POR DETRÁS DA MÁSCARA
O CÉU ESCURECEU
CAPÍTULO UM.
Alana saiu cedo de sua casa, tinha
muitos planos para comemorar o aniversário de Saulo, seu marido. Estavam
casados fazia dez anos, entre altos e baixos chegaram à uma união vitoriosa.
Nos últimos tempos, estavam vivendo em harmonia e felizes.
O casal tinha duas filhas, Rebeca e
Raquel, nove e seis anos, duas meninas bonitas e cheias de vida. As meninas davam cor aos seus dias, levando
alegria e felicidade à casa. Valia a pena lutar por elas e manter a família unida,
esse foi o consenso encontrado, para resolver seus problemas.
No sétimo ano, quase se separaram,
havia muitos problemas de compatibilidade, mas o bom senso prevaleceu e
continuaram juntos. Foram tempos difíceis, que conseguiram superar com boa
vontade. Estavam vivendo uma nova lua de mel, cheia de atitudes de carinho e
demonstração de amor, de ambas as partes.
Seria uma reunião de amigos, que
ambos gostavam e no domingo fariam um churrasco para a família. Tudo planejado
nos mínimos detalhes. O casal gostava de receber os amigos, nas sextas-feiras à
noite, já era rotina do grupo. Alana queria que no aniversário, ele tivesse sua
comida preferida e os amigos para comemorar.
As duas mulheres deixaram as
crianças na escola e foram comprar os ingredientes necessários, para fazer uma
Paella de frutos do mar. Saulo era descendente de espanhóis e sua mãe sempre
fazia esse prato, muito apreciado por ele. Seria uma reunião regada a um bom
vinho e queijos como petiscos. Depois do jantar, os casais, que eram quatro,
iriam jogar baralho até tarde da noite.
Com o auxílio de sua ajudante, Alana deixaria
tudo limpo e pronto para o preparo do jantar no sábado. Andaram de banca em
banca, escolhendo as melhores ofertas. Passaram a manhã toda fazendo compras e
depois de um lanche no centro, voltaram para casa.
O resto do dia foi dedicado a
limpar e acondicionar os alimentos para congelar, assim ficariam tranquilas até
o dia do jantar. Saulo chegou e Alana não disse nada, seria uma surpresa para o
aniversário dele.
À noite, a moça estava cansada e
foi dormir cedo. Foi um sono conturbado, acordou no meio da noite, com muita dor
na nuca. Sua cabeça latejava, parecia que tinha um coração pulsante dentro
dela. A garganta raspava quando engolia e sentia um mal-estar generalizado.
Alana pensou que estava ficando gripada.
Levantou-se e foi tomar um analgésico
na cozinha. Quando ficou em pé sentiu uma dor atrás dos olhos, que piorava ao
andar. Tentou voltar para o quarto, mas sentiu tonturas e quase caiu; pensou
que iria desmaiar.
Cambaleando e com a visão turva,
seguiu segurando nos batentes das portas, no entanto, ela não aguentou e
escorregou até o chão. Ficaria ali esperando a tontura passar. Depois de algum
tempo, ela tentou, mas não conseguiu se levantar. Sentia fraqueza nas pernas, a
dor atrás dos olhos era terrível e surgiram as náuseas. Gemeu alto e chamou
pelo marido.
- Saulo, me ajuda por favor.
O marido, que dormia, acordou
assustado e levantou-se ao ver, que Alana não estava na cama. Nesse momento,
ela gritou novamente, já estava chorando. Ele correu para ajudar sua esposa,
que estava desesperada. O rapaz precisou usar a força para que ela se
levantasse, em seguida a amparou até a cama.
- O que houve? Ele perguntou
assustado.
- Não sei, estou me sentindo muito
mal, parece que levei uma surra. A moça respondeu ao marido.
Alana foi colocada na cama
novamente, estava com muito frio, era febre. Saulo não sabia o que fazer, então
ligou para o médico, que orientou usar antitérmicos e aguardar até o dia
amanhecer. Se piorasse deveria procurar o hospital.
O dia amanheceu e o casal estava
aflito, a febre persistia e agora, além das náuseas, a moça sentia dores
abdominais. Quando Vanda chegou para trabalhar, o casal foi para o hospital,
era terça-feira, dia dezessete de março de dois mil e vinte.
Quando chegaram ao hospital, ela
teve uma crise de vômitos e diarreia. Em consequência do agravamento do quadro,
ela foi internada, para investigação e posterior diagnóstico.
O marido ficou olhando a maca sumir
no corredor, levando sua mulher. Seu coração batia desesperadamente, queria
acompanhar sua esposa, mas não permitiram. Estava começando a luta contra o
Coronavirus e não podiam deixar entrar acompanhantes. Havia muitos casos
suspeitos naquele momento.
O rapaz foi abordado pela assistente social do
hospital e recebeu as instruções para se proteger e também à sua família. Era o
início de um pesadelo, parecia que o céu escureceu.
Um
texto de Eva Ibrahim Sousa