seu quarto, sua
filha deitada no sofá da sala assistia á um programa da televisão; era a rotina
dos domingos e feriados. Uma buzina soou e Leila, a filha, levantou-se
rapidamente. Em seguida saiu dizendo que não sabia a hora que retornaria; bateu
a porta e Mara pode ouvir o barulho de uma motocicleta arrancando. Imaginou a
filha agarrada ao Jonas, o namorado, e fechou os olhos, de onde brotaram duas
lágrimas.
Lentamente levantou e foi sentar-se em
frente ao computador. Estava carente, seu marido a deixara há muitos anos e
somente agora a solidão viera para ficar. Quando Dalton, o marido, a trocou
pela bebida ela foi trabalhar e tinha pouco tempo para se divertir. Mara viveu
anos difíceis que a fizeram amadurecer muito; tornara-se forte e decidida
lutando para sobreviver e manter sua filha.
Há quatro anos conheceu um rapaz em seu
trabalho, isto é, já se conheciam, mas, começaram a prestar atenção um no outro somente após uma colisão de corpos na saída do corredor. Sérgio abaixou-se para
pegar a bolsa de Mara e ela também fez o mesmo movimento e tiveram uma
proximidade difícil de explicar; olho no olho. A partir daquele momento alguma
coisa se transformou, foram flechados pelo cupido. Seus olhares falavam mais
que muitas palavras, amaram-se no silêncio, que trazia muita emoção e penetrava
na alma.
Um dia ele a convidou para saírem juntos
e ela o acompanhou á uma palestra relacionada ao seu trabalho. Havia uma
empatia entre eles, sentaram-se lado a lado e não prestaram atenção ao
palestrante; estavam vivendo um momento mágico, onde não havia lugar para mais
ninguém. Apesar de pessoas tão diferentes a atração estava presente. Mara era
quase vinte anos mais velha que Sérgio e isto a incomodava. A mulher pensava na filha,
amigos e parentes; ficariam chocados.
Todos os dias eles viajavam juntos para
o trabalho, a conversa fluía fácil; estavam apaixonados. Porém, uma barreira
invisível os mantinha afastados. Os dois sabiam que o futuro para eles, como
casal, era improvável. Eles ficavam juntos durante todo o trajeto; era a hora da
felicidade. Marcavam encontros por telefone na ânsia de desfrutar da presença
do outro. Os amigos e conhecidos ficavam boquiabertos em perceber a relação que
era construída no dia a dia entre pessoas tão diferentes.
A confiança que havia entre eles era
absoluta, falavam sobre seus problemas mais íntimos. Sentiam o cheiro um do
outro, mas, não se tocavam, apenas se admiravam. Durante um ano e meio aquela
relação aconteceu e Mara desejava que Sérgio a abraçasse e beijasse; o que
nunca de fato aconteceu. Viviam aquele amor platônico de contatos, mas rico em
olhares, palavras e desejos. Era o céu e o inferno lado a lado.
Até o dia em que ele não apareceu, no outro
dia também não e assim foram minando as esperanças de Mara. Ele mudara de emprego
e ela temia que fosse para se afastar dela, pois tinha certeza de seu amor. No
fundo ela sabia que os vinte anos que ela trazia a mais que ele, um dia, faria
a diferença. A família dele era totalmente contra o relacionamento dos dois.
A mulher se transformara num zumbi,
vivia solitária. Quase não saia de casa, mas quando via um carro igual ao dele,
seu coração disparava diante da possibilidade de revê-lo.
Ela poderia amar qualquer pessoa de sua
idade, que tudo seria normal, porém, seu coração escolheu aquele homem; cheio de
mistério e quase vinte anos mais novo que ela. Sérgio era introspectivo e
calado, um homem de difícil relacionamento. Mara não conseguia deixar de pensar nele; o amor que ele despertara nela era maior que sua razão.
O
tempo foi se arrastando e ela descobriu, por acaso, o local onde ele estava
trabalhando, mas seu orgulho a impedia de procura-lo. Depois de tanto tempo ela temia que seu amor houvesse se casado e tantas outras dúvidas rondavam sua
cabeça; tornara-se uma mulher angustiada e desiludida.
Sentada em frente ao computador ela
queria encontra-lo de qualquer maneira, tinha urgência em rever aquele rosto
tão amado. Entrou confiante nos sites de busca de pessoas e digitou seu nome,
Sérgio Amaral e apareceu uma porção de homens com o nome de seu amor, mas,
nenhum era ele. Como se nunca tivesse existido, Sérgio não estava em lugar
algum, somente em seu coração. Que estranho! Em um período de sua vida ele era
real e bastava olhar para ela que tudo se transformava, criava luz e fazia a vida
ficar mais colorida.
Muitas vezes ele dirigia calado e com um
simples olhar fazia a ponte mágica para a felicidade de Mara. Absorta olhava
para as mãos de seu amor; imaginava ele pegando em suas mãos e todo seu corpo
tremia silenciosamente; sentia-se ruborizada. Sérgio falava alguma coisa e Mara
voltava á razão. A dúvida pairava no ar.
-Será que ele tinha o mesmo sentimento por
ela?
No
dia seguinte ele parava o carro, ela sentava-se ao lado dele e todas as dúvidas
do mundo se esvaiam como por encanto. Naquele momento só existia os dois, o
mundo era deles e tinha um nome, felicidade.
Algumas vezes ele pedia para ela pegar
alguma coisa no banco detrás e ela se esticava toda. Os braços dos dois roçavam
levemente e a respiração acelerava; ambos ficavam ofegantes, tamanha era a
proximidade, mas, desviavam tão rapidamente o olhar que numa fração de segundo
voltava á lucidez e seguiam em frente pensativos. Sentados lado a lado tentavam
desviar o sentimento falando de coisas rotineiras para esconder o rubor em seus
rostos. Tentavam esquecer o sentimento aflorado à pele e os desejos escondidos;
um muro invisível ficava entre eles.
Com Sérgio, Mara conseguiu esquecer o
passado e lembrou-se da vida e toda beleza que nela encontram as pessoas
apaixonadas. Desejou muito estar ao seu lado, mas, ele afastou-se e o tempo
passou deixando atrás de si uma mulher amargurada.
-E se tivessem ficado juntos? Essa pergunta martelava em sua cabeça.
Teria sido tudo tão diferente, ela o amaria sem fronteiras, daria tudo de si em troca de tê-lo ao seu lado. Porém para ele as expectativas de vida eram outras, queria casar-se e ter filhos, o que Mara não tinha condições de lhe dar.
-E se tivessem ficado juntos? Essa pergunta martelava em sua cabeça.
Teria sido tudo tão diferente, ela o amaria sem fronteiras, daria tudo de si em troca de tê-lo ao seu lado. Porém para ele as expectativas de vida eram outras, queria casar-se e ter filhos, o que Mara não tinha condições de lhe dar.
O maior empecilho era a idade de Mara,
que estava com mais de cinquenta anos e passara da menopausa. Ela tinha vontade
de gritar que continuava a mesma e amava como se tivesse dezoito anos. A
capacidade de amar não depende da idade, o ser humano pode se apaixonar em
qualquer idade. Sérgio pensava em deixa-la apesar do amor que sentia e por isso
a manteve distante. Ele sentia medo de não ter coragem de abandoná-la, pois a
amava muito, confessara á uma amiga comum.
Tanto
tempo já se passou e ela sonha com a volta dele, espera ele viver a vida e ter os
filhos que quiser para então retornar e viver o amor que nunca concretizaram.
Enquanto procura por ele na
internet pensa que seu amor continua vivo e por isso não se interessa por
ninguém; recusa-se a aceitar que seu sonho esteja perdido.
Enquanto houver vida, haverá esperança; ela sorri. Sérgio continua sempre em seu coração, disso ela tem certeza, pensa a mulher amargurada.
Enquanto houver vida, haverá esperança; ela sorri. Sérgio continua sempre em seu coração, disso ela tem certeza, pensa a mulher amargurada.
Um texto de Eva Ibrahim