SAUDADES
DE VOCÊ
FESTA
NA ROÇACAPÍTULO UM
A ambulância encostou em frente ao
necrotério, que estava lotado. Parentes, amigos, conhecidos e curiosos estavam
ali para ver a defunta e o desenrolar do velório. Samuel foi retirado de dentro
do veículo e colocado sobre a cadeira de rodas, estava com as duas pernas
engessadas. Trouxeram-no para se despedir de sua esposa, que estava morta e, em
um ataúde lacrado.
Tudo
começou em uma festa de peão de boiadeiro. Uma festa muito badalada do interior
paulista. Samuel fora participar com uma turma de amigos e já estava bêbado
quando trombou com Celi. Derrubou toda cerveja, que segurava displicentemente
na mão, sujando a roupa da moça, que saltou para trás blasfemando.
Rapidamente
ele a puxou para um canto tentando amenizar o mal feito. Nada deu certo, todas
as tentativas de esfregaços não surtiram efeitos; só piorou a situação. No
entanto, no final das contas caíram na risada e passaram o resto da noite
juntos, fedendo a cerveja.
Moravam
em cidades diferentes, porém, próximas o suficiente para se verem outras vezes.
Foram meses de agarramento, estavam apaixonados; eram jovens e inconsequentes.
Certo dia ela apareceu toda tímida e chorosa dizendo que estava grávida.
Samuel, então, foi colocado contra a parede e ambos foram contar aos pais dela.
- Ou casa ou some, se voltar eu mato, foi o
que o pai da moça disse a Samuel.
Leonel
era um sitiante muito conhecido e não estava para brincadeiras. Estava decidido
a manter a honra da família a qualquer custo. A mãe, coitada, se pôs a chorar.
-
A minha filha não pode ser mãe solteira, se lamentava desesperada. No que o pai
concordava com a cabeça.
Samuel
não estava pronto para se casar, mas também não queria sumir e nem morrer,
então, disse sim. O casamento aconteceu
na Igreja Matriz da cidade mais próxima ao sítio de Leonel. Os irmãos de Celi,
juntamente com os cunhados aprontaram com os noivos; eram alegres e
brincalhões.
Os
noivos chegaram à Igreja em um carro grande do ano e na hora da saída encontraram uma
carroça toda enfeitada com cipó de São João para transportá-los. Havia um sino
que tocava insistentemente seguindo o compasso do andar do animal. Até as orelhas do
burro estavam com as flores penduradas. A farra estava armada.
Surpresos, não tiveram saída e desceram a rua principal
da pequena cidade, sentados na carroça puxada pelo burro. Além da carroça
bizarra, enfeitada com muitas flores de cipó de São João, foram acompanhados
por fogos de artifícios.
Foi
uma descida triunfal, para ninguém esquecer do mico que o casal pagou. Depois
seguiram para o local da festa, que distava alguns quilômetros da Igreja e os
noivos chegaram cobertos de poeira da estrada de terra.
A
casa do sítio era grande e as pessoas se perdiam umas das outras por ali,
então, aproveitando a ocasião, o casal fugiu da festa com a cumplicidade do
padrinho, tio da noiva.
Quando chegaram à casa, Samuel pegou a esposa nos
braços e adentrou ao novo lar; estavam muito felizes.
Um
texto de Eva Ibrahim.
Continua
na próxima semana.