UM PINGO DE GENTE
CAPÍTULO NOVE
Roger era o tipo de pessoa inconsequente, não se preocupava se iria
ofender ou prejudicar alguém; fazia o que lhe dava na telha e pronto. Ele não
viu Cesane no Shopping, mas queria saber da criança e no meio da noite, ligou
no celular da menina.
-
Olá amor, como está o nosso filho? Você já sabe o que é? Eu sou o pai e quero
ele para mim; é um direito meu.
Cesane acordou assustada e gritou ao ouvir a
afirmação de Roger. Depois ficou muda, estática e foi assim que Alda a
encontrou. A mãe a abraçou perguntando o que havia acontecido e ela disse
chorando:
- Roger quer tirar a menina de mim.
-
Acalme-se, ele nunca vai conseguir tirar Cristal de você, nós estamos aqui para
protege-la. Você não pode ficar nervosa porque sua pressão pode subir.
O médico havia alertado as duas na última
consulta. “Pressão alta não combina com gravidez”, dissera com um ar preocupado.
Cesane
não comeu nada e passou o dia trancada no quarto chorando; Alda não sabia o que
fazer, estava desolada. Mais uma noite se passou e quando acordou, a gestante
estava com a face e os pés muito inchados. A mãe ficou assustada e tratou de
ligar para o médico, que mandou que fossem imediatamente para o Hospital.
-
Um quadro grave de hipertensão arterial, afirmou o médico. Ela está na
iminência de ter uma eclampsia e vamos fazer alguns procedimentos para melhorar
a pressão arterial. Se não der certo teremos que intervir com uma cesariana
para salvar o bebê. Em seguida ele saiu, deixando Alda com o coração nas mãos.
Muitas perguntas ficavam pulando em sua cabeça.
– A
bebezinha é muito prematura, como será isso meu Deus?
A enfermeira pediu para Alda aguardar na recepção,
enquanto cuidavam da paciente. A mulher estava muito nervosa e ligou para o marido
lhe dar apoio naquele momento tão preocupante. O casal ficou sentado rezando
para o melhor acontecer, que as duas ficassem bem; era tudo o que eles
precisavam.
A manhã passou e nada de notícias da filha. As onze
horas ela foi questionar junto à enfermagem; queria notícias. Então o médico
veio e lhe deu as informações necessárias.
– A gestante
recebeu as doses da medicação recomendada e aguarda no centro obstétrico a
evolução do quadro. A qualquer momento poderemos entrar para uma cesariana,
depende da resposta à medicação que a jovem vai ter. E, olhando nos olhos da
mãe aflita ele disse:
- Está autorizada a acompanhar a paciente, um de
cada vez; ela precisa de tranquilidade.
Alda
agradeceu e o casal foi encaminhado ao CO. A mãe entrou e depois foi a vez do
pai. Parecia que estava tudo bem e Rui voltou ao trabalho. Mas com o passar das
horas, Cesane passou a referir dor de cabeça e foi o sintoma que faltava para
leva-la para a cirurgia.
Mais
uma vez, Alda teve que aguardar na sala de espera. Enquanto isso, sua neta
vinha ao mundo com apenas trinta e três semanas de gestação. Depois de duas
horas e muita ansiedade o médico apareceu e disse que estava tudo bem.
-
Nasceu uma menina com um quilo e seiscentos gramas e deverá permanecer na
incubadora para ganhar peso. Aparentemente é um bebê saudável, mas ficará em
observação constante. Em seguida, disse que ela poderia ver a filha que se
recuperava da anestesia.
Alda ergueu as mãos para o céu e agradeceu a Deus
pela notícia alvissareira; seus olhos ficaram cheios de lágrimas. Primeiro foi
ver a filha e depois a neta no centro neonatal.
Ao
ver a menina ela sentiu o amor aflorar em seu coração, era um pingo de gente,
que chorava bravamente; então, ela sorriu, depois de muitas horas de
sofrimento.
Um texto de Eva Ibrahim