O
SEMIDEUS
UMA NOITE ESCURA
CAPÍTULO
UM
A escuridão já tomava conta do ambiente, não
havia nem mesmo a luz da lua para nortear os caminhos. O tempo nublado
acobertava até as estrelas e, a escuridão se apresentava severa naquela região
de pequenos sítios e chácaras. Lá ainda não havia chegado a energia elétrica e
nem a água encanada; a vida era simples e as pessoas tementes a Deus.
Nas casas já brilhavam as lamparinas
de querosene e todas as crianças se recolhiam para o jantar. No entanto, Tereza,
a mãe de Benjamim estava aflita, não sabia o motivo da demora do menino. Ele tinha apenas treze anos e saíra a cavalo
dizendo que iria a casa de Saulo, que ficava a cerca de três quilômetros dali.
Combinara com o colega, que iriam fazer o dever de matemática juntos. Benjamim
deixara sua casa logo após o almoço e já deveria estar de volta.
Tereza estava com o
coração apertado, não saberia dizer quantas vezes havia pedido para Deus
guardar seu filho. Ficara esperando o marido chegar da cidade, para procurar o
menino. Benjamim estava acostumado com o
animal e nunca se atrasava; era um menino obediente. E, prometera à sua mãe,
que chegaria em casa antes do pôr do Sol. Montava um cavalo manso, o Corisco, que
trotava com o menino aonde quer que ele fosse, eram amigos.
A mãe estava na porta quando Dirceu,
o pai, adentrou ao portão. Tereza foi logo despejando sua preocupação e pedindo
para ele ir procurar o menino.
O homem franziu a testa e em seguida,
tomou um gole de café, pegou um farolete, chamou o filho mais velho para
acompanha-lo e saíram em meio a escuridão. Iriam a pé, pois os animais poderiam
cair em alguma valeta e dar mais trabalho.
A família era composta de cinco pessoas:
pai, mãe, Rui, Benjamim e Marília, com quinze, treze e onze anos de idades.
Gente boa e modesta, viviam da terra e criavam alguns animais para uso e outros
para a alimentação da família. Os filhos frequentavam a escola rural, que havia
na região. O transporte usual era o cavalo, a charrete ou a bicicleta. Não
havia carros por ali, era artigo de luxo.
Pai e filho foram à casa de Saulo,
que assustado, disse:
- Benjamim saiu daqui faz duas horas, o Sol
ainda brilhava no céu.
Dirceu ficou pálido, precisou ser
amparado, quase desmaiou.
- Deve ter acontecido alguma
desgraça, Benjamim é muito responsável.
Então, depois de um copo de água
servido ao homem abalado, o pai de Saulo se prontificou a acompanhar o vizinho
nas buscas. Percorreram o caminho que o menino deveria fazer para regressar à
casa. Pararam em todas as casas em busca
de notícias do menino, mas nada conseguiram.
Já tarde da noite e ainda continuavam
as buscas A situação era desesperadora, a cada hora que passava a tensão
aumentava e o grupo também. Alguns homens se uniram ao pai nas buscas do
pequeno Benjamim.
Andaram por todos os lugares da
região e nada encontraram na escuridão da noite. Quando todos já estavam desolados
e o Sol surgia no horizonte, puderam avistar o Corisco ao longe. O cavalo
estava em pé a beira de um barranco, a uns duzentos metros da estrada. Então, se
aproximaram esperançosos de encontrar Benjamim.
O menino estava caído em meio a algumas pedras
no fundo do barranco. Tinha um ferimento na perna com uma fratura exposta.
Trataram de retirar o menino dali e
leva-lo para o Hospital da vila mais próxima. A carroça corria pelas estradas
de terra levando o menino assustado e com dores. Estivera na friagem do tempo a
noite toda e precisava de cuidados urgentes.
No caminho, o menino contou que
encontraram uma cobra na volta para casa.
O cavalo se assustou, corcoveou e fugiu em desabalada carreira,
derrubando-o no barranco, quando parou repentinamente.
A cobra se afastou, mas o cavalo ficou
ali guardando o companheiro, parecia desolado pelo acontecido. Era um amigo
para todas as horas.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa