OLHAI POR NÓS!
CAPÍTULO CINCO
A moça não encontrava posição no
banco do automóvel, de um jeito que não doesse muito o braço suspenso sobre a
cabeça e seguro com a outra mão. Maura gemia e rezava ao mesmo tempo; a dor era
insuportável, dizia a cada solavanco. Mas, o pior era quando o veículo passava
em algum buraco, que não eram poucos ou em alguma lombada; a moça se encolhia
toda e gemia como se fosse um lamento.
Chovia muito e parecia que nunca
chegariam ao destino; Maura estava desesperada, nunca imaginara tamanha dor.
- Eu vou morrer, ela balbuciou
entre lágrimas, estava no limite suportável da dor com aquele braço
destroncado.
Érica pisou fundo no acelerador,
não sabia o que fazer para ajudar a prima. Então, por não saber o que dizer,
rezou silenciosamente; precisavam de ajuda. E, ao avistar uma Igreja ela
implorou aos céus:
- Olhai por nós...
O resto do percurso foi feito em
silêncio e quando avistaram a Unidade de Pronto Atendimento, ambas suspiraram
aliviadas; o socorro estava próximo.
Maura estava em uma situação tão
terrível que não se importava com nada ao seu redor. Érica parou o automóvel na
entrada da emergência e logo apareceu um enfermeiro com uma cadeira de rodas,
para levar a paciente para dentro. Entretanto, ela desceu e foi andando
ignorando a cadeira, queria movimentar o corpo o menos possível. Queria
encurtar aquele sofrimento, que a estava enlouquecendo.
Mesmo sendo prioridade, por causa
do trauma, teria que aguardar a enfermeira fazer a triagem; havia muitos casos
graves naquele local. Inquieta e apreensiva, a paciente sentou-se em uma
cadeira para esperar a sala ser liberada. Érica ficou na recepção fazendo a
ficha e Maura curtindo o seu calvário, segundo ela mesma. Não foi possível verificar
a pressão, pois, as duas mãos estavam impossibilitadas sobre a cabeça da
paciente.
Mais uma vez deveria aguardar o
médico chamar. Aqueles foram os minutos mais longos já vividos. A paciente
queria se deitar, estava exausta, mas o calvário ainda tinha outra estação; o
temido Raio X. O médico, um jovem residente de nome Nassif, ouviu a sua
explanação sobre o ocorrido sem mexer nenhum músculo do rosto e disse que
precisava do RX. Com muita calma e
objetividade árabe informou que não daria nenhuma medicação para dor, pois, não
adiantaria nada.
Mais dez longos minutos em frente
ao RX, mesmo tendo passado na frente de alguns pacientes, que apresentavam
menor gravidade, a espera parecia uma eternidade. Nada poderia ser pior do que
aquela dor insuportável, nem a dor da menina que caiu da bicicleta e arrancou
grande parte do músculo do braço e, que também aguardava atendimento.
A hora que a paciente entrou na sala
de RX ela não imaginava que teria outra prova de resistência. O técnico de RX
pediu para abaixar o braço. Isso soou como uma ofensa e Maura gemeu fundo, seria
impossível mexer naquele membro.
– Não consigo, doe muito, por favor
não me peça isso.
-
Eu sei que dói, muitos homens choram diante desta máquina, mas se você não
abaixar, o médico virá aqui e o fará. Disse o rapaz com a placa de RX nas mãos.
A
moça não tinha saída e com a morte no coração abaixou o braço. A dor foi a mais
lancinante do mundo e quando levantou o braço novamente, estava pálida e suando
em bicas. E, para complicar ainda mais, precisou bater outro RX, porque aquele
não ficou bom; o martírio não tinha fim.
Mais de uma hora já havia decorrido
desde que acontecera o acidente e ela continuava do mesmo jeito. Aquela fora a
hora mais longa de sua vida. Quando o rapaz do RX voltou e entregou o envelope
com o resultado, as duas primas voltaram ao consultório médico, que estava
ocupado novamente. Teriam que esperar mais um pouco.
Finalmente o médico pegou as
radiografias e disse que era o que ele havia pensado: uma luxação sem fratura.
Para ele parecia simples e em seguida chamou dois enfermeiros, dizendo que iria
fazer uma redução. Maura tremeu de medo, pois se lembrou do braço de seu irmão
quando ele caiu da bicicleta; ela quase chorou de angustia. Entretanto,
aceitava qualquer coisa em troca daquela dor horrível.
Todos foram à sala ao lado e o médico pediu que Maura se
deitasse na maca.
– Parece que estou indo para o
matadouro. Gemeu a moça inconsolável.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.