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sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

"PARA O CAMINHO: LUZ. PARA A VIDA: FORÇA. PARA O AMANHÃ: FÉ. E PARA TOMAR O CONTROLE DE TUDO: DEUS". AUTOR DESCONHECIDO

OLHAI POR NÓS!
CAPÍTULO CINCO
             A moça não encontrava posição no banco do automóvel, de um jeito que não doesse muito o braço suspenso sobre a cabeça e seguro com a outra mão. Maura gemia e rezava ao mesmo tempo; a dor era insuportável, dizia a cada solavanco. Mas, o pior era quando o veículo passava em algum buraco, que não eram poucos ou em alguma lombada; a moça se encolhia toda e gemia como se fosse um lamento.

           Chovia muito e parecia que nunca chegariam ao destino; Maura estava desesperada, nunca imaginara tamanha dor.

            - Eu vou morrer, ela balbuciou entre lágrimas, estava no limite suportável da dor com aquele braço destroncado.

              Érica pisou fundo no acelerador, não sabia o que fazer para ajudar a prima. Então, por não saber o que dizer, rezou silenciosamente; precisavam de ajuda. E, ao avistar uma Igreja ela implorou aos céus:

             - Olhai por nós...

            O resto do percurso foi feito em silêncio e quando avistaram a Unidade de Pronto Atendimento, ambas suspiraram aliviadas; o socorro estava próximo.

              Maura estava em uma situação tão terrível que não se importava com nada ao seu redor. Érica parou o automóvel na entrada da emergência e logo apareceu um enfermeiro com uma cadeira de rodas, para levar a paciente para dentro. Entretanto, ela desceu e foi andando ignorando a cadeira, queria movimentar o corpo o menos possível. Queria encurtar aquele sofrimento, que a estava enlouquecendo.

             Mesmo sendo prioridade, por causa do trauma, teria que aguardar a enfermeira fazer a triagem; havia muitos casos graves naquele local. Inquieta e apreensiva, a paciente sentou-se em uma cadeira para esperar a sala ser liberada. Érica ficou na recepção fazendo a ficha e Maura curtindo o seu calvário, segundo ela mesma. Não foi possível verificar a pressão, pois, as duas mãos estavam impossibilitadas sobre a cabeça da paciente.

            Mais uma vez deveria aguardar o médico chamar. Aqueles foram os minutos mais longos já vividos. A paciente queria se deitar, estava exausta, mas o calvário ainda tinha outra estação; o temido Raio X. O médico, um jovem residente de nome Nassif, ouviu a sua explanação sobre o ocorrido sem mexer nenhum músculo do rosto e disse que precisava do RX.  Com muita calma e objetividade árabe informou que não daria nenhuma medicação para dor, pois, não adiantaria nada.

              Mais dez longos minutos em frente ao RX, mesmo tendo passado na frente de alguns pacientes, que apresentavam menor gravidade, a espera parecia uma eternidade. Nada poderia ser pior do que aquela dor insuportável, nem a dor da menina que caiu da bicicleta e arrancou grande parte do músculo do braço e, que também aguardava atendimento.

           A hora que a paciente entrou na sala de RX ela não imaginava que teria outra prova de resistência. O técnico de RX pediu para abaixar o braço. Isso soou como uma ofensa e Maura gemeu fundo, seria impossível mexer naquele membro.

          – Não consigo, doe muito, por favor não me peça isso.

- Eu sei que dói, muitos homens choram diante desta máquina, mas se você não abaixar, o médico virá aqui e o fará. Disse o rapaz com a placa de RX nas mãos.

A moça não tinha saída e com a morte no coração abaixou o braço. A dor foi a mais lancinante do mundo e quando levantou o braço novamente, estava pálida e suando em bicas. E, para complicar ainda mais, precisou bater outro RX, porque aquele não ficou bom; o martírio não tinha fim.

             Mais de uma hora já havia decorrido desde que acontecera o acidente e ela continuava do mesmo jeito. Aquela fora a hora mais longa de sua vida. Quando o rapaz do RX voltou e entregou o envelope com o resultado, as duas primas voltaram ao consultório médico, que estava ocupado novamente. Teriam que esperar mais um pouco.

             Finalmente o médico pegou as radiografias e disse que era o que ele havia pensado: uma luxação sem fratura. Para ele parecia simples e em seguida chamou dois enfermeiros, dizendo que iria fazer uma redução. Maura tremeu de medo, pois se lembrou do braço de seu irmão quando ele caiu da bicicleta; ela quase chorou de angustia. Entretanto, aceitava qualquer coisa em troca daquela dor horrível.

             Todos foram à sala ao lado e o médico pediu que Maura se deitasse na maca.

           – Parece que estou indo para o matadouro. Gemeu a moça inconsolável.


Um texto de Eva Ibrahim. Continua na próxima semana.
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